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14 outubro 2020
Mensagem
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7 comentários:
Anónimo
disse...
O poema "Nevoeiro" faz parte da Mensagem e pertence à secção III da parte III (o Encoberto). É um poema épico, relatando ações heroicas e acontecimentos marcantes da história do país. Relativamente à composição poética, o poema é composto por 1 sextilha, 1 septilha e 1 monóstico com estrutura estrófica ababba / bccddd sendo a rima, na primeira estrofe, cruzada e emparelhada. Nesta primeira estrofe é exposta a situação de Portugal e na segunda as pessoas são caracterizadas como desanimadas e o poeta mostra ter esperança que o país melhore. Os símbolos/sentidos figurados principais dos vários elementos do poema são: a palavra "nevoeiro" que transmite a ideia de esperança ou promessa de voltar um dia; no primeiro verso "Nem rei nem lei, nem paz nem guerra" verificam-se problemas políticos (sem rei); já na segunda estrofe, nos versos "Ninguém sabe que coisa quer. / Ninguém conhece que alma tem, / Nem o que é mal nem o que é bem." o poeta quis dizer que ninguém conhece os seus valores; o último verso do poema "É a Hora" remete para uma mudança e avanço do país. São usados recursos expressivos sendo os principais anáforas como o "nem"(6x) e o "sem"(2x) e o "nada"(1x) , que têm sentido negativo que dão a entender que as pessoas e o país são fracas e frágeis, o paradoxo "brilho sem luz" caracterizando Portugal como triste, sem alma/energia. Fernando Pessoa termina a Mensagem com uma expressão em latim "Valete, Frates", que traduzido para português significa "força, irmãos". No contexto do poema seria um incentivo aos portugueses a lutarem por um país melhor. O título "Nevoeiro" dá a ideia de esperança de algo ou que algo possa mudar. No poema existem elementos como "brilho sem luz"; "incerto" e "disperso" que são características do nevoeiro que se aplicam às situações de Portugal. Este poema faz referência ao D.Sebastião mítico e o que o seu ideal significou (vontade, energia,...). Inicialmente F. Pessoa explica a situação do país e caracteriza as pessoas, usando bastante palavras com sentido negativo em anáfora para reforçar a ideia. Termina o poema a dirigir-se a Portugal em "É a hora" e com a expressão latina "Valete, Frates" para incentivar a mudança no país, sendo a ideia principal e finalidade de Fernando Pessoa o aperfeiçoamento progressivo do ser humano.
O poema "Fernão de Magalhães" situa-se na 2ª parte do livro "Mensagem", sendo o 8º poema dessa parte. O poema tem 4 estrofes, todas as estrofes são sextilhas. Em cada estrofe, a rima é emparelhada nos dois primeiros versos e cruzada nos quatro últimos versos. O poema tem como "herói" Fernão de Magalhães, navegador português que planeou e comandou a primeira viagem à volta do mundo (circum-navegação), que começou em 20 de Setembro de 1519 e acabada em 6 de Setembro de 1522, morrendo numa batalha em Cebu, nas Filipinas durante a expedição. Sendo completada por Juan Sebastian Elcano. O poema fala sobre os Titãs, forças brutas da natureza da mitologia grega, que dançam e festejam a morte de Fernão de Magalhães que queria descobrir o desconhecido, como indicado nas duas primeiras estrofes. Na 3ª estrofe, "Dançam, nem sabem que a alma ousada / Do morto ainda comanda a armada, / Pulso sem corpo ao leme a guiar / As naus no resto do fim do espaço" simboliza a vontade de Fernão de Magalhães, que mesmo depois de morrer a expedição que ele começou foi completada pela sua tripulação, como se ele ainda estivesse a comandar a frota. Na última estrofe, Fernando Pessoa conclui com o Titãs, que dançam e festejam pensando que travaram a expedição e a continuação da mesma. Mário Estêvão 12ºB
