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05 dezembro 2012

Mensagem e Os Lusíadas


Mensagem e Os Lusíadas


A Mensagem é um livro de 44 poemas breves, escritos em várias épocas, que, no seu conjunto, constituem um longo poema. Apresenta uma leitura simbólica e mítica da História de Portugal. Apesar de partir de um núcleo histórico concreto, e de personagens com existência histórica, o que interessa ao poeta, o que une todos esses “heróis” (ganhadores ou perdedores), é o seu lado ideal e mítico, o cumprimento de uma missão maior a que foram chamados, a “febre d’Além” (ver D. Fernando, Infante de Portugal), a grandeza de alma insatisfeita, o sonho que eleva a humanidade acima da “besta sadia”. A matéria literária é histórica. A leitura dela feita é lírica, simbólica e mítica.

 Na Mensagem, Portugal é um instrumento de Deus; os heróis cumprem um destino que os ultrapassa: “Foi Deus a alma e o corpo Portugal”. (F.P.)  “Deus ou os deuses talharam o destino dos povos.” (J. Prado Coelho)

 

A Mensagem é um “elogio do Português, desvendador e dominador de mundos”, não enquanto poderio terreno, mas enquanto ideal, procura de Absoluto. Por isso o Império Português do Século XVI foi apenas um “obscuro e carnal arremedo” desse outro Império Espiritual por achar:   Cumpriu-se o Mar, e o império se desfez./Senhor, falta cumprir-se Portugal!” . Pessoa exalta não o Império terreno, mas o Projecto, a Ideia condutora, o imaterial, o sonho, o mito, a fome de impossível, a loucura enquanto arrojo, quimera.

“Depois da conquista dos mares deve vir a conquista das almas.”

 

Também Camões e Os Lusíadas apresentam uma visão mística e de missão da História de Portugal. D. Sebastião n’Os Lusíadas é “Maravilha fatal da nossa idade, / Dada ao mundo por Deus, que todo o mande, /Para do mundo a Deus dar parte grande” (para alargar a Cristandade). D. Sebastião é o símbolo do nosso messianismo – promessa, esperança, salvação, renovação. Mas muito do que em Os Lusíadas é acção/história, na Mensagem é já só ideal / mito. Do destinatário real de Os Lusíadas (D. Sebastião, rei de Portugal em 1572) Camões espera acção concreta ligada ao ideal de cruzada, num tempo específico, face a problemas, situações e vícios enumerados ao longo da obra, nos finais dos cantos. Para Pessoa, a evocação da figura é do âmbito do símbolo, do mito. Pessoa no-lo afirma: 

«O sebastianismo, fundamentalmente, o que é? É um movimento religioso, feito em volta duma figura nacional no sentido dum mito. / No sentido simbólico D. Sebastião é Portugal: Portugal que perdeu a grandeza com D. Sebastião, e que só voltará a tê-la com o regresso dele, regresso simbólico. (…) morto D. Sebastião, o corpo, se conseguirmos evocar qualquer coisa em nós que se assemelhe à forma do esforço de D. Sebastião, ipso facto o teremos evocado (…) Por isso quando houverdes criado uma coisa cuja forma seja idêntica à do pensamento de D. Sebastião, D. Sebastião terá regressado.»

Fernando Pessoa, in Sobre Portugal, ed. Ática (sublinhado, meu)

 

Quanto à estrutura Os Lusíadas são pela forma e pela substância (exaltação da acção humana) uma epopeia clássica, a narração onde se entrelaçam a Viagem de Vasco da Gama, as intrigas dos Deuses e a História de Portugal.

A estrutura da Mensagem tem por base uma teoria cíclica – a das Idades; está dividido em três partes, pois olha a história da pátria como o mito de um nascimento (Brasão), vida (Mar Português) e morte de um mundo, seguida dum renascimento (O Encoberto): “Ó Portugal, hoje és nevoeiro... / É a Hora ! “   (“Nevoeiro”) . A primeira e a terceira parte estão subdivididas: Brasão subdivide-se de acordo com os símbolos da bandeira nacional - «Os  Campos», «Os Castelos», «As Quinas», «A Coroa» e «O Timbre»; a 3ª apresenta «Os Símbolos», «Os Avisos» e «Os Tempos». Todas estas divisões e designações revelam um sentido emblemático, ocultista; mais interpretativo e espiritual que narrativo/épico (como acontece em Os Lusíadas). Pessoa vê símbolos em tudo.

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