FERNÃO DE MAGALHÃES
No vale clareia uma fogueira.
Uma dança sacode a terra inteira.
E sombras disformes e descompostas
Em clarões negros do vale vão
Subitamente pelas encostas,
Indo perder-se na escuridão.
De quem é a dança que a noite aterra?
São os Titãs, os filhos da Terra,
Que dançam da morte do marinheiro
Que quis cingir o materno vulto —
Cingi-lo, dos homens, o primeiro —,
Na praia ao longe por fim sepulto.
Dançam, nem sabem que a alma ousada
Do morto ainda comanda a armada,
Pulso sem corpo ao leme a guiar
As naus no resto do fim do espaço:
Que até ausente soube cercar
A terra inteira com seu abraço.
Violou a Terra. Mas eles não
O sabem, e dançam na solidão;
E sombras disformes e descompostas,
Indo perder-se nos horizontes,
Galgam do vale pelas encostas
Dos mudos montes.
s.d.
O poema "Fernão de Magalhães" situa-se na 2ª parte do livro "Mensagem", de Fernando Pessoa, intitulada "Mar Português", sendo o 8º poema dessa parte. O poema tem 4 estrofes, todas sextilhas. Em cada estrofe, a rima é emparelhada nos dois primeiros versos e cruzada nos quatro últimos versos.
O poema tem como "herói" Fernão de Magalhães, navegador português que planeou e comandou a primeira viagem à volta do mundo (circum-navegação), que começou em 20 de Setembro de 1519 e foi acabada em 6 de Setembro de 1522, morrendo a 27 de abril de 1521, numa batalha em Cebu, nas Filipinas durante a expedição. A viagem foi completada por Juan Sebastian Elcano.
O poema fala sobre os Titãs, forças brutas da natureza, da
mitologia grega, que dançam e festejam a morte de Fernão de Magalhães
que queria descobrir o desconhecido, como indicado nas duas primeiras
estrofes. Os Titãs podem ser uma metáfora para os povos nativos envolvidos na morte do navegador.
Na 3ª estrofe, refere-se que "Dançam, nem sabem que a alma ousada / Do morto ainda comanda a armada, / Pulso sem corpo ao leme a guiar / As naus no resto do fim do espaço"; simboliza a vontade de Fernão de Magalhães que mesmo depois de morrer "guia" a expedição que tinha começado e foi completada pela sua tripulação, como se ele ainda estivesse a comandar a frota.
Na última estrofe, Fernando Pessoa conclui com os
Titãs, que dançam e festejam pensando que travaram a expedição.
Mário Estêvão 12ºB
1 comentário:
Atenção
O colega depois terá de acrescentar a análise sobre a linguagem, os recursos expressivos com que o poeta constrói as ideias-chave.
Olhem os Titãs... a dançar
E
a alma ousada/Do morto ainda comanda a armada,
OU
Pulso sem corpo ao leme a guiar
OU o lindíssimo verso:
As naus no resto do fim do espaço.
Vamos a isto! Deem uma ajuda!
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