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26 abril 2019

"Os Lusíadas" - o herói épico

Após a análise do final do Canto I, fica um texto de apoio e um exercício de EXAME.


 Herói esforçado «mais do que prometia a força humana» 
ou «bicho da terra tão pequeno»?

Herói épico e herói mítico
«É chamada herói, na mitologia, toda a personagem que exerceu, sobre os homens e sobre os acontecimentos, uma determinada influência, que lutou com tanta bravura, ou realizou feitos de uma tal temeridade, que se elevou acima dos seus semelhantes, os mortais, e que pôde ousar aproximar-se dos deuses, merecendo assim depois da morte uma veneração e um culto particulares» Dicionário de Mitologia Grega e Romana (Lisboa, Edições 70, 2002)

«Enquanto personagem que se destaca pela excecionalidade com que enfrenta os mais difíceis obstáculos, é natural que o herói esteja irremediavelmente associado à epopeia. (...) É assim que vemos Aquiles, Ajax, Ulisses e muitos outros entregarem-se, durante os combates da guerra de Troia, a autênticos prodígios de habilidade e de coragem. Mas, desde a sua nascença, estes heróis já são diferentes dos homens. Na sua maior parte, eles são filhos de um deus ou de uma deusa de quem recebem, durante a sua existência, ajuda e protecção» (idem). 

Portanto, para os clássicos (literatura greco-latina) e, posteriormente, no Renascimento (em que se tomou o legado greco-latino como referência), o herói acumulava os dois domínios, épico e mítico. Basta pensarmos no herói d´Os Lusíadas (obra do Renascimento) para não termos dúvidas: o perfil deste herói coletivo [evidencia] «todas as capacidades de afirmação do Homem ao enfrentar a adversidade dos deuses e dos elementos» (Biblos, Enciclopédia das Literaturas de Língua Portuguesa, vol. II, Lisboa/São Paulo, Verbo, 1999, p. 1002).»

Na imagem, AQUILES (Brad Pitt), em TROIA

 Ver artigo completo em CIBERDÚVIDAS DA LÍNGUA PORTUGUESA  (sublinhados nossos)


Teste Intermédio 2014

Leia o texto seguinte, constituído pelas estâncias 105 e 106 do Canto I de Os Lusíadas. Em caso de
necessidade, consulte o glossário apresentado a seguir ao texto.

O recado que trazem é de amigos,
Mas debaxo o veneno vem coberto,
Que os pensamentos eram de inimigos,
Segundo foi o engano descoberto.
Ó grandes e gravíssimos perigos,
Ó caminho de vida nunca certo,
Que aonde a gente põe sua esperança
Tenha a vida tão pouca segurança!

No mar tanta tormenta e tanto dano,
Tantas vezes a morte apercebida!
Na terra tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade avorrecida!
Onde pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida,
Que não se arme e se indigne o Céu sereno
Contra um bicho da terra tão pequeno?

Luís de Camões, Os Lusíadas, edição de A. J. da Costa Pimpão, 5.ª ed., Lisboa, MNE/IC, 2003, p. 27

glossário
apercebida (verso 10) – adivinhada, iminente.
necessidade (verso 12) – fatalidade.


1. Relacione a interrogação final (versos 13 a 16) com as exclamações que a antecedem (versos 5 a 12).

2. Explique de que modo a mitificação do herói em Os Lusíadas é ilustrada pelas estâncias transcritas.



19 abril 2019

Textos sobre as Reflexões do Poeta

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Foto The Observer


Canto VI d’Os Lusíadas
Logo nos primeiros quatro versos da estrofe 95 é esclarecida a motivação subjacente a esta reflexão: “Como deve o heroi alcançar a glória?”.

Luís Vaz de Camões começa por enumerar vários aspetos negativos fazendo uso do advérbio de negação “não”, repetindo-o 6 vezes ao longo das estrofes 95 e 96. O uso desta figura de estilo, a anáfora, constitui uma estratégia argumentativa levada a cabo pelo poeta a fim de clarificar as ações, regras e atitudes não dignas da fama. Camões revela a genealogia como um elemento insuficiente para alcançar o estatuto de heroi – “Não encostados sempre nos antigos/Troncos nobres de seus antecessores;” –, obstando a norma atual na época. Ainda, o acesso ao heroísmo é negado quando este é tomado pela via da ociosidade, do conforto e do bem-estar – “Não cos passeios moles e ouciosos,/Não cos vários deleites e infinitos,”.

