REFLEXÕES DO POETA
(trabalhos de grupo)
Um sítio para ler, escrever, pensar sobre livros, escritores, temas de atualidade, dirigido sobretudo aos alunos de Português do ensino secundário.
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Tanto de meu
estado me acho incerto,
Que em vivo ardor
tremendo estou de frio;
Sem causa,
justamente choro e rio,
O mundo todo
abarco e nada aperto.
É tudo quanto
sinto, um desconcerto;
Da alma um fogo
me sai, da vista um rio;
Agora espero,
agora desconfio,
Agora desvario, agora
acerto.
Estando em terra,
chego ao Céu voando;
Numa hora acho
mil anos, e é jeito
Que em mil anos
não posso achar uma hora
Se me pergunta
alguém por que assim ando,
Respondo que não
sei; porém suspeito
Que só porque vos
vi, minha Senhora.
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Ondados
fios de ouro reluzente,
Que,
agora da mão bela recolhidos,
Agora
sobre as rosas estendidos,
Fazeis
que a sua beleza s’ acrescente;
Olhos,
que vos moveis tão docemente,
Em
mil divinos raios encendidos,
Se
de cá me levais alma e sentidos,
Que
fora, se de vós não fora ausente?
Honesto
riso, que entre a mor fineza
De
perlas e corais nasce e perece,
Se
na alma em doces ecos não o ouvisse!
Se,
imaginando só tanta beleza,
De
si em nova glória a alma se esquece,
Que
será quando a vir? Ah! Quem a visse!
Luís de Camões
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