O poema “O Mostrengo” é um poema que pertence à parte dois da Mensagem , Mar Português. Este faz parte do Mar Português pois fala sobre o encontro dos portugueses com o Mostrengo, na Mensagem de Fernando Pessoa, ou Adamastor n’ Os Lusíadas de Luís de Camões, aquando a dobragem do Cabo da Boa Esperança, na época dos descobrimentos. Neste poema os portugueses encontram-se com o Mostrengo durante a noite, que juntamente com o mar e até mesmo o próprio Mostrengo representam o mistério e o medo, que aparece voando á roda da nau e lhes pergunta quem são e o que fazem no seu mar. À medida que este encontro se vai desenvolvendo, percebemos através de expressões como “Voou três vezes a chiar”, “De quem são as velas onde me roço” e “escorro os medos do mar sem fundo” que o Mostrengo representa as forças da natureza (como o vento e o mar) que servem de obstáculo aos portugueses e à sua missão, missão essa dada por D. João II. D. João II havia falecido em 1495, mas a viagem da descoberta do caminho para a Índia só começaria em 1497, no reinado de D. Manuel. Com isto percebemos que F. Pessoa quer demonstrar que, mesmo morto, a vontade de D. João II de “querer ir mais além” é levada pelos portugueses e é isso que lhes dá coragem pois no poema o homem do leme, quando questionado pelo Mostrengo sobre “quem é que ousa entrar/Nas minhas cavernas (…) do fim do mundo?” ele diz enquanto treme “El Rei D. João Segundo”. Mais à frente quando questionado uma segunda vez, o homem treme e repete “El Rei D. João Segundo”. Através destas repetições e de “Três vezes do leme as mãos ergueu/Três vezes ao leme as reprendeu” conseguimos compreender a superação e a coragem que o povo português demonstrou perante as forças da natureza e o desconhecido. Este poema é composto por três nonas, tem uma rima emparelhada e cruzada contendo um verso branco no terceiro verso de cada estrofe e, em relação à métrica apresenta versos decassilábicos e versos hexassílabos, octossilábicos e eneassílabos com refrão hexassilábico.
Análise dos poemas “O Desejado” e “António Vieira”
A Mensagem é a única obra publicada por Fernando Pessoa em vida. Esta conta uma história de um grande Portugal, conquistador de tanto mas agora adormecido, esperando pelo momento certo para voltar à sua prévia glória. Pessoa parte de um fundo histórico a que acrescenta qualidades e simbologia míticas. Os dois poemas a serem tratados neste texto, António Vieira e O Desejado enquadram-se na 3ª é última parte de Mensagem, “O Encoberto”, que por sua vez está dividido em três partes: “Os Símbolos”, “Os Avisos”, e “Os Tempos”. O primeiro poema a analisar, O Desejado está incluído n’”Os Símbolos”. É um poema constituído por três quadras cujo esquema rimático é ababcdcdefef (rima cruzada). O três primeiros versos de cada estrofe são decassilabos e o último é um hexassílabo. Neste poema Fernando Pessoa dirige-se a D. Sebastião por meio de uma apóstrofe (“onde quer que […] jazas”, “ergue-te”). Os dois primeiros versos do poema transmitem a ideia do mito e mistério que rodeia esta personagem através do uso das palavras e expressões “entre sombras e dizeres” e “sonhado”. O autor não pretende referenciar D. Sebastião enquanto personagem histórica mas sim enquanto ideia mítica, sendo que a única passagem no poema que remete à pessoa D. Sebastião é “Onde quer que […] jazas, remoto”, referindo-se esta última palavra a batalha de Alcácer-Quibir, local onde D. Sebastião histórico morre e nasce a lenda. Esta ideia é perpetuada pelos dois próximos versos “E ergue-te do fundo de não-seres\Para o teu novo fado”, sendo este fundo um eufemismo para a morte física de D. Sebastião e o erguer para um novo fado um apelo para que prevaleça o mito do homem e carregue este consigo uma nova missão, uma missão como sinal de esperança e iniciativa para o povo português. Na segunda estrofe, o poeta referencia Galaaz, o mais nobre e puro cavaleiro da Távola Redonda, o único capaz de ascender ao seu verdadeiro propósito, obter aperfeiçoamento moral necessário para alcançar o Santo Graal, cálice que Jesus Cristo utilizou durante a Última Ceia. Com esta referência, F. Pessoa passa novamente a ideia que assim como Galaaz o mito de D. Sebastião também tem uma missão superior e divina, neste caso de apaziguar e encaminhar para a glória “A alma penitente” do seu povo. Por fim, na última estrofe, o autor dirige-se a D. Sebastião como “Mestre da Paz”, continuando ainda