A estrofe 97 introduz a conjunção adversativa - «mas», que contrapõe as críticas lançadas nas estâncias anteriores a novos exemplos do que deve ser feito para alcançar "honras próprias suas". O poeta releva ações marcadas pelo sofrimento, pelo esforço, pela coragem, pelas atividades bélicas e marinhas – “Vigiando e vestindo o forjado aço,/Sofrendo tempestades e ondas cruas,” –, as quais o escritor considera merecedoras da fama. Profere a advertência de que "as honras e o dinheiro" resultado da sorte («ventura») serão desprezados pelo verdadeiro heroi. Isto porque o sofrimento e o esforço fazem com que o Homem dê mais valor à vida e despreze as honras e a riqueza pelas quais não lutou – “Desprezador das honras e dinheiro,/Das honras e dinheiro que a ventura/Forjou, e não virtude justa e dura.”. As conquistas, que são do heroi por direito próprio, são conquistadas pela sua virtude – “Mas com buscar, co seu forçoso braço,/As honras que ele chame próprias suas;”.

Podemos extrair da estrofe 99 que um eventual heroi terá a recompensa pelo seu valor, graças à experiência dos perigos por que passou.

Emanuel Antunes 12ºA
Luís Gonçalo Gomes 12ºA

25 Outubro, 2011 17:11

Nota sobre a imagem: A foto mostra uma cadela Doberman lambendo um bombeiro, exausto, que tinha acabado de salvá-la de um incêndio. Um fotógrafo do jornal "The Observer"captou a imagem.




"Os Lusíadas" - canto VII, 96, 98 e 99

A reflexão do poeta baseia-se no poder que o dinheiro pode alcançar sobre o homem. A estrofe 96 inicia-se falando dos descobrimentos ("naus") que simbolizavam a fonte de riqueza daquela época; defende-se a ideia de que o dinheiro é inimigo tanto dos ricos como dos pobres, pois "a tudo nos obriga".
Na estrofe 98 do mesmo canto diz-se que o dinheiro trasforma amigos em traidores ("faz tredores e falsos os amigos"), corrompe pessoas de caráter nobre, mulheres ("corrompre virginais purezas") e, na guerra, promove a traição ("entrega Capitães aos inimigos"); corrompe a ciência, a moralidade e consciência.
Na estrofe 99, o poeta transmite a ideia de que o dinheiro altera a interpretação dos textos de acordo com a conveniência, tem interferência nas leis e favorece a mentira ("os perjúrios") e a tirania ("tiranos torna os reis"); até o clero("até os que só a Deus omnipotente/ Se dedicam").
Em síntese: o dinheiro «corrompe» e «ilude», de forma enganadora, pois é «encantador» e apresenta-se com cor/aspeto de «virtude».

Sebastião Pinheiro nº 19
Rui Mendonça nº 16
24 Outubro, 2011 11:51


tredor - o mesmo que traidor.

Imagem em: contasabertas.uol.com.br

17 abril 2019

Grandes Livros : "Os Lusíadas", Luís Vaz de Camões (Parte 2/6)

Vê atentamente. Ao longo da apresentação e/ou final regista alguns dos tópicos e notas informativas relevantes para a compreensão da obra, do autor, do tempo.



Dados sobre o autor, a matéria histórica, a estrutura lógica, a viagem, a época.

10 abril 2019

Camões - quem é?

Com este vídeo ficarás a perceber melhor quem é Camões.

Em 1572, quando são publicados Os Lusíadas, D. Sebastião é um rei adolescente, que dispensara os conselheiros experientes e se rodeara de jovens fidalgos que o não ajudam a tomar as melhores decisões. 

