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20 dezembro 2023

Ricardo Reis - o poeta da serenidade, da aceitação do destino e da calma lucidez

Retomamos, aqui, o material de apoio ao estudo dos heterónimos, para relembrar RICARDO REIS.

Para a abordagem da poesia dos heterónimos de Fernando Pessoa, não esqueçam os apoios: 

Ricardo Reis - «biografia» e características

Ricardo Reis - conceitos; linguagem e estilo 

Ricardo Reis - vídeo de apoio (ed. Santillana)

(...)

(Quadro do pintor Costa Pinheiro)

 

19 dezembro 2023

O Ano da Morte de Ricardo Reis - A Europa e o mundo no séc. XX


Alberto Caeiro, poemas escolhidos

Aqui ficam alguns dos poemas de Alberto Caeiro selecionados, lidos e analisados pelos alunos das nossas duas turmas.

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"Eu nunca guardei rebanhos"

"O luar quando bate na relva" 

 "O meu olhar é nítido como um girassol"


Quando vier a Primavera,

Se eu já estiver morto,

As flores florirão da mesma maneira

E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.

A realidade não precisa de mim.

 

Sinto uma alegria enorme

Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.

 

Se soubesse que amanhã morria

E a Primavera era depois de amanhã,

Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.

Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?

Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;

 

E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.

Por isso, se morrer agora, morro contente,

Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.

Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.

Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.

O que for, quando for, é que será o que é.

7-11-1915

“Poemas Inconjuntos”. 

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Num dia excessivamente nítido,

Dia em que dava a vontade de ter trabalhado muito

Para nele não trabalhar nada,

Entrevi, como uma estrada por entre as árvores,

O que talvez seja o Grande Segredo,

Aquele Grande Mistério de que os poetas falsos falam.

 

Vi que não há Natureza,

Que Natureza não existe,

Que há montes, vales, planícies,

Que há árvores, flores, ervas,

Que há rios e pedras,

Mas que não há um todo a que isso pertença,

Que um conjunto real e verdadeiro

É uma doença das nossas ideias.

 

A Natureza é partes sem um todo.

Isto e talvez o tal mistério de que falam.

 

Foi isto o que sem pensar nem parar,

Acertei que devia ser a verdade

Que todos andam a achar e que não acham,

E que só eu, porque a não fui achar, achei.

s.d.
 “O Guardador de Rebanhos”
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XXI

Se eu pudesse trincar a terra toda

E sentir-lhe um paladar,

E se a terra fosse uma coisa para trincar

Seria mais feliz um momento...

Mas eu nem sempre quero ser feliz.

É preciso ser de vez em quando infeliz

Para se poder ser natural...

 

Nem tudo é dias de sol,

E a chuva, quando falta muito, pede-se.

Por isso tomo a infelicidade com a felicidade

Naturalmente, como quem não estranha

Que haja montanhas e planícies

E que haja rochedos e erva...

 

O que é preciso é ser-se natural e calmo

Na felicidade ou na infelicidade,

Sentir como quem olha,

Pensar como quem anda,

E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,

E que o poente é belo e é bela a noite que fica...

Assim é e assim seja...

7-3-1914
 “O Guardador de Rebanhos”
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XXVII

Só a Natureza é divina, e ela não é divina...

 
 Se às vezes falo dela como de um ente

É que para falar dela preciso usar da linguagem dos homens

Que dá personalidade às coisas,

E impõe nome às coisas.

 

Mas as coisas não têm nome nem personalidade:

Existem, e o céu é grande e a terra larga,

E o nosso coração do tamanho de um punho fechado...

 

Bendito seja eu por tudo quanto não sei.

Gozo tudo isso como quem sabe que há o sol.

s.d.
 “O Guardador de Rebanhos”
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Imagens: https://www.google.com/search

18 dezembro 2023

Fernando Pessoa e Frederico Garcia Lorca

 Por ocasião da visita de dois professores espanhóis à nossa aula, uma pequena lembrança de dois dos maiores poetas das nossas literaturas.

Bienvenidos, professores Cláudio e Pablo!


(1888-1935)
A espantosa realidade das coisas

É a minha descoberta de todos os dias.

Cada coisa é o que é,

E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,

E quanto isso me basta.

Basta existir para se ser completo.

Tenho escrito bastantes poemas.

Hei-de escrever muitos mais, naturalmente.

Cada poema meu diz isto,

E todos os meus poemas são diferentes,

Porque cada coisa que há é uma maneira de dizer isto.

Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.

Não me ponho a pensar se ela sente.

Não me perco a chamar-lhe minha irmã.

Mas gosto dela por ela ser uma pedra,

Gosto dela porque ela não sente nada,

Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.

Outras vezes oiço passar o vento,

E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.

Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto;

Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem esforço,

Nem ideia de outras pessoas a ouvir-me pensar;

Porque o penso sem pensamentos,

Porque o digo como as minhas palavras o dizem.

Uma vez chamaram-me poeta materialista,

E eu admirei-me, porque não julgava

Que se me pudesse chamar qualquer coisa.

Eu nem sequer sou poeta: vejo.

Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:

O valor está ali, nos meus versos.

Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade.

7-11-1915, heterónimo Alberto Caeiro

 

(1898-1936)


Federico García Lorca - Aurora


Em plena “capital do mundo”, o que o poeta constata na urbe é a desolação e a ausência de esperança em seus habitantes, desumanizados pela escuridão, pelo barulho, pela ganância e pela insónia, como se saídos fossem de “um naufrágio de sangue”.

J.A.R. – H.C.



La Aurora

La aurora de Nueva York tiene
cuatro columnas de cieno
y um huracán de negras palomas
que chapotean las aguas podridas.

