Começamos hoje a publicação de textos motivados pela poesia de Fernando Pessoa sobre a infância - o modo como a vivemos ou como hoje julgamos que a vivemos: «Outrora hoje».
A minha infância sempre foi muito ligada ao campo e à natureza. As tecnologias, na altura menos avançadas, nunca tiveram muita importância nessa fase mais antiga da memória. Na escola primária que frequentei havia dois tipos de pessoas, as que eram apenas crianças a viver o momento e as que ficavam a um canto, não querendo demonstrar ter 7 ou 8 anos. Eu, felizmente, era do primeiro tipo. Chegava a casa com os joelhos sujos e por vezes com feridas de jogar à apanhada tão convictamente. Os meus pais não se importavam muito porque as nódoas eram apenas um problema temporário e eu era uma pequenina feliz.No 1º ano de escolaridade surgiu uma nova moda, embora já antiga, a moda dos berlindes. Levávamos para a escola, não só a nossa coleção como também a dos nossos pais. Escavávamos buracos e desenhávamos arenas e círculos no chão para podermos fazer competições e deixar os berlindes rebolar, no final do jogo trocávamos berlindes com quem ganhasse. Era uma brincadeira inocente, ecológica e de confraternização entre miúdos de todas as idades.
No ano seguinte, a moda passou a ser dos piões. Os tamanhos eram bastante variados, apenas não mudava o cordão, que os fazia girar e a cor do próprio objeto, castanha clara como a madeira após ser lixada. De modo a conseguir identificá-los, personalizámos o pião ao gosto do dono, normalmente pintávamos com os vernizes das mães ou com guache. Para que os piões ganhassem mais força e velocidade, pedíamos aos pais que substituíssem o bico por um prego afiado.
Foi
uma fase de pequenez cheia de aprendizagens, mas sobretudo de novas
vivências e amizades, que sem dúvida ficarão nas boas recordações da
memória. Alegremente direi que foram as cicatrizes, os piões, os
berlindes e muitas outras brincadeiras que me marcaram e não os
telemóveis e computadores.
C. Nascimento, 12ºB
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