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16 abril 2024

Poetas contemporâneos - leituras

Bibliografia Manuel Alegre:
Nasceu a 12 de maio de 1936 em Águeda. Estudou direito na Universidade de Coimbra. Em 1963 foi preso pela PIDE e um ano depois exilou-se em Paris, só voltando a Portugal depois do 25 de abril. Mais recentemente, em 2005, candidatou-se à presidência da república tendo sido o segundo candidato mais votado. Paralelamente com a sua vida política, Manuel Alegre, escreveu diversos poemas como a “Praça da Canção” e o “Auto de António”. Escreveu também, alguns livros tanto de ficção como de literatura infantil.

Bibliografia Ruy Belo:
Nasceu a 27 de fevereiro de 1933 em Rio Maior. Eatudou direito na Universidade de Coimbra e depois na de Lisboa. Foi considerado um dos mais conseituados poetas portugueses da segunda metade do século XX. Foi professor universitário em Madrid e professor na Escola Secundária Ferreira Dias. Escreveu, durante a sua vida, diversos poemas como “Aquele grande rio Eufrates” e “E tudo era possível”. Morreu em Queluz no dia 8 de agosto de 1978.

Bibliografia Alexandre O'Neill:
Nasceu em Lisboa a 19 de dezembro de 1924 e foi um dos poetas fundadores do movimento surrealista português, foi preso diversas vezes pela PIDE. Publicou poesia mas também prosa e traduções. Escreveu o slogan “Há mar e mar, há ir e voltar”. O poeta português só foi reconhecido como tal em 1958. Escreveu “Há palavras que nos beijam” e “Feira cabisbaixa”. Morreu em Lisboa a 21 de agosto de 1986.
***
“E tudo era possível” 
Na minha juventude antes de ter saído
da casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido

Chegava o mês de maio era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela houvesse acontecido

E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer

Só sei que tinha o poder duma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer

                                                              Ruy Belo, Homem de Palavra[s]
                  
Leitura 1. (Afonso e Alexandra)
O grande tema é o sonho e como ele pode ser o “motor” da vida. O sujeito poético reflete sobre a sua infância e juventude, mostrando uma grande vontade de regressar a esses tempos. Apresenta-se a dicotomia “antes” e “agora”. O “antes” corresponde à idade da infância caracterizada pela despreocupação. O “agora” corresponde à idade adulta.

Leitura 2. (B.Bento e B. Lucas)
Neste poema, Ruy Belo faz referência a um tempo de sonho, esperança, alegria e inocência reforçando o poder da imaginação e da inconsciência na construção de uma ideia de mundo.
Contudo, o poeta caracteriza a juventude como uma fase alheia a uma realidade, sem responsabilidades nem preocupações. Este poema reproduz no leitor um sentimento de nostalgia relativamente às lembranças da juventude.
Assim, este poema remete-nos para um confronto entre o nosso tempo de infância e a realidade adulta, em que se intensifica a dificuldade da tomada de decisões.
“Letra para um hino”
É possível falar sem um nó na garganta
É possível amar sem que venham proibir
É possível correr sem que seja a fugir.
Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta.

É possível andar sem olhar para o chão
É possível viver sem que seja de rastos.
Os teus olhos nasceram para olhar os astros.
Se te apetecer dizer não grita comigo: Não.

É possível viver de outro modo.
É possível transformares em arma a tua mão.
É possível o amor. É possível o pão.
É possível viver de pé.

Não te deixes murchar. Não deixes que te domem.
É possível viver sem fingir que se vive.
É possível ser homem.
É possível ser livre livre livre.

                                                      Manuel Alegre 

Leitura 1.
O poema é uma exortação à ação de modo a atingir a liberdade. A grande mensagem está presente no vocábulo “hino”. Este representa um apelo à ação para a libertação da vida vivida com a finalidade de alcançar a vida sonhada/possível. Neste poema está presente uma relação de oposição entre a “terra” - «olhar para o chão» e o “céu” - «Os teus olhos nasceram para olhar os astros». A “terra” ilustra a vida submissa e sem ânimo. O “céu” representa a vida sonhada/idealizada, a que todos os homens têm direito. (Afonso e Alexandra)

 Leitura 2.
O poema “Letra para um hino” (página 212 do Manual) é um hino à sociedade livre, uma crítica à ditadura e uma demonstração de honra, coragem e olhar destemido em relação ao mundo. Foi escrito em 1967, em pleno regime ditatorial. Sendo o “hino” uma composição poética em honra da nação, o próprio título do poema dá a ideia que os versos de Manuel Alegre deveriam ser os ideais da nação, ao contrário dos ideais que a ditadura impõe. (Diana e Daniel)

 O poema assenta na anáfora (repetida doze vezes) - «É possível», essencial à compreensão da mensagem essencial - a de que a liberdade e a esperança não eram impossíveis em Portugal, a de que é necessário e «possível» insurgir.-se, dizer «não» - "Se te apetecer dizer não grita comigo: Não.".
A sociedade repressiva e autoritária existente no país é caracterizada pela evocação da falta de liberdade de expressão - «com um nó na garganta», «amar sem que venham proibir», «viver sem que seja de rastos», a pobreza e a subserviência - «o pão», «murchar», «domem». 
Para o poeta a condição de homem - «ser homem» - é indissociável da liberdade, pelo que o poema finaliza com a tripla repetição do adjetivo - «livre, livre, livre».

“Há palavras que nos beijam” 
Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

Alexandre O'Neill, in 'No Reino da Dinamarca'
“Há palavras que nos beijam”

Este poema revela a capacidade que as palavras têm de despertar em nós diversos sentimentos como o amor e a esperança, apenas pelo simples facto de serem mencionadas, ouvidas ou pensadas. As palavras são símbolo de coragem, força e determinação. Estas podem dar-nos esperança bem como cor para a vida. O próprio título do poema é  uma personificação, em que as palavras surgem como se tivessem boca e nos pudessem beijar, dando ainda mais força emocional ao poder que estas têm.
(a completar)
Afonso e Alexandra

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