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06 dezembro 2012

Síntese informativa

Como percebi que -lamentavelmente - nem todos usam as sínteses do moodle, fica esta informação para encerrar, por agora, este assunto.




ESCOLA SECUNDÁRIA C/ 3º CEB HENRIQUES NOGUEIRA      PORTUGUÊS, 12º

Materiais de apoio ao estudo – síntese informativa

Prof. responsável: Noémia Santos

Luís Vaz de Camões, Os Lusíadas, 1572

Fernando António Nogueira Pessoa, Mensagem, 1934


“Os sonhos e as utopias são indispensáveis à vida das nações como à existência dos homens. »

Como escreveu Pessoa (…) «triste de quem vive em casa, /contente com o seu lar», « triste de quem é feliz! /Vive porque a vida dura. / Nada na alma lhe diz/ mais que a lição de raiz - / ter por vida a sepultura.» (Vitor Manuel Aguiar e Silva)

«E a nossa grande Raça partirá em busca de uma Índia nova, que não existe no espaço, em naus que são construídas ‘daquilo que os sonhos são feitos’ E o seu verdadeiro e supremo destino, de que a obra dos navegadores foi o obscuro e carnal arremedo, realizar-se-á divinamente.» Fernando Pessoa, 1912.


Portugal e Lisboa da segunda metade do Século XVI

Terminado o período das grandes descobertas marítimas, do conhecimento de povos distantes, do traçado dos primeiros mapas modernos, do entusiasmo pelas possibilidades económicas e sociais trazidas pelas viagens, as consequências negativas começam a fazer-se sentir: perda do domínio marítimo, para as marinhas mercantes de outras nações europeias, endividamento externo e aumento do défice, monopólio da coroa e início do poder absoluto, parasitismo da nobreza, ostentação do luxo excessivo, crises agrícolas sucessivas,  crescente nterferência do clero, mormente a partir da criação do Tribunal do Santo Ofício (ou Inquisição; instituição judicial do papado, com poder para prender, julgar e punir as «heresias» e todas as manifestações julgadas contrárias à Igreja Católica), em 1560. Alguns dos alertas para os aspectos negativos da expansão já haviam sido reflectidos pelos escritores portugueses, nomeadamente por Sá de Miranda, nos seus poemas e por Gil Vicente, no Auto da Índia.


Lisboa, como as grandes cidades da Europa, era uma Babel de barcos e de gentes, provenientes de todas as latitudes, numa paleta de línguas e de raças;  pelas suas ruas circulavam marinheiros, mercadores, ourives, aventureiros à procura de riqueza fácil e estímulos variados. Os nobres e os recentemente enriquecidos exibiam as suas roupas faustosas, os seus criados africanos e os seus animais exóticos. Uma multidão de pedintes, andrajosos e larápios enxameava as ruas. Grandeza e miséria ombreavam diariamente.


A nível cultural, o século XVI fora marcado por manifestações científicas, culturais e artísticas de grande valor. A língua portuguesa enriquece-se e renova-se, com o contributo de grandes escritores e estudiosos das línguas clássicas, mormente do Latim; para além da entrada directa de muitas palavras por via erudita – renovação do léxico –, alargam-se as possibilidades semânticas e sintácticas e estabelecem-se as regras da língua nas primeiras Gramáticas, da autoria de Fernão de Oliveira e de João de Barros. Por outro lado, a expansão vai levar a nossa língua a todos os continentes (fazedo com que hoje seja das 4-5 línguas mqais faladas do mundo) e trazer de lá palavras que irão enriquecer ainda mais o português (Cf. Mapa da língua portuguesa, na sala 44). A literatura e as outras artes (pintura, escultura, arquitectura) recuperam a matriz humanista das civilizações da antiguidade clássica – Grécia e Roma – e criam obras que traduzem a beleza, a força e o saber do Homem e da Natureza. Formas literárias clássicas são recuperadas: Sá de Miranda traz de Itália as novas maneiras poéticas, António Ferreira escreve a primeira tragédia, à maneira clássica, em português – A Castro (sobre a morte de D. Inês) e Camões publica Os Lusíadas, já numa fase de transição, chamada maneirismo.

