Sê plural como o Universo!
Escultura de Joana Vasconcelos
Foto - Noémia Santos
“E, de repente, (...)surgiu-me impetuosamente um novo indivíduo: Num jacto, e à máquina de escrever, sem interrupção nem emenda, surgiu a Ode Triunfal de Álvaro de Campos – a Ode com esse nome e o homem com o nome que tem.” Fernando Pessoa (na carta a Adolfo Casais Monteiro)
Num mundo completamente novo, totalmente desconhecido dos antigos, como escreve na "Ode Trinfal", a poesia tem de traduzir tal mudança.
À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
Assim:
- Contra a tradição, o saudosismo e a melancolia, há que valorizar o novo, o emergente, o dinamismo, a acção
- Exaltar o mundo moderno e as suas conquistas: máquinas, obras de engenharia, movimento, voragem, velocidade
- Retratar o espaço urbano, por excelência – cidades, ruas, avenidas, portos, cafés, teatros...
- Num mundo pleno de sensações novas e intensas e de planos que se cruzam/ interceptam, a arte tem de traduzir essa febre, essa voragem
- A linguagem – nas artes plásticas e na literatura procura traduzir estas realidades novas, este mundo belo à sua maneira – uma beleza “totalmente desconhecida dos antigos”
No caso de Fernando Pessoa/Álvaro de Campos, de acordo com os preceitos do futurismo, encontramos as marcas poéticas seguintes:
Formas livres ou adopção livre de formas clássicas, como a ODE
Métrica: Verso longo, por vezes de várias linhas, o que imprime um ritmo e cadência frenético, excessivo
Rima: Verso branco ou solto
Versos inteiros de onomatopeias, interjeições ou caracteres tipográficos diversos, em jogo gráfico... “EH-EH-EH-EH-EH-EH-EH-EH-EH-EH-EH !”
Linguagem
Vocabulário prosaico, ligado aos objectos e acções do quotidiano industrial, urbano, da civilização moderna: lâmpadas eléctricas, êmbolos, correias de transmissão, guindastes, carvão; ranger, girar, ferrear
Versos inteiros constituídos por enumerações de objectos: “Galdropes, escotilhas, caldeiras, colectores, válvulas”
Recursos expressivos fundamentais para traduzir as imagens, os ruídos, o movimento, o “excesso de sensações” da vida contemporânea:
Descrições ligadas aos sentidos/às sensações (SENSACIONISMO) - Visão, Audição, Gosto, Olfacto, Tacto -
Reiterações e Anáforas – para expressar a mecanização, a repetição; para acentuar uma cadência/ritmo mecânico
Recursos expressivos fundamentais para traduzir as imagens, os ruídos, o movimento, o “excesso de sensações” da vida contemporânea:
Descrições ligadas aos sentidos/às sensações (SENSACIONISMO) - Visão, Audição, Gosto, Olfacto, Tacto
Reiterações e Anáforas – para expressar a mecanização, a repetição; para acentuar uma cadência/ritmo mecânico
Onomatopeias e Aliterações – sobretudo para traduzir os ruídos, as dinâmicas da maquinaria – “Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z!”; “...trópicos humanos de ferro e fogo e força”
Interjeições – “Eh-lá-hô”, “Ah”, “Hup lá” – associadas à ideia do canto/da ode, da exaltação deste novo mundo
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