Relê, revê o que já havias passado, regista as ideias-chave, confronta com os teus textos de análise dos poemas e melhora o que escreveste.
A Mensagem é um livro de 44 poemas breves, escritos em várias épocas,
que, no seu conjunto, constituem um longo poema. Apresenta uma leitura
simbólica e mítica da História de Portugal. Apesar de partir de um núcleo
histórico concreto, e de personagens com existência histórica, o que interessa
ao poeta, o que une todos esses “heróis” (ganhadores ou perdedores), é o seu
lado ideal e mítico, o cumprimento de uma missão maior a que foram chamados, a
“febre d’Além” (ver D. Fernando, Infante de Portugal), a grandeza de alma
insatisfeita, o sonho que eleva a humanidade acima da “besta sadia”. A matéria
literária é histórica. A leitura dela feita é lírica, simbólica e mítica.
Na Mensagem,
Portugal é um instrumento de Deus; os heróis cumprem um destino que os
ultrapassa: “Foi Deus a alma e o corpo Portugal”. (F.P.) “Deus ou os deuses talharam o destino dos
povos.” (J. Prado Coelho)
A Mensagem é um “elogio do Português, desvendador e dominador de
mundos”, não enquanto poderio terreno, mas enquanto ideal, procura de Absoluto.
Por isso o Império Português do Século XVI foi apenas um “obscuro e carnal
arremedo” desse outro Império Espiritual por achar: “Cumpriu-se o Mar, e o império se
desfez./Senhor, falta cumprir-se Portugal!” . Pessoa exalta não o
Império terreno, mas o Projecto, a Ideia condutora, o imaterial, o sonho, o
mito, a fome de impossível, a loucura enquanto arrojo, quimera.
“Depois da conquista
dos mares deve vir a conquista das almas.”
Também Camões e Os Lusíadas apresentam uma visão
mística e de missão da História de Portugal. D. Sebastião n’Os Lusíadas é
“Maravilha fatal da nossa idade, / Dada ao mundo por Deus, que todo o mande,
/Para do mundo a Deus dar parte grande” (para alargar a Cristandade). D.
Sebastião é o símbolo do nosso messianismo – promessa, esperança, salvação,
renovação. Mas muito do que em
Os
Lusíadas é acção/história,
na Mensagem é já só ideal / mito. Do destinatário real de Os Lusíadas (D. Sebastião, rei de
Portugal em 1572) Camões espera acção concreta ligada ao ideal de cruzada, num
tempo específico, face a problemas, situações e vícios enumerados ao longo da
obra, nos finais dos cantos. Para Pessoa, a evocação da figura é do âmbito do
símbolo, do mito. Pessoa no-lo afirma:
«O sebastianismo,
fundamentalmente, o que é? É um movimento religioso, feito em volta duma figura
nacional no sentido dum mito. / No sentido simbólico D. Sebastião é Portugal:
Portugal que perdeu a grandeza com D. Sebastião, e que só voltará a tê-la com o
regresso dele, regresso simbólico. (…) morto D. Sebastião, o corpo, se
conseguirmos evocar qualquer coisa em nós que se assemelhe à forma do esforço
de D. Sebastião, ipso facto o teremos
evocado (…) Por isso quando houverdes criado uma coisa cuja forma seja
idêntica à do pensamento de D. Sebastião, D. Sebastião terá regressado.»
Fernando Pessoa, in
Sobre Portugal, ed. Ática (sublinhado, meu)
Quanto à estrutura Os Lusíadas são pela forma e pela
substância (exaltação da acção humana) uma epopeia clássica, a narração onde se
entrelaçam a Viagem de Vasco da Gama, as intrigas dos Deuses e a História de
Portugal.
A estrutura da Mensagem tem por base uma teoria
cíclica – a das Idades;
A obra está dividida em três partes, pois olha a história da
pátria como o mito de um nascimento (Brasão), vida (Mar Português) e morte de um mundo, seguida dum renascimento (O Encoberto): “Ó Portugal, hoje és nevoeiro... / É a Hora ! “ (“Nevoeiro”) . A primeira e a terceira parte
estão subdivididas: Brasão subdivide-se de acordo com os símbolos da bandeira
nacional - «Os Campos», «Os Castelos»,
«As Quinas», «A Coroa» e «O Timbre»; a 3ª apresenta «Os Símbolos», «Os Avisos»
e «Os Tempos». Todas estas divisões e designações revelam um sentido
emblemático, ocultista; mais interpretativo e espiritual que narrativo/épico
(como acontece em Os Lusíadas ). Pessoa
vê símbolos em tudo.
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