A Literatura de Viagens conhece neste período um grande florescimento: relatos de viagens e do achamento das novas terras, historiografia ligada aos descobrimentos, descrição de espécies, de povos, de costumes.


Depois da comutação da pena de prisão em degredo no Oriente (Goa e Macau), onde desempenhou cargos administrativos e voltou a ser preso, Camões, regressa a Lisboa em 1569. Com o mecenato de D. Manuel de Portugal, filho do Conde de Vimioso, Os Lusíadas são impressos em 1572. Surpreendentemente escapam aos rigores da Inquisição, sendo aprovados pela censura, crê-se que sem grandes cortes. A segunda edição portuguesa sai em 1584, mas essa já não escapa à censura e são dela cortadas as partes consideradas menos ortodoxas em relação à fé ou atentatórias dos bons costumes. Segundo António José Saraiva,  N’Os Lusíadas combinam-se três correntes distintas de ideias: um ideário nacionalista; um ideal religioso e um ideal humanista.


Um ideário nacionalista que tinha por base o sentimento de orgulho triunfalista de um povo consciente de ter concretizado o maior feito conhecido da história do mundo: em menos de um século tinham viajado por toda a Terra, estabelecido portos, feitorias e fortificações em África, na Ásia e na América (do Sul). O Oceano Atlântico era um mar português, o Índico já não tinha segredos, pois estávamos na Índia, na Indonésia, na China e, a partir de meados do século, no Japão, onde fôramos os primeiros ocidentais a chegar. Os portugueses viram e registaram fenómenos naturais desconhecidos, novas constelações (do hemisfério sul) e mostraram que havia antípodas.

Este orgulho e esta consciência de si enquanto nação levam os historiadores portugueses em busca de uma génese ilustre, tão ilustre que justificasse, ampliasse o efeito do presente: Viriato, o guerreiro e, mais, Ulisses o aventureiro mítico como fundador de Lisboa (que teria o primitivo nome de Ulisseia); para cúmulo, a origem remontaria aos deuses: um companheiro de Baco – Luso – seria a génese dos Lusitanos. Para além duma história, Portugal começa a ter uma mítica. Pela primeira vez surge a ideia de uma história de Portugal já não só com significado para o seu povo ou no contexto Peninsular e Europeu, mas de uma visão da história de Portugal associada ao destino da humanidade. O Tratado de Tordesilhas e o carácter transcontinental das nossas rotas, feitorias e possessões sustentava a ideia.


Um ideal religioso – para Camões o inimigo externo de Portugal já não é a Castela; Espanha designa, aliás, a Península. O inimigo é o Mouro, o islamita. Os turcos, muçulmanos, haviam tomado Constantinopla em 1456 e avançavam rapidamente pela Europa aproximando-se de Itália, pois já haviam tomado os Balcãs. O Papa preparava uma nova cruzada. Portugal tinha uma posição estratégica à entrada do Golfo Pérsico favorável a este empreendimento de nova luta contra “o infiel”. Os Lusíadas fazem-se eco deste ideal de cruzada e relacionam-no com o passado de Portugal, nomeadamente com os tempos da fundação, dando destaque ao carácter divino e de missão da Batalha de Ourique. A História de Portugal é apresentada como Cruzada e o poeta exorta D. Sebastião à guerra em África, como defensor, guardião da Cristandade, da Civilização ocidental.


