Miguel Torga, pseudónimo de Adolfo Correia da Rocha, nasceu
em 1907 em Vila Real. Torga foi um dos mais importantes poetas do século XX
deixando mais de 50 obras publicadas e sendo várias vezes indicado para o
Prémio Nobel da Literatura. Destacou-se também enquanto contista e
memorialista, mas escreveu também romances, peças de teatro e ensaios. Recebeu
diversos prémios nomeadamente o Prémio Camões em 1989. Faleceu em 1995, em
Coimbra.
Sísifo
Recomeça…
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.
Miguel Torga, Diário XIII
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.
Miguel Torga, Diário XIII
O nome do poema remete para o mito grego de Sísifo.
Sísifo vivia como se a morte, a mudança, e a renuncia para ele não existissem,
sendo condenado a rolar uma pedra monte acima, repetidamente, para a
eternidade; porém quando chegava ao topo a pedra rolaria monte abaixo.
Sísifo simboliza o recomeço e a persistência – e representa
as diversas situações da nossa vida, quando estamos prestes a cumprir um
objetivo, mas algo nos obriga a começar de novo.
É notório um incentivo a sermos ambiciosos “de nenhum
fruto queiras só metade” e a nunca desistirmos de nada “enquanto não alcances
não descanses”. Sendo utilizado como exemplo uma caminhada - “e os passos que
deres, nesse caminho duro do Futuro”, visto que o futuro é tão incerto como uma
caminhada não sabemos que obstáculos se atravessaram no nosso caminho, e tal
como na vida temos que escolher o nosso percurso e sofrer as consequências das
nossas escolhas, contudo se falharmos temos que recomeçar e não deixar que isso
nos pare, temos sonhos, objetivos que se não agirmos não passaram de ilusões “e
nunca saciado, vai colhendo ilusões sucessivas no pomar”
São visíveis marcas de intertextualidade nos versos 17,
18 e 19, com a obra” Mensagem” de Fernando Pessoa – poema “D. Sebastião Rei
de Portugal”. F. P procura ser a voz da consciência acreditando que o país em
decadência conseguirá reabilitar a sua glória, através da loucura → ambição,
sonho. É visível assim uma similaridade no incentivo ao que nos destinge
enquanto Homem, a Loucura.
Nuno Júdice nasceu em 1949 no Algarve, é ensaísta, poeta
ficcionista e professor universitário. A sua estreia literária deu-se em 1972
com A Noção de Poema. A sua obra
inclui antologias, edições de crítica literária, estudos sobre Teorias da
Literatura Portuguesa - lançou, em 1993, a antologia sobre literatura
portuguesa do século XX, em França. Organizou a Semana Europeia da Poesia, no
âmbito da Lisboa '94 - Capital Europeia da Cultura.
Confias no incerto amanhã? Entregas
às sombras do acaso a resposta inadiável?
Aceitas que a diurna inquietação da alma
substitua o riso claro de um corpo
que te exige o prazer? Fogem-te, por entre os dedos,
os instantes; e nos lábios dessa que amaste
morre um fim de frase, deixando a dúvida
definitiva. Um nome inútil persegue a tua memória,
para que o roubes ao sono dos sentidos. Porém,
nenhum rosto lhe dá a forma que desejarias;
e abraças a própria figura do vazio. Então,
por que esperas para sair ao encontro da vida,
do sopro quente da primavera, das margens
visíveis do humano? "Não", dizes, "nada me
obrigará
à renúncia de mim próprio --- nem esse olhar
que me oforece o leito profundo da sua imagem!"
Louco, ignora que o destino, por vezes,
se confunde com a brevidade do verso.
Nuno
Júdice
Sendo a inevitabilidade da morte e como esta está sempre
presente no pensamento humano o tema principal do poema, o sujeito poético
reflete, preocupado e ansioso, na forma como que o Homem vive.
“Carpe Diem”- aproveita o dia - é o titulo do poema, pois é
feito um incentivo ao leitor a aproveitar a vida, viver o presente e deixar de
pensar na morte e no destino.
“Fogem-te, por entre os dedos, os instantes” remete para
a brevidade da vida, assim como a expressão “nome inútil” remete para a morte.
Contudo, o sujeito poético assume-se como louco dizendo “não”, pois apesar de
sabermos que a morte é o nosso destino não conseguimos renunciar enquanto seres
humanos ao pensamento da morte aproveitando o que está à nossa frente.
Vasco Navarro Graça Moura nasceu no Porto em 1942. Foi um
nome central da literatura portuguesa na segunda metade do século XX, e um dos
maiores defensores da língua portuguesa contra o “Acordo Ortográfico”. Era
também ensaísta, dramaturgo, cronista, tradutor de clássicos, ficcionista,
escritor e político português. Faleceu em 2014.
Insinceridade
quis-nos aos dois enlaçados
meu amor ao lusco-fusco
mas sem saber o que busco:
há poentes desolados
e o vento às vezes é brusco
nem o cheiro a maresia
a rebate nas marés
na costa de lés a lés
mais tempo nos duraria
do que a espuma a nossos pés
a vida no sol-poente
fica assim num triste enleio
entre melindre e receio
de que a sombra se acrescente
e nós perdidos no meio
sem perdão e sem disfarce,
sem deixar uma pegada
por sobre a areia molhada,
a ver o dia apagar-se
e a noite feita de nada
por isso afinal não quero
ir contigo ao lusco-fusco,
meu amor, nem é sincero
fingir eu que assim te espero,
sem saber bem o que busco.
Vasco Graça Moura, in "Antologia dos Sessenta Anos"
A poesia de Vasco Graça Moura é caracterizada por um tom
melancólico e reflexivo e a sua escrita é rigorosa e formal, baseada na tradição da lírica portuguesa.
Neste poema o sujeito poético mostra um desejo pessoal e íntimo de estar “enlaçado” ao seu amor ao anoitecer, pelo recurso ao verbo no
passado, “quis-nos”, é dado a entender que no decorrer do poema esta vontade
mudará.
O sujeito poético revela não saber o que procura ao
certo, sendo os elementos naturais, como o pôr do sol e o vento, caracterizados
negativamente.
É feita uma analogia, onde o cheiro a maresia, que
normalmente é duradouro, duraria menos tempo que a espuma nos pés, o que
demonstra que a vontade de estar com o seu amor no” lusco fusco” tinha sido
passageira.
À medida que o “sol-poente” vai acabando, o sujeito
poético vai ficando triste com receio e vergonha de se perder no anoitecer. Quando
a noite e a escuridão chegam, o sujeito poético sabe que não precisará de
esconder possíveis pistas do seu encontro, contudo é nesse momento que se
apercebe e assume ser “insincero”, relativamente ao seu amor, este e continua sem
saber o que verdadeiramente procura.
Sofia Ferreira
Sofia Reis
12ºB
Sofia Reis
12ºB
Imagem 2 -
770 × 1070As imagens podem estar sujeitas a direitos de autor.
Sem comentários:
Enviar um comentário