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Sobre a literatura, artigo de Mario Vargas Llosa
A literatura, enquanto existir, continuará sendo um denominador comum da
experiência humana. Aqueles de nós que leram Cervantes, Shakespeare, Dante ou
Tolstoi entendem-se uns aos outros e sentem-se indivíduos da mesma espécie porque,
nas obras desses escritores, aprenderam o que partilhamos com seres humanos,
independentemente de posição social, geografia, situação financeira e período
histórico.
Nada nos protege melhor da estupidez do preconceito, do racismo, da
xenofobia, do sectarismo religioso ou político e do nacionalismo excludente do
que esta verdade que sempre surge na grande literatura: todos são
essencialmente iguais.
A literatura permite-nos viver num
mundo onde as regras inflexíveis da vida real podem ser quebradas, onde nos
libertamos do cárcere do tempo e do espaço, onde podemos cometer excessos sem
castigo e desfrutar de uma soberania sem limites. Como não nos sentirmos
enganados depois de ler “Guerra e Paz” ou “Em Busca do Tempo Perdido” e voltar
a este mundo de detalhes insignificantes, obstáculos, limitações, barreiras e
proibições que nos espreitam de todo canto e em cada esquina corrompem nossas
ilusões?
Quer dizer, a vida imaginada dos romances é melhor: mais bonita e diversa,
mais compreensível e perfeita. Talvez seja esta a maior contribuição da literatura
ao progresso: lembrar que o mundo é malfeito, e que poderia ser melhor, mais
parecido com o que a imaginação é capaz de criar.
A sociedade livre e democrática requer cidadãos responsáveis, críticos,
independentes, difíceis de manipular, em constante efervescência espiritual e
cientes da necessidade de examinar continuamente o mundo em que vivemos, para
tentar aproximá-lo do mundo em que gostaríamos de viver.
Sem insatisfação e rebeldia, ainda viveríamos em estado primitivo, a
história teria parado, o indivíduo não teria nascido, a ciência não teria
alçado voo, os direitos humanos não teriam sido reconhecidos e a liberdade não
existiria.
(Excerto)
297 palavras
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