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06 março 2018

Gabriel Garcia Márquez - memórias de Lisboa

Gabriel García Márquez faria hoje 91 anos
"No Verão Quente de 1975, Gabriel García Márquez veio passar duas semanas a Portugal. Encontrou-se com escritores e poetas [...] e escreveu três reportagens [...]

 O postal de García Márquez chegou ao destino três semanas depois de enviado. Era uma fotografia da Ponte 25 de abril, com o Cristo Rei em fundo, e dizia apenas isto: «Lisboa é a maior aldeia do mundo. Quando chegar, conto-te desta revolução.» 
                Juan Gossaín - um dos mais notáveis jornalistas colombianos e amigo do escritor desde os anos cinquenta - recebeu o correio na sua casa de Cartagena de Índias e não pôde deixar de sorrir. Gabriel, a quem trata carinhosamente por Gabo, tinha chegado à Colombia muito antes da correspondência.[...] 
               García Márquez aterrou no aeroporto da Portela no primeiro dia de junho de 1975, proveniente de Roma. «Tive a sensação de estar a viver de novo a experiência juvenil de uma primeira chegada. Não só pelo verão prematuro em Portugal e pelo odor a marisco, mas também pelos ventos e pelos ares de uma liberdade nova que se respiravam por toda a parte.»  
              [...] «Por esta altura já tinha escrito Cem Anos de Solidão, era um romancista reputado [...] «Viajava pelo mundo fora, ou a promover a sua obra ou em reuniões de trabalho. E às vezes ficava mais dois ou três dias num sítio para fazer peças jornalísticas.» Em Portugal, permaneceu duas semanas. [...]
                  «Lisboa é uma das mais belas cidades do mundo e, até há um ano, era também uma das mais tristes, por obra de uma rara ditadura medieval que durou quase meio século e cuja força se fundava numa polícia política inclemente. É um país de pobres que enfrenta obstáculos terríveis e uma pressão tremenda. Por causa da sua posição geográfica, está obrigado a sentar-se de sapatos rotos e casaco remendado na mesa dos mais ricos e sofisticados do mundo.»[...]
«Toda a gente fala e ninguém dorme, às quatro da manhã de uma quinta-feira qualquer não havia um único táxi desocupado. A maioria das pessoas trabalha sem horários e sem pausas, apesar de os portugueses terem os salários mais baixos da Europa. Marcam-se reuniões para altas horas da noite, os escritórios ficam de luzes acesas até de madrugada. Se alguma coisa vai dar cabo desta revolução é a conta da luz.»"
                  A amizade mais estreita de Gabo em Lisboa era, no entanto, com o autor de Balada da Praia dos Cães [José Cardoso Pires]. Tinham-se conhecido anos antes em Londres, quando ambos trabalhavam para o serviço internacional da BBC."
 O escritor e jornalista português José Cardoso Pires com Gabriel Garcia Marquez, em Lisboa, 1975

 In Diário de Notícias (ver artigo completo)

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