a sua analogia à lenda arturiana, pedindo-lhe que erga o seu “gládio ungido”, chamando lhe até Excalibur do Fim, um símbolo de força e poder que Pessoa indiretamente atribui à ideologia perpetuada pelo mito de D. Sebastião previamente referido. De seguida o autor refere que esta Luz será revelada “ao mundo dividido”, contemplando os 4 Impérios que fazem o mundo, o Grego, o Romano, o Cristão e o Inglês, representando cada um certos contributos imateriais que deverão, ao ver de F.Pessoa, ser compilados num final e iluminado Quinto Império, sendo esta ideia culminada pela referência ao objetivo máximo da lenda arturiana, o Santo Graal. Este poema denomina-se “O desejado” pois realça o papel de D.Sebastião mítico, simbolo de aventura, de risco, como peça necessária (desejada) para dar forças ao povo português para completar a sua missão. Catarina Martins e Alexandre Umbelino, 12°A
Continuação da análise de poemas O segundo poema a analisar é “António Vieira” e está incluído na segunda subparte “Os Avisos”. Relativamente a sua estrutura, este poema é constituído por três quadras, sendo o seu esquema rimático ababcdcdefef, ou seja, a sua rima é cruzada. Dentro de cada quadra, os primeiros três versos são decassílabos e o último é um hexassilabo. Na primeira quadra o uso das expressões: “teve a fama e a glória tem”, “imperador da língua portuguesa” transmite a ideia de admiração e respeito que o autor tem pelo Padre António Vieira. Através do uso da comparação “Foi-nos um céu também”, Fernando Pessoa realça, novamente, a importância e o papel de Vieira na literatura portuguesa. Na estrofe seguinte, F.Pessoa faz referência as profecias de António Vieira acerca do futuro do mundo. Numa das suas obras, Vieira apoia a ideia, com base em profecias religiosas, da vinda de um Quinto Império, o último da história, unificador dos quatro grandes impérios anteriores. Este Quinto Império seria português e representaria uma nova fase de glória para o povo lusitano. Com a expressão “Surge, prenúncio claro do luar,/ El-rei D. Sebastião”, o autor dá a ideia de que assim como o luar, o mito de D.Sebastião, como símbolo de ambição e de aventura, seria a luz na noite escura, ou seja, seria a ideia que iria guiar o povo português para o seu renascimento como povo dominante e influenciador. D. Sebastião mítico representa todas as qualidades que o povo português necessitaria para conquistar o Quinto Império e segundo António Vieira completar a sua missão. No entanto não é o luar, é algo muito maior, divino, para além da compreensão humana, é a “luz do etéreo”, nesta última quadra, está exposta a ideia de que por forças maiores, os portugueses estão destinados ao Quinto Império (“A madrugada irreal do Quinto império/ doira as margens do Tejo”). Este poema é denominado “Antônio Vieira” pois é dedicado ao padre e escritor português, pelo papel que teve como profeta (aviso) da teoria do quinto império, um futuro português grandioso. Ambos os poemas enquadram-se perfeitamente na 3ª parte de Mensagem, como prenúncio de tudo aquilo que o povo português está destinado a fazer, como profetas de uma missão que começou com os descobrimentos, mas que agora é necessário acabar. O primeiro (“o desejado”) incluído n’”Os Símbolos” demonstra todas as qualidades e necessidades que são precisas para que o povo português cumpra por completo a sua missão e finalmente una o mundo não só fisicamente, através dos mares, mas também espiritualmente por meio de um utópico e final Quinto Império. Já o segundo faz referência a António Vieira, não só como “imperador da língua portuguesa”, melhor escritor da sua época, mas também como importante profeta e anunciador da teoria do Quinto Império, motivo pelo qual este poema está incluído n’”Os Avisos” . Catarina Martins e Alexandre Umbelino, 12°A.
Obrigada pelos vossos contributos. Vou publicar, logo os tenha corrigido. Como habitualmente, não alterarei os vossos textos/leituras; farei as correções da escrita e um ou outro necessário acrescento.
Em aula, veremos, então, a revisão de leitura/interpretação, quando imprescindível.