O ideal humanista – O humanismo é a corrente que, a partir dos séculos XV e XVI, irradia da Itália para toda a Europa. O tempo do humanismo foi um tempo de descobertas: da cultura (renovando, fazendo renascer a cultura da antiguidade), da natureza, do homem. «Os Lusíadas são bem uma epopeia humanista, empenhada como está em afirmar as capacidades humanas: a capacidade de realização, a vitória sobre a natureza adversa; o alargamento indefinido dos limites do saber; o direito a aspirar por um amor plenamente feliz – sensual, espiritual e sem pecado; e, finalmente empenhada em declarar que o homem pode determinar-se, construir o seu destino» (Mª Vitalina Leal de Matos). Na visão de António José Saraiva, em Camões «A identificação da Cruzada contra os Mouros com a expansão da Civilização é o ponto de coincidência entre o ideário Cristão e o ideário Humanista». 






Fernando Pessoa   MENSAGEM

Tal como Fernando Pessoa não inventou o Sebastianismo, também não inventou a teoria do Quinto Império. Encontrou-os na tradição portuguesa, peninsular e mesmo judaico-cristã, no caso desta última (a vinda de um Quinto império universal, que não terá fim, na tradição bíblica, do Livro de Daniel) . F. Pessoa altera os quatro impérios antigos que a tradição consagrava, e avança com os quatro grandes momentos da civilização ocidental. Pessoa organiza assim a teoria dos Impérios :

1º - Império Grego  (que sintetizou e ampliou os conhecimentos/a experiência dos antigos impérios)

2º - Império Romano (que integra e sintetiza a cultura grega)

3º - Império Cristão (fusão do mundo grego e romano, integrando o elemento hebraico)

4º - Império Europeu / Inglês ( ampliado por toda a terra e resultado da fusão do mundo antigo com a moral cristã)

5º - O Quinto Império (que “ fundirá os quatro anteriores com tudo quanto esteja fora deles”), o primeiro império verdadeiramente universal; um Império Espiritual. O desígnio de Portugal é cumpri-lo: “Depois da conquista dos mares deve vir a conquista das almas.”

O pensamento de Fernando Pessoa sobre:

A situação de Portugal do seu tempo:

“(N)uma época da pátria em que havia minguado a estatura nacional dos homens e falido a panaceia abstracta dos sistemas (...) um presente infeliz” / Um tempo de “inquietação e angústia”

“Ó Portugal, hoje és nevoeiro...” (Nevoeiro)

 “Este fulgor baço da terra/Que é Portugal a entristecer - /Brilho sem luz e sem arder” (Nevoeiro)

As virtudes do tipo português

“Homem harmónico, mente segura e planeadora, braço apto a realizar o que ele próprio planeou. Reunia a audácia e a ciência que torna a audácia mais alguma coisa que um impulso animal de quem não vê.”

  “Esse português fez as Descobertas, criou a civilização transoceânica moderna, e depois foi-se embora. Foi-se embora em Alcácer Quibir, mas deixou alguns parentes, que têm estado sempre, e continuam estando, à espera dele.”

O sentido da sua vida/da sua missão

 “Não conto gozar a minha vida (...) . Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a minha alma lenha desse fogo. / Só quero torná-la de toda a humanidade ainda que para isso tenha de a perder como minha. /Cada vez mais ponho na essência anímica do meu ser o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade.”

  O sentido divino da nossa missão (enquanto nação)

“Só duas nações – a Grécia passada e o Portugal futuro – receberam dos deuses a concessão de serem não só elas mas também todas as outras. (...) 

  “Tristes de nós se faltarmos à missão que Aquele que nos pôs ao Ocidente da Europa, e tais nos fez quais somos, nos impôs quando nos deu este nosso aceso e transcendido espírito aventureiro.”

O sonho

“Todas as naus são naus de sonho logo que esteja em nós o poder de as sonhar. / Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso.”

  “Triste de quem vive em casa/Contente com o seu lar,/Sem que um sonho, no erguer de asa, Faça até mais rubra a brasa/Da lareira a abandonar!” (O Quinto Império)

Ø  A força do espírito

“Todo o império que não é baseado no Império Espiritual é uma Morte de pé, um Cadáver mandando.”

 “(...)contra as artes e as forças do espírito não há resistência possível”

“A alma é divina e a obra é imperfeita.” ( O Padrão) 

A professora de Português N.S.

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