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27 janeiro 2015

Um silêncio mudo


Cansa sentir quando se pensa.
No ar da noite a madrugar
Há uma solidão imensa
Que tem por corpo o frio do ar.

Neste momento insone e triste
Em que não sei quem hei-de ser,
Pesa-me o informe real que existe
Na noite antes de amanhecer.

Tudo isto me parece tudo.
E é uma noite a ter um fim
Um negro astral silêncio surdo
E não poder viver assim.

(Tudo isto me parece tudo.
Mas noite, frio, negro sem fim,
Mundo mudo, silêncio mudo —
Ah, nada é isto, nada é assim!)
                                                                      Fernando Pessoa 


Tópicos de análise do poema "Cansa sentir quando se pensa" de Fernando Pessoa

Recursos estilísticos presentes:
-Perífrase: "noite a madrugar"
-Adjetivação: "solidão imensa"
-Dupla Adjetivação: "momento insone e triste"

- Existe uma grande insistência no campo lexical da "noite", que pode ser considerada um espaço de guarnição de ideias e pensamentos. A noite é de onde vai surgir o dia novo, a reposição de energias, como está evidenciado pelo uso de: "Noite antes do amanhecer"

No 1º verso -"Cansa sentir quando se pensa" está presente a temática pessoana associada binómio sentir/pensar, a ideia de que o pensamento e o sentimento estão ligados. A dor de pensar é provocada pela intelectualização do sentir, quando pensamos muito no que estamos a sentir, deixamos de ter sensações e emoções puras, pois o pensar elimina o sentir, e cansa.

Neste poema, a dor de pensar resulta também da ausência de respostas, que leva o sujeito poético a sentir-se só, numa "solidão imensa", simbolizada pela "noite", pelo "negro astral", pelo "silêncio surdo", pelo "frio", pelo "negror sem fim" e pelo "silêncio mudo"; a incomunicabilidade de «silêncio» é acentuada pelos adjetivos «surdo» e «mudo»; o estado de espírito triste e solitário do poeta enquadra-se no ambiente noturno e silencioso que o poeta retrata.

O sujeito poético preocupa-se com o mistério da existência, para ele a vida é uma ilusão, como se verifica pelos versos: "(...) não sei quem hei-de ser / Pesa-me o informe real que existe". A ausência de respostas provoca a consciência da tragicidade da vida. Tal como se pode constatar pelo último verso do poema, o poeta não pode viver sem a verdade, sem a obtenção de respostas.

Trabalho realizado por: Margarida M. e Carolina B. 12ºC

5 comentários:

sousa.eduardo disse...

Neste poema é descrita a separação da realidade do sujeito poético da sua imaginação e sonhos, separação esta representada pelo muro. O sujeito poético encontra-se separado dos sues desejos, que estão do outro lado do muro- “Tudo é do outro lado//No que há e no que penso.
O início do poema é marcado por um paradoxo: “Contemplo o que não vejo”. O sujeito poético ao “imaginar” algo irreal “observa”, mas como é algo sonhado não o pode ver na realidade. O poema termina também com um aparente paradoxo que se baseia na diferença de significados do verbo ser e do verbo estar: o sujeito poético afirma não ser triste mas que está triste; a utilização do verbo ser aponta uma característica do sujeito, e sendo que o poeta nega essa característica, é possível concluir que para o sujeito a tristeza que experiencia é momentânea, expressada pelo vero estar (que neste caso representa apenas algo temporário). Esta tristeza não é, no entanto, sentida- “não sinto”, mas sim resultante do raciocínio, ideia presente em vários poemas de Fernando Pessoa ortónimo.
Apesar da existência do “muro”, a contemplação confunde o sujeito, fazendo-o duvidar o que é real (interior do muro) do que é sonhado (exterior do muro). O poema aborda, portanto, os temas da realidade, do sonho, da sua confusão e da supremacia do irreal, demonstrada por “Tudo é do outro lado”.

Anónimo disse...

análise do poema contemplo o que não vejo

Anónimo disse...

Conclusão da análise do poema: "Autopsicografia"
O poeta é um fingidor pois a dor que descreve no poema não é "a dor que deveras sente" mas sim a "recordação" da dor que outrora sentiu. Fernando Pessoa quer que se perceba que, mesmo escrevendo sobre emoções e sentimentos, não se traduz numa "dor sentida" mas sim na reflexão sobre esse mesmo sentimento.Na última estrofe está presente uma metáfora que nos permite resumir este poema numa frase: o coração distrai a razão.
Marta Matos e Iovana Fernandes 12ºE

Anónimo disse...

