- Lê atentamente. Regista no caderno as frases-chave de cada um dos textos.
(…) Para Fernando Pessoa, recordar não é reviver, é apenas verificar com dor que fomos outra coisa cuja realidade essencial não nos é permitido recuperar. Vimos da sombra e vamos para a sombra. Só o presente é nosso, mas que é o presente senão a linha ideal que separa o passado do futuro?
Assim toda a vida é fragmentária, a personalidade una é uma ilusão, não podemos apreender em nós uma constante que nos identifique. O sentimento heraclitiano da transitoriedade das coisas conduz à negação do eu. Viver no tempo é depararmo-nos com o vazio de nós próprios: «Quem me dirá quem sou?» (…)
[Jacinto do Prado Coelho, Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa, Editorial Verbo, 1979, Ser e Conhecer-se, pág. 89]
[Jacinto do Prado Coelho, Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa, Editorial Verbo, 1979, Ser e Conhecer-se, pág. 89]
B
(…) Ele tinha o seu laboratório de linguagem. Estava consciente disso, e espantava-se e maravilhava-se como se tudo se passasse fora dele. «No lado de fora de dentro», como ele próprio diria. Porque era realmente dentro dele que se produzia a obra, que se aceleravam os mecanismos que acompanham a produção de palavras, de metáforas, de versos, de poemas, de odes inteiras.
Observava-se, examinava atentamente o trabalho rigoroso do poeta, as transformações sofridas por essa matéria-prima (as sensações) de que emergia a linguagem. Matéria-prima ou transformada, porque se tratava também dos efeitos das palavras sobre a receptividade dos sentidos; não importa: por uma dessas reviravoltas em cascata em que ele era mestre, e graças às quais o segundo se torna primeiro, o direito, avesso, ou o dentro, fora, o seu próprio laboratório poético transformou-se em matéria de linguagem; produtor de sensações aptas a converter-se em poema. (…)
[José Gil, Fernando Pessoa ou a Metafísica das Sensações, Relógio d’Água, 1996, O Laboratório Poético, pág. 9]
(…) Ele tinha o seu laboratório de linguagem. Estava consciente disso, e espantava-se e maravilhava-se como se tudo se passasse fora dele. «No lado de fora de dentro», como ele próprio diria. Porque era realmente dentro dele que se produzia a obra, que se aceleravam os mecanismos que acompanham a produção de palavras, de metáforas, de versos, de poemas, de odes inteiras.
Observava-se, examinava atentamente o trabalho rigoroso do poeta, as transformações sofridas por essa matéria-prima (as sensações) de que emergia a linguagem. Matéria-prima ou transformada, porque se tratava também dos efeitos das palavras sobre a receptividade dos sentidos; não importa: por uma dessas reviravoltas em cascata em que ele era mestre, e graças às quais o segundo se torna primeiro, o direito, avesso, ou o dentro, fora, o seu próprio laboratório poético transformou-se em matéria de linguagem; produtor de sensações aptas a converter-se em poema. (…)
[José Gil, Fernando Pessoa ou a Metafísica das Sensações, Relógio d’Água, 1996, O Laboratório Poético, pág. 9]
C
(…) Não: a vida de Pessoa é na verdade a vida ideal do poeta; Pessoa é, como homem, a imagem da imobilidade. Ninguém quis ser menos aparente; toda a sua vida se envolve, não direi, porque detesto romantizar, de mistério, mas sim de discreto pudor, de amor ao silêncio e à contemplação. (…)
(…) Não: a vida de Pessoa é na verdade a vida ideal do poeta; Pessoa é, como homem, a imagem da imobilidade. Ninguém quis ser menos aparente; toda a sua vida se envolve, não direi, porque detesto romantizar, de mistério, mas sim de discreto pudor, de amor ao silêncio e à contemplação. (…)
[Adolfo Casais Monteiro, A Poesia de Fernando Pessoa, INCM, 1985, O Insincero Verídico, pág. 89]
As três citações acima transcritas estão publicados na página da CASA FERNANDO PESSOA
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