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22 fevereiro 2018

Lisboa - a cidade de Ulisses...

A pedido do grupo que está a trabalhar o assunto, ficam os textos da antiguidade com referência a Lisboa e ao nosso território. Retirem só o que vos interessa. São duas versões da Geografia de Estrabão. A frase inicial é de um geógrafo latino e crê-se atribuída a Lisboa. 
Solino: Ibi oppidum Ulissippo ab Ulysse conditum  
(cidade de Ulissipo aí fundada por Ulisses) 
                                                      Solino, geógrafo latino (sécs.III-IV d.C.)

 Estrabão - geógrafo, historiador e filósofo, sécs. I a.C- I d.C.

Estrabão, Geografia – Livro III[1]
Capítulo 1 – Perspectiva geral da Península. Costa meridional da Ibéria
A partir do litoral contíguo ao Promontório Sagrado* [Ponta de Sagres], por um lado é o começo do flanco ocidental da Ibéria*, até à embocadura do rio Tejo*, por outro, o do flanco meridional, até outro rio, o Anas*[nome antigo do rio Guadiana - «dos patos»], e à sua embocadura. Cada um deles flui desde as regiões orientais, mas o Tejo*, que é muito maior que o outro, do Promontório Sagrado às Colunas de Hércules lança-se directamente para o ocidente; o Anas*, por seu turno, dirige-se para sul, delimitando a terra entre rios que habitam, na sua maior parte, Célticos* e alguns dos Lusitanos* banidos do outro lado do Tejo* pelos Romanos*. Nas regiões do interior vivem Carpetanos*, Oretanos* e um grande número de Vetónios*. Esse território é moderadamente privilegiado, mas o contíguo, a nascente e a sul, não deixa por certo de estar em vantagem, distinguindo-se de todo o mundo habitado graças à sua fertilidade e aos bens da terra e do mar. Esta é a região que o rio Bétis* atravessa, o qual tem origem nos mesmos locais donde provêm o Anas* e o Tejo*, e se encontra a meio dos outros dois quanto ao tamanho. De modo semelhante ao Anas*, corre a princípio para oeste; depois volta-se para sul e desagua na mesma costa que aquele. A partir do nome do rio, chamam Bética* à região; a partir dos seus habitantes, Turdetânia*. Designam os habitantes como Turdetanos* e também como Túrdulos*, pensando uns que são os mesmos e outros que são distintos (entre estes está Políbio, ao afirmar que os Túrdulos* são vizinhos dos Turdetanos*, a norte; mas neste momento, nenhuma distinção se revela entre eles. Estes são classificados como os mais cultos entre os Iberos*: de facto, não só utilizam escrita, como têm registos da história antiga, poemas e leis em verso com seis mil anos, como afirmam (também os outros Iberos* utilizam a escrita, mas não de um único tipo, nem, de facto, de uma única língua. Esta região deste lado do Anas* estende-se para este até à Oretânia* e para sul até à costa entre a embocadura do Anas* e as Colunas*. Sobre ela e sobre as que lhe são próximas, no entanto, é preciso expor com mais delonga aquilo que contribui para o conhecimento das vantagens naturais e da prosperidade desses territórios


[1] In Repositório da Universidade de Coimbra. Disponível em  https://digitalis-dsp.uc.pt/bitstream/10316.2/39957/1/Estrabao.pdf


1. Seguindo agora, partindo sempre do Promontório Sagrado ([i][i]), a outra parte da costa, a que se dirige para o Tejo, observa-se a princípio que a praia se encurva formando um golfo; depois segue-se o Promontório Bárbaro ([ii][ii]), e logo após este a foz do Tejo: a travessia do dito golfo em linha recta até à foz do Tejo é de 1000 estádios.
Nesta parte da costa há também estuários. Destes, mencionaremos especialmente um, que, partindo do promontório acima nomeado, se interna por mais de 400 estádios e [pode levar os navios até Salácia ([iii][iii])]. O Tejo, com 20 estádios de largura na sua foz, tem ao mesmo tempo bastante profundidade para que os maiores transportes do comércio o possam subir. Forma dois esteiros nas planícies, que marginam o rio, todas as vezes que há marés vivas, de tal modo que inunda esses campos numa extensão de 150 estádios e os torna navegáveis. Destes dois lagos ou esteiros que o Tejo forma, o que está situado mais acima contém uma pequena ilha de quase 30 estádios de comprimento e outro tanto de largura, notável pela beleza dos seus olivais e vinhedos. Esta ilha vê-se na altura de Morão, cidade bem situada sobre um monte, muito próximo do rio, a quase a 500 estádios do mar, rodeada de férteis campinas, com grande facilidade de comunicação pela via fluvial, porque os maiores navios podem subir o rio numa boa parte do seu curso. De resto, é navegável ainda mais longe acima de Morão, pelo que de Morão ao mar conserva-se navegável às barcas e outras embarcações fluviais. Foi esta cidade que Bruto, denominado o Calaico, escolheu para base de operações na sua campanha contra os Lusitanos, que terminou como é sabido pela derrota destes povos. Além disso, fortificou Olisipón ([iv][iv]) que é pela sua posição a chave do rio, com o fim de dominar o seu curso, e de poder sempre fazer chegar por esta via até ao seu exército as provisões necessárias. Assim, estas duas cidades são as mais fortes entre as que marginam o Tejo. Este rio, além de mui piscoso, abunda também em mariscos. Nasce entre os Celtiberos e atravessa sucessivamente o país dos Vetões ([v][v]), e os dos Carpetanos ([vi][vi]) e dos Lusitanos, dirigindo ao Ocidente equinocial. Até um certo ponto do seu curso corre paralelamente ao Anas e ao Bétis; mais longe, porém, afasta-se deles, correndo estes rios então para a costa meridional.
[...]

6. Os Lusitanos, segundo consta, são excelentes para armar emboscadas e descobrir pistas; são ágeis, rápidos, dextros. O escudo de que se servem é pequeno, só com dois pés de diâmetro, a parte anterior é côncava; trazem-no suspenso ao pescoço por correias, não se vê um só com braçadeiras ou fivelas. Armam-se com um punhal ou gládio. A maioria tem couraças de linho; outros, mas em pequeno número, usam cota de malha e o capacete de tríplice cimeira; em geral os capacetes são de couro. Os peões têm também polainas de curo, e cada um leva muitos dardos compridos na mão; alguns servem-se de lanças com ponta de bronze. 

Versão do Capítulo III do Livro III da Geografia de Estrabão, relativo à Lusitânia, disponível em http://malomil.blogspot.pt/2012/11/lusitania-de-estrabao.html



[i] Ponta de Sagres.


[ii] Cabo Espichel.


[iii] Alcácer do Sal.


[iv] Lisboa.

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