Total visualizações

25 março 2021

Opinião - atividade física e bem-estar

Colaboração interdisciplinar - planeamento, bibliografia e abordagem científica - Educação Física. Género textual, estrutura e expressão escrita - Português

LER AQUI ARTIGO DO JORNAL PÚBLICO  

   "A linha ténue entre a aceitação corporal e a glamourização da obesidade"

A relação entre a atividade física e o nosso bem-estar (físico e psicológico) 


                                                                     

A aceitação corporal é um tema que gera bastante discussão, onde cada um pode ter a sua opinião consoante aquilo que vive ou que sente, principalmente nos dia de pandemia que hoje vivemos. No entanto, é preciso definir-se um limite entre o estar bem consigo próprio e o louvar da obesidade. 

Apesar do esforço que a comunicação social tem feito para demonstrar que todos somos diferentes e que todos podemos ser felizes com o corpo que temos, estamos a entrar num conceito extremista. Deixámos de publicitar comportamentos saudáveis (mesmo que tais fossem vistos por muitos como inatingíveis) e passámos a promover o Índice de Massa Corporal (IMC) não só abaixo de 18,5kg/m2 (baixo peso) mas também acima de 30kg/m2 (obesidade).  

Por muito que se queira demonstrar que ser obeso é ser saudável, desde que nos sintamos bem connosco, os números não mentem. As taxas de internamento e mortalidade por covid-19 são superiores em pessoas obesas, sendo este um dos principais fatores de risco para a necessidade de hospitalização. Os problemas relacionados com a obesidade muitas vezes não podem ser resolvidos com a prática de exercício físico, até porque pessoas obesas ativas possuem, geralmente, mais problemas de saúde que as pessoas com IMC adequado mas sedentárias. É verdade que a atividade física pode reduzir o risco de doenças cardiovasculares e mortalidade mas esse risco será sempre maior para um obeso relativamente ativo comparando com um sedentário com peso adequado. 

Assim, mais importante que avaliar o estilo de vida de cada um, é controlar o IMC, a % de massa gorda e a gordura visceral, para que não só nos sintamos bem com o nosso corpo, como também estejamos saudáveis. 

A atividade física não deve ser vista como algo apenas lúdico, uma vez que apresenta uma grande seleção de contributos para o nosso bem-estar. Não só as crianças, os adolescentes e os adultos como também os idosos e pessoas com deficiências devem integrar a atividade física no seu dia-a-dia, quer seja uma exaustiva corrida ou uma divertida dança. O exercício físico além de nos ajudar a sermos saudáveis proporciona-nos uma sensação de felicidade que se deve às hormonas que o nosso corpo produz durante a prática desportiva. As hormonas (substâncias produzidas nas glândulas endócrinas que serão lançadas diretamente na corrente sanguínea) que nos provocam esta sensação de bem-estar, são as chamadas hormonas da felicidade: a dopamina, a oxitocina, a serotonina e a as endorfinas. A deficiência destas hormonas pode causar ansiedade, falta de motivação, alterações de humor, insónias, entre outros pelo que devemos praticar exercício físico regularmente, meditar, socializar e criar/experienciar coisas novas para aumentarmos os nossos níveis de hormonas e consequentemente sentirmo-nos bem e felizes. 

Concluindo, não é através da repreensão exaustiva e proibição das comidas pouco saudáveis que conseguimos ajudar o próximo e ajudarmo-nos a nós próprios. Em vez de críticas destrutivas, devemos optar pelo reconhecimento do problema e procurar soluções que se adequem a cada um de nós e que nos façam produzir as nossas hormonas da felicidade para que estejamos felizes e saudáveis. Na minha opinião, não temos de encaixar nos moldes de beleza predefinidos pela sociedade; no entanto, também não devemos, nem podemos, atingir valores demasiado elevados de IMC, de massa gorda ou de gordura visceral e aceitá-los porque é algo diferente. Temos de ser saudáveis e praticar exercício físico para que nos sintamos bem física e psicologicamente. 

 

 Ema Conceição, 12º A

 

  

Créditos da imagem: Jornal PÚBLICO.

A Arte de Morrer Longe, de Mário de Carvalho | O Humor na Literatura

Eça de Queirós, ALVES & Cª. - O Humor na Literatura

19 março 2021

MEMORIAL DO CONVENTO - "Conto a minha história, por ser diferente e cativante" (Memórias de Blimunda)

Memórias de Blimunda 

Eu, Blimunda, mais conhecida por «Voadora»1, sou a personagem central de um Romance, do Romance vivido com o grande e eterno amor da minha vida, vida essa muito atribulada e atípica. Para o caso de ainda não ter sido redigida tal coisa, assim como outrora nunca fora imaginada, fica aqui assente, através dos meus olhos que tudo vêm e que lá no alto, no céu, já estiveram e uma Passarola já construíram.  