7 comentários:
O poema "Nevoeiro" faz parte da Mensagem e pertence à secção III da parte III (o Encoberto). É um poema épico, relatando ações heroicas e acontecimentos marcantes da história do país.
Relativamente à composição poética, o poema é composto por 1 sextilha, 1 septilha e 1 monóstico com estrutura estrófica ababba / bccddd sendo a rima, na primeira estrofe, cruzada e emparelhada. Nesta primeira estrofe é exposta a situação de Portugal e na segunda as pessoas são caracterizadas como desanimadas e o poeta mostra ter esperança que o país melhore.
Os símbolos/sentidos figurados principais dos vários elementos do poema são: a palavra "nevoeiro" que transmite a ideia de esperança ou promessa de voltar um dia; no primeiro verso "Nem rei nem lei, nem paz nem guerra" verificam-se problemas políticos (sem rei); já na segunda estrofe, nos versos "Ninguém sabe que coisa quer. / Ninguém conhece que alma tem, / Nem o que é mal nem o que é bem." o poeta quis dizer que ninguém conhece os seus valores; o último verso do poema "É a Hora" remete para uma mudança e avanço do país. São usados recursos expressivos sendo os principais anáforas como o "nem"(6x) e o "sem"(2x) e o "nada"(1x) , que têm sentido negativo que dão a entender que as pessoas e o país são fracas e frágeis, o paradoxo "brilho sem luz" caracterizando Portugal como triste, sem alma/energia.
Fernando Pessoa termina a Mensagem com uma expressão em latim "Valete, Frates", que traduzido para português significa "força, irmãos". No contexto do poema seria um incentivo aos portugueses a lutarem por um país melhor.
O título "Nevoeiro" dá a ideia de esperança de algo ou que algo possa mudar. No poema existem elementos como "brilho sem luz"; "incerto" e "disperso" que são características do nevoeiro que se aplicam às situações de Portugal.
Este poema faz referência ao D.Sebastião mítico e o que o seu ideal significou (vontade, energia,...). Inicialmente F. Pessoa explica a situação do país e caracteriza as pessoas, usando bastante palavras com sentido negativo em anáfora para reforçar a ideia. Termina o poema a dirigir-se a Portugal em "É a hora" e com a expressão latina "Valete, Frates" para incentivar a mudança no país, sendo a ideia principal e finalidade de Fernando Pessoa o aperfeiçoamento progressivo do ser humano.
Henrique Baptista 12ºA
O poema "Fernão de Magalhães" situa-se na 2ª parte do livro "Mensagem", sendo o 8º poema dessa parte.
O poema tem 4 estrofes, todas as estrofes são sextilhas. Em cada estrofe, a rima é emparelhada nos dois primeiros versos e cruzada nos quatro últimos versos.
O poema tem como "herói" Fernão de Magalhães, navegador português que planeou e comandou a primeira viagem à volta do mundo (circum-navegação), que começou em 20 de Setembro de 1519 e acabada em 6 de Setembro de 1522, morrendo numa batalha em Cebu, nas Filipinas durante a expedição. Sendo completada por Juan Sebastian Elcano.
O poema fala sobre os Titãs, forças brutas da natureza da mitologia grega, que dançam e festejam a morte de Fernão de Magalhães que queria descobrir o desconhecido, como indicado nas duas primeiras estrofes.
Na 3ª estrofe, "Dançam, nem sabem que a alma ousada / Do morto ainda comanda a armada, / Pulso sem corpo ao leme a guiar / As naus no resto do fim do espaço" simboliza a vontade de Fernão de Magalhães, que mesmo depois de morrer a expedição que ele começou foi completada pela sua tripulação, como se ele ainda estivesse a comandar a frota.
Na última estrofe, Fernando Pessoa conclui com o Titãs, que dançam e festejam pensando que travaram a expedição e a continuação da mesma.
Mário Estêvão 12ºB
O poema “O Mostrengo” é um poema que pertence à parte dois da Mensagem , Mar Português. Este faz parte do Mar Português pois fala sobre o encontro dos portugueses com o Mostrengo, na Mensagem de Fernando Pessoa, ou Adamastor n’ Os Lusíadas de Luís de Camões, aquando a dobragem do Cabo da Boa Esperança, na época dos descobrimentos.
