Começamos hoje a publicação dos textos da nossa oficina de escrita, inspirada pelos poemas de Fernando Pessoa sobre a infância; olhámos para os nossos brinquedos favoritos ou as nossas fotos antigas e tentámos lembrar/relembrar/recriar a criança que fomos ou que julgamos que fomos - «outrora agora».
(...)
Com que ânsia tão raiva
Quero aquele outrora!
E eu era feliz? Não sei:
Fui-o outrora agora.
Fernando Pessoa
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Quando as crianças brincam
E eu as ouço brincar,
Qualquer coisa em minha alma
Começa a se alegrar
E toda aquela infância
Que não tive me vem,
Numa onda de alegria
Que não foi de ninguém.
Se quem fui é enigma,
E quem serei visão,
Quem sou ao menos sinta
Isto no meu coração.
Fernando Pessoa
05/09/1933
Tobi, O Panda
Vivia na preocupação, despreocupada
tempo em que tinha tudo, sem ter nada.
Mas tempo que não volta
é tempo de (m)água passada.
Reinventei o já inventado
meu querido peluche, hoje voltaste a ser acordado.
Nunca te esqueci, e creio que nunca vou
dormes comigo só para fingir que ainda não acabou.
E como sol na noite escura
e nunca me perdendo em aventura.
Hoje lembro-me para te relembrar
como a vida contigo era mais fácil de suportar.
Não me lembro como me foste dado
mas lembro-me bem do tempo contigo passado.
Tempo que não volto a ter igual
até a infância parece ter de ser mortal.
Panda, o encanto em mim guardado
ficará na memória e no coração.
Apesar de tudo por vezes parecer atribulado
paro e em ti vejo a salvação!
Micael Reis, 12.ºB
Lá estava eu, pequenina, feliz e super-entusiasmada por estar, mais uma vez, na melhor altura do ano, no meu lugar favorito. Estava na Serra da Estrela, num dia branquinho, lindíssimo e perfeito para fazer bonecos de neve e andar no meu trenó com os pais e o meu irmão. Foi nesse dia, que ainda me recordo através de fotos que me fazem sentir nostálgica, que me ofereceram o que se tornou durante toda a minha infância, o meu melhor amigo. O inverno sempre foi a minha altura favorita do ano, o frio, as roupas quentinhas, o Natal e as viagens ao Norte para ver a minha família paterna que sempre lá viveu. Era a altura do ano em que eu visitava a minha tia Alice que eu tanto admirava, era uma pessoa com um coração tão bonito, uma senhora que sempre se preocupou imenso com o bem-estar de todos, com uma personalidade muito bonita; tinha um cabelo branco como a neve que foi sempre uma das características que mais me fascinou. Infelizmente não me recordo de muitos momentos passados com ela ao certo, no entanto recordo-me que me trazia uma felicidade imensa vê-la! Sempre gostei muito dela e ela adorava que a fôssemos visitar, sempre me deu peluches mas houve um em específico que se destacou e que de facto marcou para sempre a minha infância. Foi um pequeno cãozinho, de pelo branco e bege, com um ar triste mas que me fazia imensamente feliz, andava sempre com ele atrás, dormia com ele, levava-o para todo o lado, era uma companhia fiel nos meus momentos de alegria e de tristeza. Era mais do que um simples peluche, era o meu melhor amigo e o confidente das minhas histórias.
À medida que os invernos se sucediam, o meu amor pela Serra da Estrela e pelas memórias com a tia Alice cresciam. Cada floco de neve era como uma página em branco à espera para ser preenchida com novas aventuras. No entanto, à medida que o tempo avançava, as estações mudavam, e com elas, também mudavam as circunstâncias da vida.
Hoje, ao folhear os álbuns de fotografias antigas, revivo não apenas as imagens congeladas no tempo, mas as emoções que aqueles momentos especiais me proporcionaram. O inverno e o meu pequeno cãozinho continuam a ser as âncoras da minha infância, recordações que aquecem o coração, mesmo nos dias mais frios da minha vida “adulta”. Assim, guardo não apenas um peluche, mas um tesouro de lembranças preciosas que moldaram quem sou hoje.
Catarina Henriques, 12B
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