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18 setembro 2013

Texto argumentativo - discurso político


O texto abaixo está trabalhado com sublinhados, de forma a evidenciar a estratégia discursiva de acordo com as regras retóricas deste tipo de texto. Assim:
 
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Intervenção do Presidente da República na Cerimónia de Comemoração dos 101 anos da Proclamação da República Lisboa, Paços do Concelho, 5 de Outubro de 2011[1]


"Celebrámos em 2010 o centenário da instauração da República. Este ano, neste dia 5 de Outubro, a República Portuguesa inicia o segundo centenário da sua existência.
Neste novo século republicano, os Portugueses vivem tempos de incerteza perante o que o futuro lhes trará. No plano internacional, emergem sinais preocupantes de que a situação económica e financeira se poderá agravar de novo. Num mundo cada vez mais globalizado e interdependente, o mau desempenho das economias desenvolvidas irá reflectir-se inevitavelmente sobre as outras economias.

No mundo novo deste século novo, a Europa encontra-se numa encruzilhada quanto ao seu futuro. Os princípios fundadores do projecto europeu estão a ser postos à prova de uma forma muito profunda e até dramática.
Vivemos dias que são um teste decisivo para a vitalidade da União Europeia e compete-nos a todos nós, povos deste Continente antigo, decidir se queremos uma União que seja um mero aglomerado de mercados ou se, pelo contrário, desejamos concretizar a aspiração de uma Europa coesa e solidária, unida tanto nos bons como nos maus momentos. Só dessa forma a Europa será fiel às suas raízes e conseguirá satisfazer os anseios de bem-estar partilhado que estiveram na génese das Comunidades.
Os líderes europeus da actualidade têm de saber estar à altura dos ideais grandiosos de Jean Monnet ou de Robert Schuman.
Portugal tem de se afirmar, no contexto de uma União Europeia digna desse nome, como um Estado credível e como uma República que honra os seus compromissos.

Temos de ser um país determinado a resolver os seus problemas, de forma livre, soberana e independente. Poderemos ser ajudados em alturas de dificuldades, mas que nenhum português tenha dúvida: é a nós, cidadãos desta República, que cabe construir uma economia saudável e encontrar caminhos de futuro. Se não fizermos o nosso trabalho, de pouco adiantará receber um auxílio que é necessariamente limitado no montante e na duração.

A adesão de mais de metade dos actuais Estados-membros da União Europeia é posterior à nossa. Temos, também por isso, especiais responsabilidades na valorização do projecto europeu. É essencial que o País inteiro seja um agente activo da defesa e do aprofundamento de um projecto comum, cujo enfraquecimento representaria uma irreparável perda para todos os povos da Europa.

Sem qualquer dúvida, o fracasso da experiência do euro iria arrastar consigo toda a União, mergulhando-a num turbilhão de resultados imprevisíveis. A diluição da zona euro seria o início de um processo que culminaria na destruição da Europa unida, tal como a conhecemos e ambicionámos. Se isso acontecesse, que credibilidade apresentariam os países europeus no quadro de um mundo globalizado e extremamente competitivo?

É esta a grande questão que os líderes europeus devem colocar, a si próprios e aos cidadãos dos seus países.



Portugueses,

Vivemos tempos muito difíceis. Essa é uma realidade que ninguém de bom senso poderá negar. Durante alguns anos, foi possível iludir o que era óbvio, pese os avisos que foram feitos dos mais diversos quadrantes. Agora, estamos confrontados com uma situação que irá exigir grandes sacrifícios aos Portugueses, provavelmente os maiores sacrifícios que esta geração conheceu.

Temos de ter presente, ainda assim, que Portugal atravessou crises difíceis ao longo da sua existência multissecular. Difíceis foram os tempos que antecederam a Primeira República, como difíceis foram os anos da Grande Guerra em que participámos com o sangue dos heróis.

Difíceis são as missões das Forças Armadas, em Portugal e no estrangeiro, merecedoras da nossa admiração e respeito e nas quais os Portugueses se revêem pelo sentido de dever e pelo seu carácter eminentemente nacional.

Difíceis foram os tempos do passado, mas aqui estamos, hoje, para celebrar a República a que nos orgulhamos de pertencer. Neste país onde vivemos, na terra onde morreram os nossos antepassados e onde nasceram os nossos filhos.

É justamente por isso que, nos nossos dias, se torna tão premente reinventar o republicanismo, fundar um espírito republicano ajustado às exigências cívicas do novo século.

