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26 fevereiro 2021

Entrevista ao neurocientista António Damásio

ENTREVISTA
Antes de submeterem a v/ entrevista AQUI revejam... 

Título

Breve introdução/apresentação do entrevistado e razão da entrevista

Perguntas que permitam ao entrevistado responder aos principais pontos de interesse

Uso do discurso direto

No vosso caso, é ainda obrigatório:

Registar pontos fundamentais da vida de Blimunda, sempre registados na 1ª pessoa.

Usar algumas (6 ou mais) frases de Blimunda incluídas no romance.

Podem usar frases de outras personagens ou do narrador, desde que apareçam referidas pela entrevistada, por ex.,«E Baltasar disse-me que...» ou «O Padre Bartolomeu perguntou-se se eu...»


António Damásio. "As capacidades afetivas são os alicerces da nossa mente"

No seu mais recente livro, Sentir & Saber, explica passo a passo a formação da consciência. E dá exemplos que vão desde as plantas às máquinas que sentem.

António Damásio tem dedicado a sua vida a estudar a anatomia do cérebro e a sua relação com os fenómenos da consciência. A publicação, há 25 anos, de O Erro de Descartes, em que denunciava a sobrevalorização das capacidades cognitivas puras, em detrimento das capacidades afetivas, revolucionou a forma como encaramos a consciência e o conhecimento. Agora, em Sentir &_Saber (ed. Temas e Debates/Círculo de Leitores), regressa a esse tema, explicando passo a passo a história da vida, desde o aparecimento dos primeiros organismos há quatro mil milhões de anos até aos processos cognitivos complexos que têm lugar no nosso corpo. Conversámos com o neurocientista, galardoado com o Prémio Pessoa (em conjunto com a mulher, Hanna) e com o Prémio Príncipe das Astúrias de Investigação Científica e Técnica, à distância, através do skype.

Ainda é cedo em Los Angeles, são dez e meia da manhã. O seu dia de trabalho começa com algum ritual particular?

Não. Começa quando tem de começar. Às vezes, quando tenho ligações com a Europa, começa às seis ou sete da manhã. E não me deito cedo… Mas depende.

Los Angeles é uma cidade que a maioria de nós associa ao mundo do espetáculo e do prazer, e também à criação artística – mas não tanto ao conhecimento. Isto corresponde à realidade ou é apenas uma ideia feita?

É uma ideia feita, e digo-lhe mais: é uma ideia mal feita. [risos] Los Angeles é uma cidade que tem tudo. É um mundo onde existem talvez as mais notáveis universidades de qualquer parte. Tem três grandes universidades internacionais. Uma é a CalTech, o California Institute of Technology, que está ao nível do MIT. Tem também a University of Southern California, USC, que é a minha universidade e é a mais antiga da Califórnia [fundada em 1880]. E tem a UCLA, que faz parte do grande sistema das universidades da Califórnia. Portanto, pelo contrário, aquilo que é mais característico de Los Angeles são grandes instituições de ciência e de humanidades. É claro que aquilo que domina as notícias são as coisas que têm a ver com Hollywood, e Hollywood também está aqui.

E são mundos separados ou tocam-se?

Separados, mas tocam-se nalguns aspetos. Há tanto a grande tecnologia, como o mundo das artes e o mundo das humanidades. Tudo isso está aqui presente. [...]

Gostava que me falasse muito sucintamente sobre as suas aulas. Quem são os seus alunos? São jovens ou investigadores já com um percurso sólido?

Neste momento são praticamente todos investigadores. Eu sou diretor do Brain and Creativity Institute, que é um instituto de investigação científica, e que tem ligado a ele um centro de criação artística com um auditório para música, teatro e cinema. As duas coisas fundem-se. Mas as pessoas que eu treino, que você descreve como os meus alunos…

[...]

In Jornal i, edição de 18/12/20

LÊ AQUI A ENTREVISTA COMPLETA

17 fevereiro 2021

Episódio da epopeia da pedra

René Margritte
O capítulo XIX é consagrado ao transporte de uma enorme pedra de Pero Pinheiro para Mafra (na distância de 15 km), que se prolonga por oito dias. 
 
Memorial do Convento tem uma base histórica, entrecruzada com a ficção, numa visão crítica, como é assumido pelo próprio narrador: em vez da História protagonizada pelas figuras tradicionalmente consagradas pela memória escrita, nomeadas nos livros, a História protagonizada por um povo anónimo. 
 
Afinal: deixar em MEMORIAL o outro lado da História, aquele que costuma ficar no esquecimento: "já que não podemos falar-lhes das vidas, por tantas serem, ao menos deixemos os nomes escritos, é essa a nossa obrigação, só por isso escrevemos, torná-los imortais, pois aí ficam, se de nós depende." (cap. XIX) 

O narrador faz sobressair o esforço e a determinação do povo, elevando-o a verdadeiro herói da obra, resgatando-o do anonimato. 
 
