A infância é uma época da qual me lembro com muito carinho, por todos os aspetos nos quais a memória não me falha. A simplicidade das brincadeiras, a alegria de quem não reconhece o
perigo, a ignorante felicidade, a inocência irresponsável e no rosto um
sorriso despreocupado. Durante esse período da vida tudo era feliz, toda
a família emanava uma aura alegre e tão cheia de vida, guardo tudo isso
com saudade, saudade do que já não volta. Agora, descobri que muitas
vezes essa felicidade não era genuína, existiam sempre aspetos que
manchavam de preocupação e tristeza a sua pureza, e que essa máscara
serviu para nos proteger, a nós rebentos, do mundo cá fora.
Hoje olho para trás e vejo que é verdade que só damos valor às pessoas
quando as perdemos, que quando as queremos valorizar, já é tarde, a vida
ensinou-me isso cedo, na altura ideal acredito; no entanto, isso não
anula a dor e o sofrimento que senti, e que vi ser sentido, um dos
momentos mais marcantes desses dias foi ver o meu pai a chorar, pela
primeira vez, aos seis anos de idade; lembro-me de estar em casa,
sozinho, deitado na cama, à espera, preparando-me para o inevitável. Eu
sabia o que se estava a passar, foi tudo tão claro, assim que ouvi o
carro a chegar, levanto-me, eu e a minha esperança de que tudo estivesse
bem; assim que a porta se abre, esperança era a última emoção que me
apareceria no pensamento, lembro-me das exatas palavras que abandonaram a
boca da minha mãe, de voz destroçada, porque o meu pai não tinha forças
para falar: "Diogo, o avô já não está mais connosco", e foi naquela
idade, neste dia, neste instante, que eu aprendi que não era tudo
alegrias.
Apesar de ao virar de cada esquina se esconder uma
desgraça, a infância é isso mesmo, aprender a superar a dor com os meios
que temos. E no final do dia, posso olhar novamente para trás e dizer
que fui feliz, e sou feliz ao relembrar-me destes obstáculos que
ultrapassei no meu percurso, que me tornam no que sou hoje e no "que só/
hoje sei que fui"
Diogo Fernandes, 12º A
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