Tempos como este são difíceis, sem dúvida, mas os tempos difíceis são tempos de ensinamentos e a crise possui virtualidades que nos fazem mais fortes, porque mais conscientes e realistas.

Perdemos muitos anos na letargia do consumo fácil e na ilusão do despesismo público e privado. Acomodámo-nos em excesso. Agora, temos de aprender a viver de acordo com as nossas possibilidades e a tirar partido das nossas potencialidades.

A crise que atravessamos é uma oportunidade para que os Portugueses abandonem hábitos instalados de despesa supérflua, para que redescubram o valor republicano da austeridade digna, para que cultivem estilos de vida baseados na poupança e na contenção de gastos desmesurados, para que regressem ao consumo de produtos nacionais, para que revisitem o seu país e aí encontrem paisagens esquecidas e um património histórico que só sendo conhecido pode ser acarinhado e preservado.

O republicanismo deste novo século deverá ser mais exigente quanto à justiça na distribuição da riqueza e na repartição dos sacrifícios. Portugal vinha acumulando intoleráveis assimetrias, para as quais múltiplas vezes chamei a atenção dos Portugueses.

O País acusava a marca de graves desequilíbrios no ordenamento do território, na disparidade de rendimentos, nas desiguais oportunidades que concedia às diversas gerações.

O reajustamento financeiro do Estado e a reorganização da sua estrutura não podem perder de vista a necessidade de corrigir os défices de justiça territorial, social e geracional que vinham corroendo as bases da coesão de cidadania que deve existir entre os membros de uma República una e solidária.

A cultura republicana implica uma reforma profunda do exercício de funções públicas. Precisamente porque se pedem mais sacrifícios, o exemplo dos agentes políticos tem de ser mais autêntico.

Em momentos como o presente, diminui de forma substancial a tolerância dos cidadãos perante o despesismo público e o gasto improdutivo, o que constitui um efeito positivo da situação que atravessamos.

Temos agora a oportunidade de, quer na esfera privada, quer na esfera pública, corrigirmos defeitos e erradicarmos vícios que, de outro modo, permaneceriam longe do olhar crítico dos cidadãos, mas não deixariam de os afectar no seu quotidiano e no futuro das novas gerações.

Os cidadãos da República centenária são mais exigentes quanto à necessidade de uma mudança profunda da acção política e têm plena consciência de que a Justiça do seu país tem de ser um factor de desenvolvimento e não um elemento de paralisia da actividade económica e da vida social.

Há mais de um século, dizia Oliveira Martins que, quando aparecem as crises, «vê-se mais ao vivo como as coisas são na realidade». Estamos agora confrontados com a realidade.

Acabaram os tempos de ilusões. Temos um longo e árduo caminho a percorrer, para o qual quero alertar os Portugueses de uma forma muito directa: a disciplina orçamental será dura e inevitável, mas se não existirem, a curto prazo, sinais de recuperação económica, poder-se-á perder a oportunidade criada pelo programa de assistência financeira que subscrevemos.

A par do inevitável saneamento das contas públicas, tem de existir revitalização do tecido produtivo nacional, investimento privado, combate ao desemprego, aumento da produtividade e da produção de bens e serviços capazes de concorrer nos mercados externos. Se tal não ocorrer, os desequilíbrios financeiros terão uma correcção meramente temporária e estaremos de novo colocados na contingência de recorrer à ajuda externa, a qual, a acontecer, se irá processar em condições ainda mais gravosas para os Portugueses. Temos de o evitar a todo o custo.

Há um caminho, estreito e difícil, que passa pela disciplina na utilização dos dinheiros públicos e pelo aumento da poupança interna, mas também pelo crescimento da nossa economia.

Temos potencialidades de que nem sempre nos apercebemos. A segurança favorece o desenvolvimento do turismo de qualidade. Os oceanos permanecem em larga medida por explorar, em tudo aquilo que nos podem oferecer de forma sustentável.

Os mercados da reabilitação urbana e do arrendamento devem ser activados, do mesmo modo que urge salvaguardar o nosso património histórico-cultural.

No aproveitamento da floresta e na produção de produtos regionais de referência, há um longo percurso a trilhar. Mas, acima de tudo, dispomos actualmente de gerações qualificadas e empreendedoras, cujo talento e cujo dinamismo não podemos desperdiçar.

