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27 janeiro 2015

A Guerra



O MENINO DA SUA MÃE

No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas traspassado
— Duas, de lado a lado —,
Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino da sua mãe».

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lha a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
«Que volte cedo, e bem!»
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.
s. d.

Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995).
1ª publ. in Contemporânea, 3ª série, nº 1. Lisboa: 1926.


Neste poema é-nos transmitida uma imagem do soldado morto, quase como num quadro, que podemos ver na nossa mente. Primeiro que tudo é apresentado o fundo, uma planície abandonada e aquecida, o que se adequa à solidão do jovem moribundo. Estão presentes também duas balas, que representam a violência, a guerra, ideas bastante importantes neste poema e que vão ser contrastadas com a vida.

Na segunda estrofe vamos ter a descrição do estado do soldado. Esta estrofe vai tambem contribuir para a perceção do estado deplorável que é causado pela guerra, símbolo da violência máxima.
Em "Raia-lhe a farda o sangue" - percebemos pela mancha da farda com o seu sangue que está a esvair-se em sangue e já não tem força no corpo, tem os braços estendidos. Puro, branco,loiro, sem sangue, desfalecido, com um olhar morto fixado no céu.

O jovem soldado era conhecido como «o menino de da sua mãe», o que vai reforçar a ideia de que ele era de alguém, que tem alguém que o ama e que sofre com a sua morte prematura que é reforçada pelos versos " Tão jovem! que jovem era! / (Agora que idade tem?)" vai sofrer com tristeza e angústia por causa da sua morte.

Na quarta estrofe, a cigarreira remete para a mãe do soldado; o uso dos adjetivos "breve" "inteira" e "boa",vai transmitir que o soldado era novo, pois a cigarreira tendo sido breve e estando inteira e boa dá a ideia de que o soldado teria começado a fumar pouco tempo.Enquanto que o lenço remete para a criada velha que o criou e vai contribuir para o aumento do drama. O lenço tão leve que está ligado a alguém que o criou está ali a roçar o chão e já não serve para nada devido ao falecimento do soldado.

Na última estrofe deste texto vai culminar todo o drama com a idea da esperança da mãe e da velha criada que ainda dizem "Que volte cedo, e bem!", desconhecendo a realidade da situação. Desde o verso da primeira estrofe "Jaz morto, e arrefece" para o deste final "Jaz morto, e apodrece" há uma descrição que apesar de semelhante apresenta uma diferença importante, que neste caso é uma gradação de um inicial estado em que o jovem "arrefece" para um em que "apodrece", uma intensificação trágica.

Este poema apresenta um contraste entre os objetos que representam a vida - como o lenço, relacionado com o amor da criada, a cigarreira, associada com o amor da sua mãe assim como o seu nome "menino de sua mãe" - com a violência extrema representada pelas balas, o sangue e o vocabulário como arrefece e apodrece.



Trabalho realizado por: Beatriz Sabino;Pedro Soares;Samuel Vicente e Valter Quintino 12ºC

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