Camões, pelo contrário, é um homem conhecedor, viajado e experiente que vem dizer aos seus contemporâneos verdades inconvenientes. 

 Do nascimento provável em Lisboa, à batalha em Marrocos, ao Oriente e ao regresso a Lisboa: tudo nesta síntese:


TAREFAS
1 - ver o vídeo e tirar notas
2 - organizar as notas para apresentação/discussão em aula

06 abril 2019

Outras visões de "Os Lusíadas"

Ouçamos o poeta e tradutor Vasco Graça Moura, um dos grandes leitores de "Os Lusíadas", obra que  escolheu como o LIVRO DA VIDA



OUTRAS LEITURAS DE O VELHO DO RESTELO 



«Na despedida dos marinheiros na praia do Restelo, um velho “de aspecto venerando” criticava a aventura de buscar o caminho marítimo para as Índias, chamando a atenção para os perigos que rondavam as empreitadas. 
(...)
Mais modernamente, outras visões sobre o Velho do Restelo têm predominado, ligando sua visão crítica ao entendimento de que as novas conquistas na verdade eram movidas mais pela cobiça, e trariam mais prejuízos a Portugal e seu povo do que glórias e benefícios. “Ó glória de mandar/Ó vã cobiça/ A que novos desastres determinas/De levar este reino e estas gentes?”.

O historiador e escritor Alberto da Costa e Silva, membro da Academia Brasileira de Letras, lembra a visão crítica de António Sérgio, que considera o maior intelectual português do século 20, que via o Velho do Restelo não como umas representação do passado, mas do futuro.

Outra académica, Cleonice Berardinelli, considerada a maior especialista em literatura portuguesa, diz que (...) chegou à conclusão de que o inconsciente coletivo da época, que refletia “os medos, as mulheres que ficavam sozinhas, as famílias abandonadas, as lavouras abandonadas por que os homens iam em busca daquele caminho marítimo para as Índias” está retratado muito bem em Os Lusíadas.

Para ela, o Velho do Restelo “é uma figura extraordinária, moderna dentro da criação da epopeia”. Camões, na sua avaliação, “tem uma virtude que o faz ficar nas alturas da criação da épica”, ao conceber uma personagem como o Velho do Restelo, “um homem apaixonado pela Pátria que quer celebrar, até que se dá conta de que ela está metida no gosto da cobiça e na rudeza de uma austera, apagada e vil tristeza”.

Cleonice Berardinelli cita “um grande da literatura portuguesa e um grande pensador de nosso tempo”, o professor e filósofo Eduardo Lourenço, que avalia que Camões nos Lusíadas “começa com uma épica e termina com um réquiem”. Cleonice diz que “era isso que o Velho do Restelo estava lá para lembrar, era uma espécie de consciência coletiva”.

Já o embaixador Alberto da Costa e Silva recorre ao pensador português já falecido António Sérgio, que ressalta que “Camões canta o valor dos portugueses, sobretudo na grande empresa dos descobrimentos e conquistas. Mas por outro lado, dos trechos camonianos mais sentidos é a parte dos Lusíadas em que o Velho do Restelo, com tanta eloquência, se ergue a condenar o próprio feito que sua epopeia celebrava”.

O intelectual português lembra que a simpatia de Camões pelo Velho do Restelo “é evidente”, pois colocou “a crítica da empresa na boca dos mais avisado, do mais filosófico, do mais venerável dos seus heróis”.

Alberto da Costa e Silva lembra que o Velho do Restelo vai dizendo várias coisas que realmente sucederam em Portugal: o esvaziamento demográfico do país devido à ida das pessoas para o Oriente em busca da riqueza fácil; o sacrifício de gerações que acabaram por enriquecer os holandeses e os ingleses; a decadência da agricultura e da manufatura portuguesas.

Como se vê, a oposição pode bem representar uma visão crítica do modelo instalado (...)»

In Jornal GLOBO http://blogs.oglobo.globo.com/merval-pereira/post/visoes-camonianas-500095.html

NOTA - as palavras assinaladas foram alteradas para português europeu. 
 
Aguardo os vosso textos sobre a DEDICATÓRIA ou outros