Em tempos de escassez económica, há também que redescobrir o valor da cultura e dar prevalência à dimensão espiritual sobre a dimensão material da vida humana.

As iniciativas de voluntariado e de apoio aos mais carenciados, frequentemente protagonizadas por jovens, são um sinal encorajador de que é possível ter esperança. A par de uma justa repartição dos sacrifícios, tem de existir uma especial preocupação de inclusividade e de protecção daqueles que verdadeiramente precisam do nosso auxílio. Combatendo o desperdício de recursos, o Estado deve dar às famílias um exemplo de parcimónia e contenção.

Das empresas, por seu turno, espera-se um aumento da respectiva responsabilidade social, em particular nas regiões onde se inserem e geram riqueza e emprego.

A escola deve pautar-se por critérios de qualidade e exigência, pois só assim cumprirá o ideal republicano de pedagogia democrática.

Dos autarcas reclama-se uma maior atenção ao reforço da capacidade produtiva dos seus municípios e o lançamento de programas de apoio social, em articulação com as instituições da sociedade civil.

Portugueses,

Estamos no início do novo século republicano. Os Portugueses têm de saber o que pretendem do Estado e dos poderes públicos num contexto de grande escassez de recursos. Mas, acima de tudo, os Portugueses têm de saber o que querem fazer do seu futuro colectivo, agora que chegou um tempo em que não bastam os sacrifícios, mas em que é crucial poupar mais, trabalhar mais e melhor e fazer crescer a economia.

Não podemos agarrar-nos a soluções fáceis que a realidade depressa irá desmentir. Todos sabemos que não poderemos continuar a viver acima das nossas possibilidades. Temos de aprender a viver de acordo com o que produzimos, na consciência de que só produzindo mais e com mais qualidade iremos viver melhor.

Não duvido de que somos capazes. Provámo-lo no passado, provamo-lo todos os dias, em Portugal mas também no estrangeiro, seja nas comunidades da diáspora, seja no vasto conjunto de jovens investigadores que se destacam em diversas universidades por esse mundo fora.

Neste 5 de Outubro de 2011, exorto os Portugueses a trabalharem de acordo com as suas imensas capacidades, na certeza de que é esse o único caminho para construirmos a República do segundo centenário. Uma República mais livre, mais autêntica e mais justa. // Muito obrigado."

Presidência a República, http://www.presidencia.pt/?idc=22&idi=57670, acedido em 5 de outubro de 2011.



Ideias centrais + argumentos que as sustentam

Exemplos

Estratégias discursivas – contraste, repetição…

Vocativo – marca a mudança das partes do discurso

Ligação ao contexto de partida – 5 de outubro

Conclusão – retoma dos pontos essenciais

Reiteração

Apelo/exortação à ação







[1] No texto ainda não é utilizado o Novo Acordo Ortográfico, que só vigorará nos documentos públicos/de estado a partir de 1 de Janeiro de 2011.
No final, tens o texto sem sublinhados. Podes também consultar o site da Presidência da  República.

3 comentários:

Anónimo disse...

A reflexão do poeta que nos coube analisar está inserida no final do canto V (estrofes 96 a 100). Nesta fase da obra Camões já havia descrito a viagem até Melinde da tripulação de Gama, incluindo todas as peripécias e contratempos passados por este e pelos que estavam sob a sua alçada.
Neste excerto é-nos apresentada uma crítica à falta de interesse pelas artes por parto do povo lusitano. Inicialmente o poeta compara o povo luso aos povos da Antiguidade quanto aos feitos realizados, mas refere que existe uma diferença: enquanto os antigos prezavam o verso e a rima os portugueses nenhuma importância davam a essa área.
Garcia de Resende já afirmava, na introdução ao seu Cancioneiro, que o grande mal dos portugueses é nunca escreverem coisa que façam, e Camões refere que o seu povo não escrevia por falta de qualidades naturais mas sim por desleixo e desinteresse pela lírica (“Por isso, e não por falta de natura” Canto V, estrofe 98).
Dois, o poeta argumenta que se não existirem artistas que relatem os feitos heroicos realizados, estes nunca perpetuarão na História (“Não há também Virgílios nem Homeros / Nem haverão, se este costume dura / Pios Eneias nem Aquiles feros” estrofe 98, canto V).
Nas duas últimas estrofes o poeta refere-se claramente, contrariando a regra das epopeias clássicas, e tem em conta o seu grande valor referindo a necessidade de Gama lhe agradecer (n’Os Lusíadas às Musas, o que no fundo irá dar ao mesmo visto que são uma invenção de Camões) pois é ele que vai imortalizar os feitos heroicos do povo lusitano realizando uma complexa e grandiosa obra com “amor fraterno e puro gosto”. Mas isto não significa que o poeta despreze o valor dos lusitanos face à sua obra, muito pelo contrário, pois é também o próprio Camões que declara “Porém não deve enfim, de ter disposto / Ninguém a grandes obras sempre a peito / que, por esta ou por outra qualquer via / Não perderá seu preço e sua valia” estrofe 100, Canto V).
Bernardo Brasil
Francisco Reis