Neste poema os portugueses encontram-se com o Mostrengo durante a noite, que juntamente com o mar e até mesmo o próprio Mostrengo representam o mistério e o medo, que aparece voando á roda da nau e lhes pergunta quem são e o que fazem no seu mar. À medida que este encontro se vai desenvolvendo, percebemos através de expressões como “Voou três vezes a chiar”, “De quem são as velas onde me roço” e “escorro os medos do mar sem fundo” que o Mostrengo representa as forças da natureza (como o vento e o mar) que servem de obstáculo aos portugueses e à sua missão, missão essa dada por D. João II.
D. João II havia falecido em 1495, mas a viagem da descoberta do caminho para a Índia só começaria em 1497, no reinado de D. Manuel. Com isto percebemos que F. Pessoa quer demonstrar que, mesmo morto, a vontade de D. João II de “querer ir mais além” é levada pelos portugueses e é isso que lhes dá coragem pois no poema o homem do leme, quando questionado pelo Mostrengo sobre “quem é que ousa entrar/Nas minhas cavernas (…) do fim do mundo?” ele diz enquanto treme “El Rei D. João Segundo”. Mais à frente quando questionado uma segunda vez, o homem treme e repete “El Rei D. João Segundo”. Através destas repetições e de “Três vezes do leme as mãos ergueu/Três vezes ao leme as reprendeu” conseguimos compreender a superação e a coragem que o povo português demonstrou perante as forças da natureza e o desconhecido.
Este poema é composto por três nonas, tem uma rima emparelhada e cruzada contendo um verso branco no terceiro verso de cada estrofe e, em relação à métrica apresenta versos decassilábicos e versos hexassílabos, octossilábicos e eneassílabos com refrão hexassilábico.
Análise dos poemas “O Desejado” e “António Vieira”
A Mensagem é a única obra publicada por Fernando Pessoa em vida. Esta conta uma história de um grande Portugal, conquistador de tanto mas agora adormecido, esperando pelo momento certo para voltar à sua prévia glória. Pessoa parte de um fundo histórico a que acrescenta qualidades e simbologia míticas. Os dois poemas a serem tratados neste texto, António Vieira e O Desejado enquadram-se na 3ª é última parte de Mensagem, “O Encoberto”, que por sua vez está dividido em três partes: “Os Símbolos”, “Os Avisos”, e “Os Tempos”.
O primeiro poema a analisar, O Desejado está incluído n’”Os Símbolos”. É um poema constituído por três quadras cujo esquema rimático é ababcdcdefef (rima cruzada). O três primeiros versos de cada estrofe são decassilabos e o último é um hexassílabo.
Neste poema Fernando Pessoa dirige-se a D. Sebastião por meio de uma apóstrofe (“onde quer que […] jazas”, “ergue-te”). Os dois primeiros versos do poema transmitem a ideia do mito e mistério que rodeia esta personagem através do uso das palavras e expressões “entre sombras e dizeres” e “sonhado”. O autor não pretende referenciar D. Sebastião enquanto personagem histórica mas sim enquanto ideia mítica, sendo que a única passagem no poema que remete à pessoa D. Sebastião é “Onde quer que […] jazas, remoto”, referindo-se esta última palavra a batalha de Alcácer-Quibir, local onde D. Sebastião histórico morre e nasce a lenda. Esta ideia é perpetuada pelos dois próximos versos “E ergue-te do fundo de não-seres\Para o teu novo fado”, sendo este fundo um eufemismo para a morte física de D. Sebastião e o erguer para um novo fado um apelo para que prevaleça o mito do homem e carregue este consigo uma nova missão, uma missão como sinal de esperança e iniciativa para o povo português.
Na segunda estrofe, o poeta referencia Galaaz, o mais nobre e puro cavaleiro da Távola Redonda, o único capaz de ascender ao seu verdadeiro propósito, obter aperfeiçoamento moral necessário para alcançar o Santo Graal, cálice que Jesus Cristo utilizou durante a Última Ceia. Com esta referência, F. Pessoa passa novamente a ideia que assim como Galaaz o mito de D. Sebastião também tem uma missão superior e divina, neste caso de apaziguar e encaminhar para a glória “A alma penitente” do seu povo.