Conto a minha história, por ser diferente e cativante, talvez até por já ter experienciado um pouco de tudo, e aproveito para homenagear os que comigo também voaram, por um destino incerto. “Ao menos deixemos os nomes escritos, é essa a nossa obrigação, só para isso escrevemos, torná-los imortais”2, foi esta beleza oculta da literatura que me fez querer aprender a escrever, tarde aprendi, é certo, mas posso agora imortalizar os que vão no meu coração e me deixaram as suas vontades…    

 

Tudo começou no dia em que conheci o meu eterno amor. Curiosamente, foi um dos melhores e piores dias da minha vida. Foi o dia em que me apaixonei! Era eu uma inocente jovem de 19 anos que da vida pouco sabia, estava num Auto de Fé a ver passar a procissão dos sentenciados, onde por instinto primordial ou sinal maternal, dirigi-me ao alto homem que ao meu lado se encontrava, ele que no meio de tanto vigor e efusividade não revogava a sua postura serena, e perguntei-lhe, “Que nome é o seu?”3. Um segundo por favor. Já está, já passou, este foi o segundo que demorou a criar uma conexão afetiva e espiritual entre nós que até hoje permanece indelével. Ele respondeu-me, Baltasar Mateus, também me chamam Sete-Sóis.”3 

 

Ainda choro este dia? Sim! Um dia tão estranho que levou tudo o que eu tinha dando-me tudo o que tenho. Neste dia saí de casa acompanhada por um amigo e que para sempre amigo permanecerá, também ele pouco vulgar e deveras prosaico, era padre e chamava-se Bartolomeu. Veio por mim e por minha mãe que estava a passar ao pé de mim, tão perto, tão perto, e tão distante como nunca distantes tínhamos estado antes. Pois é, a minha mãe era uma das inúmeras injustas sentenciadas, razão pela qual nada lhe pude dizer senão sussurrar ao padre, Ali vai minha mãe”3. Foi degradada para sempre da minha vida, nunca mais a vi. 

 

As pessoas olham de lado. É verdade, sempre olharam e olharão, está nos genes desta gente mesquinha que só de olhar não se serve, sem pelo menos passar pelos excessos que fazem a “pocilga que é Lisboa”4. Sempre me senti diferente, a minha visão do mundo não é como a dos outros, nunca julguei nem critiquei ninguém. As pessoas mais simples, criticam o Rei (D. João V) pela ostentação e desperdício em luxúrias, no entanto, em toda a minha pobreza sentia que até sua alteza me olhava com inveja. Mas este será provavelmente o único com razão para tal, pois com um soldado maneta me juntei e sem nenhum tipo de acordos contratuais fui mais feliz que que nossa majestade nas suas variadíssimas tentativas cerimoniais.  

 

Tenho uma opinião distinta, eu sei. Eu avisei que a minha visão do mundo era diferente, o que não contei é que “Eu posso olhar por dentro das pessoas”5 e das coisas, não é preciso ficar tão incrédulo como o meu Baltasar ficara. Agora sou conhecida como a «Voadora», mas a minha primeira alcunha foi-me dada pelo padre Bartolomeu, que na altura enunciara, “tu serás Sete-Luas porque vês às Escuras”6.   

 

Todos somos singulares à nossa maneira, eu tenho apenas algo sobrenatural, cuja tamanha capacidade não requer preocupação, porque “Não vejo se não estiver em jejum”5. Ainda assim, este meu dom tem tanto de bom quanto de mau… Ai, as coisas que já vi, horrendas, atormentadas, mas também este dom me permitiu ajudar a construir a barca voadora a que se chamou Passarola, pois conseguia “inspecionar a obra feita, descobrir a fraqueza escondida do entrançado, a bolha de ar no interior do ferro”7 e recolher as duas mil vontades que nos permitiram voar. Isto foi durante a epidemia, tantas recolhi que adoeci, mas com a música de um outro amigo de nome Domenico Scarlatti, nutrida novamente fiquei. 

 

A vida é só uma e toda ela cheia de altos e baixos. Basta olhar para mim, encontrei o amor da minha vida, amei-o incondicionalmente, perdi-o e reencontrei-o no seu momento final para recolher a sua vontade, estive às portas da morte, mas fui salva pela harmonia de um dos maiores músicos do meu século. Já me tentaram violar razão pela qual acabei por matar esse homem que caiu na tentação de tal monstruosidade, e era ele frade, mas coisas tristes não especificarei agora que estou inspirada. Já voei e vi o famoso convento de Mafra crescer do zero, vi por dentro e por cima.  

 

Reparei agora que já fiz de quase tudo. Sei que vivi uma vida plena e extraordinária. Posso afirmar que O céu é o limite!  

 

Bruno Azevedo, 12º B

 

Referências Bibliográficas 

1 – Capítulo XXV, p.396 

2 – Capítulo XIX, p.266 

3 – Capítulo V, p.56 

4 – Capítulo III, p. 30 

5  Capítulo VIII, p. 81 

6 – Capítulo IX, p.96 

7  Capítulo IX, p.96