La aurora de Nueva York gime
por lãs inmensas escaleras
buscando entre las aristas
nardos de angustia dibujada.

La aurora llega y nadie la recibe em su boca
porque allí no hay mañana ni esperanza posible.
A veces las moneda sen enjambres furiosos
taladran y devoran abandonados niños.

Los primeros que salen comprenden com sus huesos
que no habrá paraíso ni amores deshojados;
saben que van al cieno de números y leyes,
a los juegos sin arte, a sudores sin fruto.

La luz es sepultada por cadenas y ruidos
em impúdico reto de ciência sin raíces.
Por los Barrios hay gentes que vacilan insomnes
como recién salidas de um naufragio de sangre.

Central Park - New York
(Leonid Afremov: artista israelense)

Aurora

A aurora de New York tem
quatro colunas de lodo
e um furacão de pombas
que explode as águas podres

A aurora de New York geme
nas vastas escadarias
a buscar entre as arestas
angústias indefinidas

A aurora chega e ninguém
em sua boca a recebe
porque ali a esperança
nem a manhã são possíveis
e as moedas como enxames
devoram recém-nascidos

Os que primeiro se erguem
em seus ossos adivinham:
não haverá paraíso
nem amores desfolhados
só números, leis e o lodo
de tanto esforço baldado

A barulheira das ruas
sepulta a luz na cidade
E as pessoas pelos bairros
vão cambaleando insones
como se houvessem saído
de um naufrágio de sangue


Fonte: https://blogdocastorp.blogspot.com/2017/07/federico-garcia-lorca-aurora.html

11 dezembro 2023

Livros e leitores - A Casa do Boticário, de Adrian Mathews, por B. Roque


Para assinalar a Semana das apresentações no âmbito do PROJETO INDIVIDUAL DE LEITURA, 
aqui fica um exemplo interessante

09 dezembro 2023

José Saramago - a obra, as adaptações ao cinema, teatro e música

José Saramago
1922-2010

Há muitas formas de prestar homenagem a José Saramago, Nobel da Literatura. A meu ver, a melhor homenagem, a mais duradoura,  é ler o que escreveu.

"Creio que falta filosofia à sociedade atual. Filosofia enquanto espaço, lugar, método de reflexão, que pode não ter um objetivo concreto, como a ciência, que avança para satisfazer objetivos. Falta-nos reflexão, pensar, necessitamos do trabalho que é pensar e parece-me que, sem ideias, não vamos a parte nenhuma" (excerto que está patente na abertura do seu blogue "Outros Cadernos de Saramago")
 
Vivemos numa sociedade de informação. O que não vivemos é numa sociedade de informados J. Saramago






J. Saramago escreveu
 
Romance

Terra do Pecado, 1947

Manual de Pintura e Caligrafia, 1977

Levantado do Chão, 1980

Memorial do Convento, 1982

O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1984

A Jangada de Pedra, 1986

História do Cerco de Lisboa, 1989

O Evangelho Segundo Jesus Cristo, 1991

Ensaio sobre a Cegueira, 1995

Todos os Nomes, 1997

A Caverna, 2000

O Homem Duplicado, 2002

Ensaio Sobre a Lucidez, 2004

As Intermitências da Morte, 2005

A Viagem do Elefante, 2008

Caim, 2009 

Obras publicadas a título póstumo: 
 
Clarabóia, 2011
 
Alabardas, Alabardas, Espingardas, Espingardas, 2014
 
 
Poesia

Os Poemas Possíveis, 1966

Provavelmente Alegria, 1970

O Ano de 1993, 1975



Crónica, Ensaio, Conferências, Memórias

Deste Mundo e do Outro, 1971

A Bagagem do Viajante, 1973

As Opiniões que o DL teve, 1974

Os Apontamentos, 1976

A Estátua e a Pedra, 1966

Folhas Políticas (1976-1998), 1999

Saramago na Universidade, 1999

Aquí soy Zapatista, 2000

Andrea Mantegna. Un'etica, un'estetica, 2002

El Nombre y la Cosa, 2006

As Pequenas Memórias, 2006


Viagens

Viagem a Portugal, 1981

Teatro

A Noite, 1979

Que Farei com Este Livro?, 1980

A Segunda Vida de Francisco de Assis, 1987

In Nomine Dei, 1993

Don Giovanni, ou o Dissoluto Absolvido, 2005


Diário

Cadernos de Lanzarote - I, 1994

Cadernos de Lanzarote - II, 1995

Cadernos de Lanzarote - III, 1996

Cadernos de Lanzarote - IV, 1997

Cadernos de Lanzarote - V, 1998

Conto

Objecto Quase, 1978

Poética dos Cinco Sentidos – O Ouvido, 1979

O Conto da Ilha Desconhecida, 1997

A Maior Flor do Mundo, 2001



Saramago e as suas obras no cinema, no teatro e na música
Teatro







Música
 Ópera 
 
 Espetáculo de rua -Teatro + Música
 
Cinema







 

Traduções

A obra de Saramago está traduzida em 42 idiomas| albanês, alemão, árabe, bengali, búlgaro, castelhano, catalão, cantonês, checo, coreano, croata (latino), dinamarquês, eslovaco, esloveno, esperanto, euskara, farsi, finlandês, francês, grego, hebraico, holandês, húngaro, índi, inglês, islandês, italiano, japonês, letão, lituano, malayam, mandarim, norueguês, polaco, romeno, russo, sardo, sérvio (cirílico), sueco, tai, turco e valenciano.

Eis exemplos de capas das edições em Italiano, Alemão e Inglês 



 
 


06 dezembro 2023

Alberto Caeiro - síntese de apoio

 Síntese de apoio







Relação com Ricardo Reis