Por fim, na última estrofe, o autor dirige-se a D. Sebastião como “Mestre da Paz”, continuando ainda a sua analogia à lenda arturiana, pedindo-lhe que erga o seu “gládio ungido”, chamando lhe até Excalibur do Fim, um símbolo de força e poder que Pessoa indiretamente atribui à ideologia perpetuada pelo mito de D. Sebastião previamente referido. De seguida o autor refere que esta Luz será revelada “ao mundo dividido”, contemplando os 4 Impérios que fazem o mundo, o Grego, o Romano, o Cristão e o Inglês, representando cada um certos contributos imateriais que deverão, ao ver de F.Pessoa, ser compilados num final e iluminado Quinto Império, sendo esta ideia culminada pela referência ao objetivo máximo da lenda arturiana, o Santo Graal.
Este poema denomina-se “O desejado” pois realça o papel de D.Sebastião mítico, simbolo de aventura, de risco, como peça necessária (desejada) para dar forças ao povo português para completar a sua missão.
Catarina Martins e Alexandre Umbelino, 12°A
Continuação da análise de poemas
O segundo poema a analisar é “António Vieira” e está incluído na segunda subparte “Os Avisos”.
Relativamente a sua estrutura, este poema é constituído por três quadras, sendo o seu esquema rimático ababcdcdefef, ou seja, a sua rima é cruzada. Dentro de cada quadra, os primeiros três versos são decassílabos e o último é um hexassilabo.
Na primeira quadra o uso das expressões: “teve a fama e a glória tem”, “imperador da língua portuguesa” transmite a ideia de admiração e respeito que o autor tem pelo Padre António Vieira. Através do uso da comparação “Foi-nos um céu também”, Fernando Pessoa realça, novamente, a importância e o papel de Vieira na literatura portuguesa.
Na estrofe seguinte, F.Pessoa faz referência as profecias de António Vieira acerca do futuro do mundo. Numa das suas obras, Vieira apoia a ideia, com base em profecias religiosas, da vinda de um Quinto Império, o último da história, unificador dos quatro grandes impérios anteriores. Este Quinto Império seria português e representaria uma nova fase de glória para o povo lusitano. Com a expressão “Surge, prenúncio claro do luar,/ El-rei D. Sebastião”, o autor dá a ideia de que assim como o luar, o mito de D.Sebastião, como símbolo de ambição e de aventura, seria a luz na noite escura, ou seja, seria a ideia que iria guiar o povo português para o seu renascimento como povo dominante e influenciador. D. Sebastião mítico representa todas as qualidades que o povo português necessitaria para conquistar o Quinto Império e segundo António Vieira completar a sua missão. No entanto não é o luar, é algo muito maior, divino, para além da compreensão humana, é a “luz do etéreo”, nesta última quadra, está exposta a ideia de que por forças maiores, os portugueses estão destinados ao Quinto Império (“A madrugada irreal do Quinto império/ doira as margens do Tejo”).
Este poema é denominado “Antônio Vieira” pois é dedicado ao padre e escritor português, pelo papel que teve como profeta (aviso) da teoria do quinto império, um futuro português grandioso.
Ambos os poemas enquadram-se perfeitamente na 3ª parte de Mensagem, como prenúncio de tudo aquilo que o povo português está destinado a fazer, como profetas de uma missão que começou com os descobrimentos, mas que agora é necessário acabar.
O primeiro (“o desejado”) incluído n’”Os Símbolos” demonstra todas as qualidades e necessidades que são precisas para que o povo português cumpra por completo a sua missão e finalmente una o mundo não só fisicamente, através dos mares, mas também espiritualmente por meio de um utópico e final Quinto Império.
Já o segundo faz referência a António Vieira, não só como “imperador da língua portuguesa”, melhor escritor da sua época, mas também como importante profeta e anunciador da teoria do Quinto Império, motivo pelo qual este poema está incluído n’”Os Avisos” .
Catarina Martins e Alexandre Umbelino, 12°A.
Obrigada pelos vossos contributos.
Vou publicar, logo os tenha corrigido.
Como habitualmente, não alterarei os vossos textos/leituras; farei as correções da escrita e um ou outro necessário acrescento.
Em aula, veremos, então, a revisão de leitura/interpretação, quando imprescindível.
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