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15 outubro 2020

Fernão de Magalhães, Mensagem

 FERNÃO DE MAGALHÃES

 

No vale clareia uma fogueira.

Uma dança sacode a terra inteira.

E sombras disformes e descompostas

Em clarões negros do vale vão

Subitamente pelas encostas,

Indo perder-se na escuridão.

 

De quem é a dança que a noite aterra?

São os Titãs, os filhos da Terra,

Que dançam da morte do marinheiro

Que quis cingir o materno vulto —

Cingi-lo, dos homens, o primeiro —,

Na praia ao longe por fim sepulto.

 

Dançam, nem sabem que a alma ousada

Do morto ainda comanda a armada,

Pulso sem corpo ao leme a guiar

As naus no resto do fim do espaço:

Que até ausente soube cercar

A terra inteira com seu abraço.

 

Violou a Terra. Mas eles não

O sabem, e dançam na solidão;

E sombras disformes e descompostas,

Indo perder-se nos horizontes,

Galgam do vale pelas encostas

Dos mudos montes.

 

s.d.

O poema "Fernão de Magalhães" situa-se na 2ª parte do livro "Mensagem", de Fernando Pessoa, intitulada "Mar Português", sendo o 8º poema dessa parte. O poema tem 4 estrofes, todas sextilhas. Em cada estrofe, a rima é emparelhada nos dois primeiros versos e cruzada nos quatro últimos versos. 

O poema tem como "herói" Fernão de Magalhães, navegador português que planeou e comandou a primeira viagem à volta do mundo (circum-navegação), que começou em 20 de Setembro de 1519 e foi acabada em 6 de Setembro de 1522, morrendo a 27 de abril de 1521, numa batalha em Cebu, nas Filipinas durante a expedição. A viagem foi completada por Juan Sebastian Elcano.

O poema fala sobre os Titãs, forças brutas da natureza, da mitologia grega, que dançam e festejam a morte de Fernão de Magalhães que queria descobrir o desconhecido, como indicado nas duas primeiras estrofes. Os Titãs podem ser uma metáfora para os povos nativos envolvidos na morte do navegador.

Na 3ª estrofe, refere-se que "Dançam, nem sabem que a alma ousada / Do morto ainda comanda a armada, / Pulso sem corpo ao leme a guiar / As naus no resto do fim do espaço"; simboliza a vontade de Fernão de Magalhães que mesmo depois de morrer "guia" a expedição que tinha começado e foi completada pela sua tripulação, como se ele ainda estivesse a comandar a frota.

Na última estrofe, Fernando Pessoa conclui com os Titãs, que dançam e festejam pensando que travaram a expedição.
 

Mário Estêvão 12ºB

1 comentário:

Noémia Santos disse...

Atenção

O colega depois terá de acrescentar a análise sobre a linguagem, os recursos expressivos com que o poeta constrói as ideias-chave.
Olhem os Titãs... a dançar

E
a alma ousada/Do morto ainda comanda a armada,

OU

Pulso sem corpo ao leme a guiar
OU o lindíssimo verso:

As naus no resto do fim do espaço.


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