Este é um bom exemplo do que acontece nos exames: um excerto menos conhecido, que obriga o aluno a ler e interpretar MESMO!
Já fizemos em aula, mas toca a relembrar:
Exame 2012
1. Ao
chegar a casa grandes eram as diferenças no filho
pródigo, primeiro porque estava casado, ou melhor, junto com Blimunda de Jesus
– “trouxe mulher”; também para espanto de sua mãe, Baltasar chega a casa
mutilado da guerra, sem a sua mão esquerda (“uma (mão) lhe ficou no campo de
batalha”). Com uma mão desfeita e outra a segurar Blimunda, Baltasar ficava sem
uma para ganhar grande sustento, vindo assim também pobre (“de mãos vazias”),
pobre de dinheiros mas rico de alma – “todo o homem sabe o que tem, mas não
sabe o que isso vale”.
2. Marta
Maria recebe Baltasar com grande alegria mas rapidamente a visita se torna um
choque, ao vislumbrar a mão agora feita em gancho de Baltasar, Marta Maria
enche-se de dor (“dividida entre a dor que a mutilava naquele braço e a
inquietação de outra presença”), durante um longo momento ela farta o filho com
perguntas, sempre derramando lágrimas, com um grande sofrimento e uma enorme
dor de ver o seu único filho mutilado (“ (Baltasar) Ouviu as lágrimas e as
perguntas”)
Já João
Francisco não revelou êxtase ao ver a mutilação do filho atendendo-a com
ligeira indiferença e compreensão, “deu logo pela mutilação, mas dela não
falou, apenas isto, Paciência, quem foi à guerra”. Para João Francisco isto
seria talvez uma consequência óbvia de ir para o campo de batalha daí que não
fizesse julgamentos sobre aquilo que causava tanta dor à sua mulher.
3. Atravessando
por um momento de puro choque inicial, a relação entre Marta Maria e Blimunda
foi estabilizando para uma relação comum e previsível entre nora e sogra.
O choque de
Marta Maria ao ver o filho pela primeira vez depois de vários anos estava
focalizado em dois grandes pontos: a mutilação do filho e a de encontrar uma
nora (“dividida entre a dor que a mutilava naquele braço e a inquietação de
outra presença”), depois de discutir com o filho o que lhe tivera tirado o
braço, Marta Maria, ainda combalida da outra notícia, recebe Blimunda. No
decorrer da acção acontece aquilo que seria de esperar de duas mulheres na
altura, preparam a ceia, e assim, com uma acção tão simples como esta, ligam-se
de modo natural e aceitam-se mutuamente “daí a pouco estavam a sogra e a nora a
tratar da ceia”.
4. “Ai
a dureza do coração dos filhos, que estão vivos e fazem dos seus silêncios
morte”, com esta expressão o narrador revela a dureza presente nos corações dos
filhos que estão vivos e não dão notícias aos seus pais, causando neles uma dor
comparável à da morte dos seus descendentes. Lição intemporal aplicando-se de
facto a Baltasar, homem este que esteve “calando quase dois anos” em Lisboa, sem
dar qualquer notícia aos seus pais, apenas uma recente carta.
A mensagem é de que é necessário ter no coração uma frieza e dureza tais para estar vivo durante tanto tempo sem enviar uma única palavra aos pais, provocando com o seu silêncio uma dor abissal a seus pais.
A mensagem é de que é necessário ter no coração uma frieza e dureza tais para estar vivo durante tanto tempo sem enviar uma única palavra aos pais, provocando com o seu silêncio uma dor abissal a seus pais.
1 comentário:
Por lapso, falhou a autora: Maria Pio.
Obrigada, Maria
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