Total visualizações

28 setembro 2023

Fernando Pessoa, Mensagem

“Desejo ser um criador de mitos, que é a tarefa mais alta que pode obrar alguém na humanidade.” F. Pessoa


«Publiquei em Outubro passado, pus à venda, propositadamente, em 1 de Dezembro, um livro de poemas, formando realmente um só poema, intitulado Mensagem. (...) A muitos (...) certas coisas causaram perplexidade e confusão; a estrutura do livro, a disposição nele das matérias, e mormente a mistura, que ali se encontra, de um misticismo nacionalista, ordinariamente colado, onde entre nós apareça, ao espírito e às doutrinas da Igreja de Roma, com uma religiosidade, deste ponto de vista, nitidamente herética.
 (...) de facto, fui sempre fiel, por índole, e reforçada ainda por educação - a minha educação é toda inglesa -, aos princípios essenciais do liberalismo - que são o respeito pela dignidade do Homem e pela liberdade do Espírito, ou, em outras palavras, o individualismo e a tolerância, ou, ainda, em uma só palavra, o individualismo fraternitário.
 

Há três realidades sociais - o indivíduo, a Nação, a Humanidade. Tudo mais é fictício.
São ficções a Família, a Religião, a Classe. É ficção o Estado. É ficção a Civilização. O indivíduo, a Nação, a Humanidade são realidades porque são perfeitamente definidos. Têm contorno e forma. O indivíduo é a realidade suprema porque tem um contorno material e mental - é um corpo vivo e uma alma viva .
A Nação é também uma realidade, pois a definem o território, ou o idioma, ou a continuidade histórica - um desses elementos, ou todos. (...) A Humanidade é outra realidade social, tão forte como o indivíduo, mais forte ainda que a Nação, porque mais definida do que ela. O indivíduo é, no fundo, um conceito biológico; a Humanidade é, no fundo, um conceito zoológico - nem mais nem menos do que a espécie animal, formada de todos os indivíduos de forma humana. Uma e outra são realidades com raiz. A Nação, sendo uma realidade social, não o é material: é mais um tronco que uma raiz. O Indivíduo e a Humanidade são lugares, a Nação o caminho entre eles. É através da fraternidade patriótica (...) que gradualmente nos sublimamos, ou sublimaremos, até à fraternidade com todos os homens

(...)
Ser intensamente patriota é três coisas. É, primeiro, valorizar em nós o indivíduo que somos, e fazer o possível por que se valorizem os nossos compatriotas, para que assim a Nação, que é a suma viva dos indivíduos que a compõem, e não o amontoado de pedras e areia que compõem o seu território, ou a coleção de palavras separadas ou ligadas de que se forma o seu léxico ou a sua gramática possa orgulhar-se de nós que, porque ela nos criou, somos seus filhos, e seus pais, porque a vamos criando.
Fernando Pessoa, Páginas Íntimas e de Autointerpretação (os destaques são nossos)


Na Mensagem, os heróis só têm sentido enquanto figuras míticas. Não está em causa os feitos que realizaram ou a glória que alcançaram (veja-se o caso de D. Fernando - Infante de Portugal ou de D. Sebastião), mas tão só aquilo que a sua ação e/ou o seu ideal significou na história e na evolução da humanidade. 

Os navegadores/descobridores portugueses além de criarem uma identidade nacional que sublimaram, realizaram uma missão, uma obra que está para além da capacidade de decisão humana - «os portugueses cumpriram, na perspetiva pessoana, um desejo divino, tendo percorrido um caminho que deve ser encarado como um processo iniciático, cuja finalidade é o aperfeiçoamento progressivo do ser humano»

2 comentários:

Unknown disse...

A estrutura da Mensagem representa um ciclo de nascimento,vida e morte da pátria. Mas esta morte não é definitiva,pois pressupõe um renascimento que será o Quinto Império. Portugal, que no passado edificou um império territorial, edificará no futuro um império espiritual.

O Quinto Império é um poema sobre o Homem e o viver.

D.Sebastião é o símbolo- sebastianismo.

Análise do poema o Quinto Império:
1º estrofe- Segundo o poeta,na vida o importante é o sonho,e que sem sonhar a vida é triste, sem graça, mesmo que estejamos no lugar mais acolhedor. Nos primeiros dois versos desta estrofe encontra-se uma antítese : ''Triste'' ; ''Contente''. No terceiro verso, o ''erguer de asa'' simboliza a liberdade característica dos passáros e no último verso desta estrofe a palavra ''lareira'' simboliza o conforto que as pessoas que estão conformadas com a vida não querem abandonar.


2º estrofe- Quem é feliz limita-se a viver por viver, sem procurar outras formas de felicidade: ''triste de quem é feliz!'' o poeta refere-se aos conformados da vida que por viverem bem não se preocupam em alcançar novos objetivos na vida e que se limitam a viver : ''mais que a lição da raiz- ter por vida a sepultura.'' o nosso fim.


3ºestrofe - o tempo vai passando e as coisas vão mudando , mas o descontentamento nunca muda. A nossa força está na alma. Nesta estrofe encontra-se o verso chave, o mais importante para o poema : '' Ser descontente é ser homem.'' ou seja o Homem nunca está realmente contente porque está sempre à procura de novas coisas para realizar e poder progredir, é isso que nos diferencia.


5º estrofe- nesta estrofe, Pessoa entendia que os cinco impérios eram o da Grécia , o de Roma, o da Cristandade , o da Europa pós-renascentista e o império de Portugal. Pessoa defendia a ideia de que Portugal , através da sua língua e da sua cultura , dominaria o resto da Europa.


Ana Gomes 12ºE

Noémia Santos disse...

Ainda não tinha deixado aqui o registo relativo ao teu trabalho aqui publicado e apresentado em aula.

Cumpre o pedido e, em aula, percebeu-se que entendeste o fundamental. Atenção, todavia, ao seguinte:
As primeiras frases devem vir entre aspas, com a referência adequada.
O que aqui está por tópicos, deverá ser passado para texto corrido, para aproximação à tarefa a cumprir no(s) testes/exame.