1. Os traços caracterizadores do passado, tal como é evocado pelo sujeito poético, surgem associados a um tempo de serenidade e brandura - «suave, todo o passado», de aconchego afetivo - «O terceiro-andar das tias», de calma - «sossego de outrora, /Sossego de várias espécies». Tudo é agora percecionado como «bom e a horas», num estar certo e seguro, ausente do tempo presente - «hoje morto». Todas estas evocações ganham sentido com a caracterização que o poeta faz da infância, associada à leveza da inconsciência - «A infância sem o futuro pensado», por contraste com o presente.
2. A cantilena inicial, lembrança de possível canção de embalar da infância, nos seus quatro versos de redondilha associados a um quadro de serenidade e embalo, com o uso do diminutivo «barquinha», depois reforçada pelo desamparado verso 13 - «Que noite serena, etc.», num momento do poema já associado ao presente, remetem para um motivo comum no ortónimo - uma canção, uma música, um som - que presentificam o passado, como em «Pobre velha música», recordação vaga, simultaneamente doce e nostálgica ou dolorosa, porque de um tempo para sempre perdido.
3. (O importante seria a forma de responder; associar à temática referida, à dor e nostalgia de constatar a perda desse bem...; necessidade de esquecer - Lembro-me mas esqueço)
4. Por contraste com a imagem rememorada desse passado, o presente é marcado pelo desassossego, a falta de «De um bem e de um a-horas próprio», a nostalgia de um tempo de suavidade, num tempo de desamparo e dúvida - «Meu Deus, que fiz eu da vida?»; os vocábulos associados ao presente são negativos e desperançados - «hoje morto» (o «bem») e a repetição do sentimento de dor, no verso 13. A explicação está no último verso - «Por amor de Deus, parem com isso dentro da minha cabeça.», excesso de dor causada pelo «pensar» intromissor e involuntário («parem com isso»), que contrasta com a caracterização do tempo querido da infância.
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