ESCOLA SECUNDÁRIA C/ 3º CEB HENRIQUES NOGUEIRA PORTUGUÊS, 12º
Materiais
de apoio ao estudo – síntese informativa
Prof.
responsável: Noémia Santos
Luís
Vaz de Camões, Os Lusíadas, 1572
Fernando
António Nogueira Pessoa, Mensagem,
1934
“Os sonhos e as utopias são indispensáveis à vida
das nações como à existência dos homens. »
Como
escreveu Pessoa (…) «triste de quem vive em casa, /contente com o seu lar», «
triste de quem é feliz! /Vive porque a vida dura. / Nada na alma lhe diz/ mais
que a lição de raiz - / ter por vida a sepultura.» (Vitor Manuel Aguiar e
Silva)
«E a
nossa grande Raça partirá em busca de uma Índia nova, que não existe no espaço,
em naus que são construídas ‘daquilo que os sonhos são feitos’ E o seu
verdadeiro e supremo destino, de que a obra dos navegadores foi o obscuro e
carnal arremedo, realizar-se-á divinamente.» Fernando Pessoa, 1912.
Portugal e Lisboa da segunda metade do Século XVI
Terminado
o período das grandes descobertas marítimas, do conhecimento de povos
distantes, do traçado dos primeiros mapas modernos, do entusiasmo pelas
possibilidades económicas e sociais trazidas pelas viagens, as consequências
negativas começam a fazer-se sentir: perda do domínio marítimo, para as
marinhas mercantes de outras nações europeias, endividamento externo e aumento
do défice, monopólio da coroa e início do poder absoluto, parasitismo da
nobreza, ostentação do luxo excessivo, crises agrícolas sucessivas, crescente nterferência do clero, mormente a
partir da criação do Tribunal do Santo Ofício (ou Inquisição; instituição
judicial do papado, com poder para prender, julgar e punir as «heresias» e
todas as manifestações julgadas contrárias à Igreja Católica), em 1560. Alguns
dos alertas para os aspectos negativos da expansão já haviam sido reflectidos
pelos escritores portugueses, nomeadamente por Sá de Miranda, nos seus poemas e
por Gil Vicente, no Auto da Índia.
Lisboa,
como as grandes cidades da Europa, era uma Babel de barcos e de gentes,
provenientes de todas as latitudes, numa paleta de línguas e de raças; pelas suas ruas circulavam marinheiros,
mercadores, ourives, aventureiros à procura de riqueza fácil e estímulos
variados. Os nobres e os recentemente enriquecidos exibiam as suas roupas
faustosas, os seus criados africanos e os seus animais exóticos. Uma multidão
de pedintes, andrajosos e larápios enxameava as ruas. Grandeza e miséria
ombreavam diariamente.
A nível
cultural, o século XVI fora marcado por manifestações científicas, culturais e
artísticas de grande valor. A língua portuguesa enriquece-se e renova-se, com o
contributo de grandes escritores e estudiosos das línguas clássicas, mormente
do Latim; para além da entrada directa de muitas palavras por via erudita –
renovação do léxico –, alargam-se as possibilidades semânticas e sintácticas e
estabelecem-se as regras da língua nas primeiras Gramáticas, da autoria de
Fernão de Oliveira e de João de Barros. Por outro lado, a expansão vai levar a
nossa língua a todos os continentes (fazedo com que hoje seja das 4-5 línguas
mqais faladas do mundo) e trazer de lá palavras que irão enriquecer ainda mais
o português (Cf. Mapa da língua
portuguesa, na sala 44). A literatura e as outras artes (pintura,
escultura, arquitectura) recuperam a matriz humanista das civilizações da
antiguidade clássica – Grécia e Roma – e criam obras que traduzem a beleza, a
força e o saber do Homem e da Natureza. Formas literárias clássicas são
recuperadas: Sá de Miranda traz de Itália as novas maneiras poéticas, António Ferreira escreve a primeira tragédia, à
maneira clássica, em português – A
Castro (sobre a morte de D. Inês) e Camões publica Os Lusíadas, já numa fase de transição, chamada maneirismo.
