Ficha formativa – “Felizmente Há Luar!” (P331)
1. O
excerto apresentado situa-se no 2º Ato da peça, quando a Matilde vagueia
desesperadamente pelas ruas à procura de alguém que possa salvar o seu marido,
falando com várias pessoas poderosas, aqui com Beresford e depois com D. Miguel
Forjaz e Principal Sousa.
2. Matilde apresenta-se uma lutadora, uma mulher
apaixonada e focada apenas na liberdade do seu marido e na paz da sua vida –
“Que me importa, a mim, que o rei seja tirano e o país miserável e mal
governado? (…) Quero o meu homem, quero o meu homem aqui, ao meu lado! Quero
acabar os meus dias em paz!”. Também se revela corajosa pois enfrenta quem for
preciso para ter o seu marido de volta, inclusive fala em “tom de desafio” e
com ousadia com Beresford, homem este que era um dos mais poderosos militares
da altura “ (exaltada) – Porque dizem a verdade? Porque veem para além da
cortina da hipocrisia com que os poderosos escondem a defesa dos seus
interesses”.
3. As
didascálias, aqui e como em todos os textos dramáticos, dão a indicação das
luzes e dos aspetos sonoros no palco “ (ouve-se, fora do palco, o murmúrio de
vozes humanas) ” tal como dão a indicação da movimentação das personagens e o
modo como estas têm de dizer as falas “ (rindo-se) ”,“ (pausa) ”. Todavia, em contraste
com as didascálias comuns nos outros textos, estas funcionam ainda como um texto
paralelo que “traduz” o que as personagens dizem, ou seja, está explícito nas
didascálias a intenção que certa personagem teve ao proferir certas palavras “
(Com desespero e como quem pensa pela primeira vez na hipótese) ”.
3.1. Os sinos,
tal como os tambores, têm aqui a dupla função de tanto abafar a voz do povo
(aqui especificamente a de Matilde) como a de exaltar o espírito destes. Quando
Matilde começa a ficar “exaltada”, ouvem-se os sinos, e à medida que ela começa
a dizer coisas mais “perigosas” para os regentes e poderosos políticos os sinos
começam
também
a tocar mais alto (o ruído dos sinos aumenta de intensidade). Isto, metaforicamente, faz com que a voz de Matilde seja abafada mas faz também
que ela ganhe força para falar mais alto.
4. Para
Matilde, Gomes Freire é o amado, o marido por quem ela faz tudo e com quem quer
“acabar os dias em paz”, por ele até “vende a honra”, ela ama este homem para
lá da razão, ele vale tudo. Já para Beresford, Gomes Freire é apenas um homem
que simplesmente por existir já está a cometer um crime, é apenas mais “um alvo
a abater”, não tem qualquer relevância emocional.
5. Existe
uma forte crítica à sociedade ao longo de toda na obra; no caso desta passagem, existe
uma crítica ao modo como o povo reage à opressão e também uma crítica aos
políticos regentes. É uma crítica bipartida: critica o povo, aqui representado
por Matilde, ela revela um desinteresse total na situação política e económica
do país importando-se apenas com a boa saúde do seu marido (“Que me importa a
mm que o rei seja tirano?”), valorizando a família ao bem-estar de toda a
sociedade, não se apercebendo da grande verdade, de que se o seu país estiver
bem regido não há necessidade para defender o seu marido, porque se houver
justiça e liberdade nunca Gomes Freire estaria preso em primeiro lugar.
É também uma
crítica aos políticos da altura e à sua crueldade e indiferença perante os
problemas do povo, Beresford aqui não tem qualquer problema em admitir que
Gomes Freire vai morrer apenas por ser uma imposição política, ele não age pelo
povo como faria um bom governador, ele age pelo interesse próprio e pela defesa
dos bens pessoais não se importando minimamente com o bem-estar social.
Maria Pio
Maria Pio
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