O povo é o herói coletivo que, sacrificado, mal nutrido e miserável, alcança uma dimensão trágica - porque cumpre um terrível destino que não escolheu (cf. com a 1ª epígrafe) - e se eleva acima da condição de «bicho da terra».
 
A gente que transportou esta pedra - e todas as outras pedras - e construiu o convento é o povo anónimo que é arrebanhado e trabalha e sofre às ordens de el-rei, não só para que este possa cumprir a sua promessa mas igualmente como estratégia de afirmação política da sua grandeza e importância. 
 
É um povo miserável, simples e trabalhador, a quem o narrador-autor pretende tirar do anonimato, dando individualidade a várias personagens e também atribuindo-lhe, simbolicamente, um nome para cada letra do alfabeto, numa vontade de o tornar imortal - na memória -  e de o incluir na História de Portugal: «…Alcino, Brás, Cristóvão, Daniel, Egas, Firmino…». (pág. 244)
 
A descrição do transporte da mãe pedra no carro designado por «nau da Índia com rodas» revela as enormes dificuldades da viagem, misturando um tom simultaneamente emocional e humorístico do narrador: 
 
«…vão aqui seiscentos homens que não fizeram nenhum filho à rainha e eles é que pagam o voto, que se lixam, com perdão da anacrónica voz».


Elementos complementares da análise linguística 
(Ver livro e Manual)

Discurso direto
"É a pedra, (...) Nunca vi uma coisa assim em dias da minha vida" - linha 4;
"É a mãe da pedra" - linha 27
....
O discursos direto é sempre um recurso de aproximação do leitor ao narrado, neste caso para "garantir" a veracidade, o caráter testemunhal que o narrador atesta no início. Neste caso, os comentários dos homens, em discurso direto,  dão conta da enormidade da pedra e do espanto que isso causa.

A observação - É a mãe da pedra - tem óbvio significado simbólico (ver texto)

Expressividade dos nomes e adjetivos
"Enorme, uma brutidão de mármore rugoso" - l. 10
"Mãe gigantesca" - l. 29 (importante a simbologia do nome e o adjetivo)

Deíticos temporais "Como ouvimos agora (...) neste instante (l. 12)
Inserem-se no propósito testemunhal, na descrição vívida de «como realmente se passou», tal como os deíticos relativos ao espaço.

Deíticos espaciais "É aqui que virá acostar" - l. 22 "Lá em Mafra" - l. 32

Comentários do narrador
- dão elementos para a compreensão da metáfora da pedra

Enumeração - associada a:
- engrandecimento da tarefa do transporte e das dimensões da pedra
- dignificação do trabalho, através da lista dos instrumentos
- resgate do esquecimento do povo anónimo, através dos nomes dos homens de A a Z

Neste episódio também é muito revelador:
- a descrição das tarefas, dos pormenores do transporte, do esforço físico dos homens e dos animais - o que também revela a dimensão da pedra e a complexidade do empreendimento
- o recursos a interjeições/onomatopeias



R. Margritte

The Royal Building of Mafra is... one, unique and exceptional!

Aqueduto das Águas Livres de Lisboa

Joanina Library

Palácio De Mafra • Lisboa • Portugal | BeSisluxe Tours

15 fevereiro 2021

Beatriz Rosa

Miguel Luz

Madalena Aragão

11 fevereiro 2021

AMOR - Elogio ao amor (crónica de Miguel Esteves Cardoso)

José Saramago e Pilar del Rio

Elogio ao amor

Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo.

O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.

Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo".

O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.

Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?

O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da da, nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. (…) Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar.

O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.

O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.

Miguel Esteves Cardoso, in Expresso


Miguel Vicente Esteves Cardoso (Lisboa, 1955) é um crítico, escritor, tradutor e jornalista português. É filho de pai português e mãe inglesa, e o facto de ser bilingue deu-lhe uma visão distanciada de Portugal e dos Portugueses, tema de muitas das suas crónicas. Licenciou-se e doutorou-se em Inglaterra. Escreveu peças de teatro, dois romances - A Vida Inteira e O Cemitério de Raparigas, letras de canções (para Sétima Legião, Balla), mas é sobretudo conhecido pelas crónicas que tem publicado ao longo dos anos em vários jornais, reunidas em variados volumes como Escrita Pop, Explicações de Português  e A Causa das Coisas
Saiu recentemente a coletânea AS 100 MELHORES CRÓNICAS, das mais de 13 mil que escreveu. 
Também se tem dedicado ao ensaio, à crítica literária e cinematográfica e à tradução.

Imagem - Miguel Esteves Cardoso e Maria João Lopes Pinheiro, jornalista, sua 2ª mulher e o seu «amor da vida».



03 fevereiro 2021

Retorno ao ensino a distância

Sala de aula...do longe se faz perto.

Até 3ª feira!