A
Literatura de Viagens conhece neste período um grande florescimento: relatos de
viagens e do achamento das novas terras, historiografia ligada aos
descobrimentos, descrição de espécies, de povos, de costumes.
Depois da comutação da
pena de prisão em degredo no Oriente (Goa e Macau), onde desempenhou cargos
administrativos e voltou a ser preso, Camões, regressa a Lisboa em 1569. Com o
mecenato de D. Manuel de Portugal, filho do Conde de Vimioso, Os Lusíadas são impressos em 1572.
Surpreendentemente escapam aos rigores da Inquisição, sendo aprovados pela
censura, crê-se que sem grandes cortes. A segunda edição portuguesa sai em
1584, mas essa já não escapa à censura e são dela cortadas as partes
consideradas menos ortodoxas em relação à fé ou atentatórias dos bons costumes.
Segundo António José Saraiva, N’Os Lusíadas combinam-se três correntes
distintas de ideias: um ideário nacionalista; um ideal religioso e um ideal
humanista.
Um ideário nacionalista que
tinha por base o sentimento de orgulho triunfalista de um povo consciente de
ter concretizado o maior feito conhecido da história do mundo: em menos de um
século tinham viajado por toda a Terra, estabelecido portos, feitorias e
fortificações em África, na Ásia e na América (do Sul). O Oceano Atlântico era
um mar português, o Índico já não tinha segredos, pois estávamos na Índia, na
Indonésia, na China e, a partir de meados do século, no Japão, onde fôramos os
primeiros ocidentais a chegar. Os portugueses viram e registaram fenómenos
naturais desconhecidos, novas constelações (do hemisfério sul) e mostraram que
havia antípodas.
Este orgulho e esta
consciência de si enquanto nação levam os historiadores portugueses em busca de
uma génese ilustre, tão ilustre que justificasse, ampliasse o efeito do presente:
Viriato, o guerreiro e, mais, Ulisses o aventureiro mítico como fundador de
Lisboa (que teria o primitivo nome de Ulisseia); para cúmulo, a origem
remontaria aos deuses: um companheiro de Baco – Luso – seria a génese dos
Lusitanos. Para além duma história, Portugal começa a ter uma mítica. Pela
primeira vez surge a ideia de uma história de Portugal já não só com significado
para o seu povo ou no contexto Peninsular e Europeu, mas de uma visão da
história de Portugal associada ao destino da humanidade. O Tratado de
Tordesilhas e o carácter transcontinental das nossas rotas, feitorias e
possessões sustentava a ideia.
Um ideal religioso – para
Camões o inimigo externo de Portugal já não é a Castela; Espanha designa,
aliás, a Península. O inimigo é o Mouro, o islamita. Os turcos, muçulmanos,
haviam tomado Constantinopla em 1456 e avançavam rapidamente pela Europa aproximando-se
de Itália, pois já haviam tomado os Balcãs. O Papa preparava uma nova cruzada.
Portugal tinha uma posição estratégica à entrada do Golfo Pérsico favorável a
este empreendimento de nova luta contra “o infiel”. Os Lusíadas fazem-se eco deste ideal de cruzada e relacionam-no com
o passado de Portugal, nomeadamente com os tempos da fundação, dando destaque
ao carácter divino e de missão da Batalha de Ourique. A História de Portugal é apresentada como Cruzada e o poeta
exorta D. Sebastião à guerra em África, como defensor, guardião da Cristandade,
da Civilização ocidental.
O ideal humanista – O
humanismo é a corrente que, a partir dos séculos XV e XVI, irradia da Itália
para toda a Europa. O tempo do humanismo foi um tempo de descobertas: da
cultura (renovando, fazendo renascer a cultura da antiguidade), da natureza, do
homem. «Os Lusíadas são bem uma epopeia humanista, empenhada como está em
afirmar as capacidades humanas: a capacidade de realização, a vitória sobre a
natureza adversa; o alargamento indefinido dos limites do saber; o direito a
aspirar por um amor plenamente feliz – sensual, espiritual e sem pecado; e,
finalmente empenhada em declarar que o homem pode determinar-se, construir o
seu destino» (Mª Vitalina Leal de Matos). Na visão de António José Saraiva, em
Camões «A identificação da Cruzada contra os Mouros com a expansão da
Civilização é o ponto de coincidência entre o ideário Cristão e o ideário
Humanista».