Análise do poema “Às vezes em sonho triste”
No primeiro verso, “Ás vezes em sonho triste”, o adjetivo “triste” carateriza o sujeito poético no momento do sonho, estamos perante uma hipálage.
O advérbio “Longinquamente” e o adjetivo “longínquo” são dois vocábulos da mesma família que acentuam o afastamento do mundo sonhado pelo sujeito poético face ao seu mundo real. Assim, contribuem para demarcar a realidade da ambiência feliz e positiva que envolve o sonho descrito pelo poeta.
Nos anseios do sujeito estamos perante uma ideia de felicidade que corresponde à ingenuidade e à inocência decorrentes da ausência da racionalização, tal como acontece no momento do nascimento dos seres humanos (“Vive-se como se nasce/Sem o querer nem saber” vv.6-7), a qual eliminaria todas as produções inteletuais, como a organização mental do tempo (O tempo morre e renasce/Sem que o sintamos correr” vv.9-10) ou a inteletualização das emoções (“O sentir e o desejar/São banidos dessa terra” vv.11-12). Ou seja, constituiria um retorno à infância.
O verso “É uma infância sem fim”, através da referência simbólica à infância, resume o ambiente de felicidade e de inocência que o sujeito poético compôs no seu sonho.
Relação “jardim” - “impossível”
Enquanto símbolo do paraíso, o jardim corresponde ao local idílico desejado pelo eu poético para recriar um tempo de infância. Contudo, dadas as suas caraterísticas o sujeito lírico reconhece que esse jardim é impossível de atingir no plano da realidade.

João Dias e Sara Gomes 12ºC

Anónimo disse...

Manual página 156-157 : Tudo o que faço ou medito : Questões resolvidas
Síntese:

Neste poema, o sujeito poético procura auto-analisar-se, em relação às coisas que deseja e às coisas que acaba por realizar, demonstrando frustração (“que nojo de mim me fica”) pois conclui que o desejo vai sempre muito mais longe do que a ação, isto é, da concretização daquilo que sonha.

1) Na primeira estrofe verificamos que o sujeito poético não conclui da sua auto-análise imagens coincidentes, pois apesar de desejar querer o infinito na verdade não faz nada para o alcançar, fica sempre a meio – (“ Fica sempre na metade).

1.1) O sentimento instalado no sujeito poético, como podemos observar no poema, é um sentimento de nojo, ou seja, o poeta procura auto-analisar-se com a sua lucidez aguda, a sua alma “lúcida e rica”, na tentativa de se conhecer. No entanto, aquilo que encontra é um espelho sem reflexo, “um mar de sargaço” que impede o encontro consigo mesmo.

2) Nos versos “minha alma é lúcida e rica / e eu sou um mar de sargaço”, Fernando Pessoa está se a contradizer, pois, primeiro afirma que a sua alma é “lúcida e rica” e depois afirma-se como “ um mar de sargaço”. Isto é , tendo o poeta uma “alma lúcida e rica” seria mais facil chegar ao infinito, conseguir alcançar os seus objetivos, mas apesar disso fica sempre a meio e por isso ao mesmo tempo se considerar “um mar de sargaço”.

3) A Expressividade da palavra fragmentos refere-se a um mar onde bóiam pedaços de um mar de além, trata-se de um mar distante, um mar irreal, mas livre e desimpedido, onde os sonhos de Pessoa possam tornar se reais, onde tudo o que ele imagina possa realizar-se isto é , os fragementos referem-se a pedaços de Fernando Pessoa, ou seja ao longo do "mar de além" ainda pode acontecer muito e faze-lo mudar de ideias, poderá acontecer um milagre, um imprevisto...

4) A interrogação: “ vontades ou pensamentos” e o paradoxo “Não o sei e sei o bem” presentes nos últimos dois versos do poema referem-se a impossbilidade de se conhecer a si mesmo, a temática da multiplicidade do ser.

5) Os aspetos que melhor contribuem para a expressividade e a musicalidade do poema são:
• Ser um redondilha;
• Rima cruzada;
• Leitura facil;
• Não ser um poema muito grande
Conclusão: Este poema revela a tentativa de descoberta de si mesmo, que lhe revela a impossibilidade de se conhecer.

Análise Formal:
• Rima cruzada;
• Terceto:
• 3 quadras

Figuras de estilo:

Tudo o que faço ou medito
Fica sempre pela metade,
Querendo, quero o infinito. 
Fazendo, nada é verdade.
Que nojo de mim me fica
Ao olhar para o que faço!
Minha alma é lúcida e rica, 
E eu sou um mar de sargaço. 
Um mar onde bóiam lentos
Fragmentos de um mar d além...
Vontades ou pensamentos?
Não o sei e sei-o bem. 

“Querendo, quero i infinito” – verso 3  Aliteração : Consiste na repitição de determinados elementos fônicos, ou seja, sons consonantais idênticos.


“Minha alma é lúcida e rica” - verso 7 
Adjetivação : Consiste em atribuir qualidades aos substantivos. ( maior beleza, reforço ao texto literário).


“E eu sou um mar de sargaço” – verso 8  Metáfora: Consiste em designar um objeto/ideia por uma palavra ou palavras de outro campo semânico, associando-os por analogia.


“Não o sei e sei o bem.” – último verso  Antitse: Cconsiste na expossição de ideias opostas. Ocorre quando há uma aproximaço de palavras ou expressões. ( Serve para dar um ênfase aos conceitos envolvidos.


Trabalho realizado por : Felicia Gestosa Pereira n°13
Patrici Faria
Ricardo Ganchas
12°E