A pedido do grupo que está a trabalhar o assunto, ficam os textos da antiguidade com referência a Lisboa e ao nosso território. Retirem só o que vos interessa. São duas versões da Geografia de Estrabão. A frase inicial é de um geógrafo latino e crê-se atribuída a Lisboa.
Solino: Ibi oppidum Ulissippo ab Ulysse conditum
(cidade de Ulissipo aí fundada por Ulisses)
(cidade de Ulissipo aí fundada por Ulisses)
Solino, geógrafo latino (sécs.III-IV d.C.)
Estrabão, Geografia – Livro III[1]
Capítulo 1 –
Perspectiva geral da Península. Costa meridional da Ibéria
A partir do litoral contíguo ao Promontório
Sagrado* [Ponta de Sagres], por um lado é o começo do flanco ocidental da Ibéria*, até à
embocadura do rio Tejo*, por outro, o do flanco meridional, até outro rio, o
Anas*[nome antigo do rio Guadiana - «dos patos»], e à sua embocadura. Cada um deles flui desde as regiões orientais, mas o
Tejo*, que é muito maior que o outro, do Promontório Sagrado às Colunas de
Hércules lança-se directamente para o ocidente; o Anas*, por seu turno,
dirige-se para sul, delimitando a terra entre rios que habitam, na sua maior
parte, Célticos* e alguns dos Lusitanos* banidos do outro lado do Tejo* pelos
Romanos*. Nas regiões do interior vivem Carpetanos*, Oretanos* e
um grande número de Vetónios*. Esse território é moderadamente privilegiado,
mas o contíguo, a nascente e a sul, não deixa por certo de estar em vantagem,
distinguindo-se de todo o mundo habitado graças à sua fertilidade e aos bens da
terra e do mar. Esta é a região que o rio Bétis* atravessa, o qual tem origem
nos mesmos locais donde provêm o Anas* e o Tejo*, e se encontra a meio dos
outros dois quanto ao tamanho. De modo semelhante ao Anas*, corre a princípio
para oeste; depois volta-se para sul e desagua na mesma costa que aquele. A
partir do nome do rio, chamam Bética* à região; a partir dos seus habitantes,
Turdetânia*. Designam os habitantes como Turdetanos* e também como Túrdulos*,
pensando uns que são os mesmos e outros que são distintos (entre estes está
Políbio, ao afirmar que os Túrdulos* são vizinhos dos Turdetanos*, a norte; mas
neste momento, nenhuma distinção se revela entre eles. Estes são classificados como
os mais cultos entre os Iberos*: de facto, não só utilizam escrita, como têm registos
da história antiga, poemas e leis em verso com seis mil anos, como afirmam
(também os outros Iberos* utilizam a escrita, mas não de um único tipo, nem, de
facto, de uma única língua. Esta região deste lado do Anas* estende-se para
este até à Oretânia* e para sul até à costa entre a embocadura do Anas* e as
Colunas*. Sobre ela e sobre as que lhe são próximas, no entanto, é preciso
expor com mais delonga aquilo que contribui para o conhecimento das vantagens
naturais e da prosperidade desses territórios
[1]
In Repositório da Universidade de Coimbra. Disponível em https://digitalis-dsp.uc.pt/bitstream/10316.2/39957/1/Estrabao.pdf
1. Seguindo agora, partindo sempre do Promontório
Sagrado ([i][i]), a outra parte da costa, a que se dirige para o Tejo, observa-se a
princípio que a praia se encurva formando um golfo; depois segue-se o
Promontório Bárbaro ([ii][ii]), e logo após este a foz do Tejo: a travessia do dito golfo em linha recta
até à foz do Tejo é de 1000 estádios.
Nesta parte da costa há também
estuários. Destes, mencionaremos especialmente um, que, partindo do promontório
acima nomeado, se interna por mais de 400 estádios e [pode levar os navios até
Salácia ([iii][iii])]. O Tejo, com 20 estádios de largura na sua foz, tem ao mesmo tempo
bastante profundidade para que os maiores transportes do comércio o possam subir.
Forma dois esteiros nas planícies, que marginam o rio, todas as vezes que há
marés vivas, de tal modo que inunda esses campos numa extensão de 150 estádios
e os torna navegáveis. Destes dois lagos ou esteiros que o Tejo forma, o que
está situado mais acima contém uma pequena ilha de quase 30 estádios de
comprimento e outro tanto de largura, notável pela beleza dos seus olivais e
vinhedos. Esta ilha vê-se na altura de Morão, cidade bem situada sobre um
monte, muito próximo do rio, a quase a 500 estádios do mar, rodeada de férteis
campinas, com grande facilidade de comunicação pela via fluvial, porque os
maiores navios podem subir o rio numa boa parte do seu curso. De resto, é
navegável ainda mais longe acima de Morão, pelo que de Morão ao mar conserva-se
navegável às barcas e outras embarcações fluviais. Foi esta cidade que Bruto, denominado o Calaico, escolheu
para base de operações na sua campanha contra os Lusitanos, que terminou como é
sabido pela derrota destes povos. Além disso, fortificou Olisipón ([iv][iv]) que é pela sua posição a chave do rio, com o fim de dominar o seu curso,
e de poder sempre fazer chegar por esta via até ao seu exército as provisões
necessárias. Assim, estas duas cidades são as mais fortes entre as que marginam
o Tejo. Este rio, além de mui piscoso, abunda também em mariscos. Nasce entre
os Celtiberos e atravessa sucessivamente o país dos Vetões ([v][v]), e os dos Carpetanos ([vi][vi]) e dos Lusitanos, dirigindo ao Ocidente equinocial. Até um certo ponto do
seu curso corre paralelamente ao Anas e ao Bétis; mais longe, porém, afasta-se
deles, correndo estes rios então para a costa meridional.
[...]
[...]
6.
Os Lusitanos, segundo consta, são excelentes para armar emboscadas e descobrir
pistas; são ágeis, rápidos, dextros. O escudo de que se servem é pequeno, só
com dois pés de diâmetro, a parte anterior é côncava; trazem-no suspenso ao
pescoço por correias, não se vê um só com braçadeiras ou fivelas. Armam-se com
um punhal ou gládio. A maioria tem couraças de linho; outros, mas em pequeno
número, usam cota de malha e o capacete de tríplice cimeira; em geral os
capacetes são de couro. Os peões têm também polainas de curo, e cada um leva
muitos dardos compridos na mão; alguns servem-se de lanças com ponta de
bronze.
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