Fernando Pessoa MENSAGEM
Tal como Fernando Pessoa
não inventou o Sebastianismo, também não inventou a teoria do Quinto Império.
Encontrou-os na tradição portuguesa, peninsular e mesmo judaico-cristã, no caso
desta última (a vinda de um Quinto império universal, que não terá fim, na
tradição bíblica, do Livro de Daniel)
. F. Pessoa altera os quatro impérios antigos que a tradição consagrava, e
avança com os quatro grandes momentos da civilização ocidental. Pessoa organiza
assim a teoria
dos Impérios :
1º - Império Grego (que
sintetizou e ampliou os conhecimentos/a experiência dos antigos impérios)
2º - Império Romano (que integra e sintetiza a cultura grega)
3º - Império Cristão (fusão do mundo grego e romano, integrando o
elemento hebraico)
4º - Império Europeu / Inglês ( ampliado por toda a terra e resultado da
fusão do mundo antigo com a moral cristã)
5º - O Quinto Império (que “ fundirá os quatro
anteriores com tudo quanto esteja fora deles”), o primeiro império
verdadeiramente universal; um Império Espiritual. O desígnio de Portugal é
cumpri-lo: “Depois da conquista dos mares
deve vir a conquista das almas.”
O pensamento de Fernando Pessoa sobre:
A situação de Portugal do
seu tempo:
“(N)uma época da pátria em que havia minguado a estatura nacional
dos homens e falido a panaceia abstracta dos sistemas (...) um presente
infeliz” / Um tempo de “inquietação e angústia”
“Ó Portugal, hoje és nevoeiro...” (Nevoeiro)
“Este fulgor baço da terra/Que é Portugal a entristecer - /Brilho
sem luz e sem arder” (Nevoeiro)
As virtudes do tipo português
“Homem harmónico, mente segura e planeadora, braço apto a realizar
o que ele próprio planeou. Reunia a audácia e a ciência que torna a audácia
mais alguma coisa que um impulso animal de quem não vê.”
“Esse português fez as Descobertas, criou a civilização
transoceânica moderna, e depois foi-se embora. Foi-se embora em Alcácer Quibir,
mas deixou alguns parentes, que têm estado sempre, e continuam estando, à espera dele.”
O sentido da sua vida/da sua missão
“Não conto gozar a minha vida (...) . Só quero torná-la grande,
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a minha alma lenha desse fogo. /
Só quero torná-la de toda a humanidade ainda que para isso tenha de a perder
como minha. /Cada vez mais ponho na essência anímica do meu ser o propósito
impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade.”
O sentido divino da nossa missão
(enquanto nação)
“Só duas nações – a Grécia passada e o Portugal futuro – receberam
dos deuses a concessão de serem não só elas mas também todas as outras. (...)
“Tristes de nós se faltarmos à missão que Aquele que nos pôs ao
Ocidente da Europa, e tais nos fez quais somos, nos impôs quando nos deu este
nosso aceso e transcendido espírito aventureiro.”
O sonho
“Todas as naus são naus de sonho logo que esteja em nós o poder de
as sonhar. / Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o
que temos de realmente nosso, de impenetravelmente
e inexpugnavelmente nosso.”
“Triste de quem vive em casa/Contente com o seu lar,/Sem que um sonho,
no erguer de asa, Faça até mais rubra a brasa/Da lareira a abandonar!” (O Quinto Império)
Ø A força do espírito
“Todo o império que não é baseado no Império Espiritual é uma
Morte de pé, um Cadáver mandando.”
“(...)contra as artes e as forças do espírito não há resistência
possível”
“A alma é divina e a obra é imperfeita.” ( O Padrão)
A professora de Português
N.S.
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