Demosfen disse...

Temos um longo e árduo caminho a percorrer, para o qual quero alertar os Portugueses de uma forma muito directa: a disciplina orçamental será dura e inevitável, mas se não existirem, a curto prazo, sinais de recuperação económica, poder-se-á perder a oportunidade criada pelo programa de assistência financeira que subscrevemos.
Quer dizer primeiro graças à ignorantes governadores desse país foi estragada a sua economia, agora é o povo que paga. muito bom
É óbvio que não é so o portugal que está com problemas económicos mas todo o mundo a sofrer uma críse provocada pelo descontrolado crescimento económico que desconhece os conceitos tais como "economizar" e "gerir" - uma anti-economia dominada pelas ETN cujo principal objetivo é tornar os ricos mais rícos e pobres mais pobres (assimetrias sociais)
O Portugal tem ou tinha muitas oportunidades de investimento que podiam criar uma conomia mais autónoma e racional que não foram aproveitadas.
1 o Portugal praticamente "matou" a sua agricultura
2 Em vez investir com objetivo de atrair para o país pessoas ricas, desenvolveu turismo massificado para pessoas não ricas.
3 Não houve politicas de proteção do seu território marítimo nem pesca nem piscicultura denevolvida. Desse modo os navios internacionais simplesmente passavam e apanhavam a maior parte das espécias marinhas
4 quase nenhum investimento em energias renováveis (já que não tem fontes de energias internas)
Os políticos são bons é para falar enquanto para agir - não são... e isso já não é uma ilusão enganosa
Mas pelo menos acordaram agora

Anónimo disse...

Insanidade é, segundo Einstein, fazer a mesma coisa várias vezes e esperar obter um resultado diferente, ou seja, a insanidade é o que estão a fazer com Portugal e Grécia. Aplica a mesma terapia económica e esperar obter resultado diferente, bom, e nós esperamos que Einstein tenha razão. Mas se olharmos a realidade de Portugal e dos portugueses,o orçamento de estado deste ano aproxima-nos da possibilidade de seguirmos o mesmo rumo da Grécia, porque o empobrecimento da sociedade, a rutura social, o aumento do impostos e muita austeridade, foram as soluções gregas e são, hoje, as soluções portuguesas criadas e solucionadas pela mesma visão, uma visão neoliberalista do mundo.
Portugal, em 1560, herdou um dívida de D.João III, a qual acabou com uma reestruturação da dívida soberana que demorou 10 anos a ser conseguida. Esperamos, para bem de Portugal, quando tivermos que renegociar a nossa não demore tanto para acontecer, mas para tal retrato não se concretizar era necessário que não a renegociássemos quando estivermos num ''buraco'' a transbordar de austeridade e sofrimento.
Já neste tempo foi possível mostrar aos portugueses que tinhamos,talento, identidade, força e coragem para superarmos qualquer dificuldade, exemplo disso foi a publicação d'Os Lusíadas que da ocidental praia lusitana passou a ilha de Ceilão(Taprobana) mas também a ilha grega e, hoje, podemos fazer o mesmo. E nesse sentido os portugueses têm de rejeitar qualquer imposição económica que altere a natureza da vida, temos que tomar com as nossas mãos os destinos das nossas vidas futuras para que estas não sejam tão enubladas como hoje, não estejam à mercê dos vai e vem dos mercados financeiros. Temos que nos manter unidos e coesos nesta fase difícil da nossa vida colectiva.
Terminamos não com apelos meramente interesseiros ou económicos aos quais estamos já saturados por parte, das ditas, " Troikas ", mas com um apelo à reflexão pessoal do sentimento coletivo da nossa sociedade, um apelo à análise materialista da nossa história porque se tivermos o patriotismo de L.Camões, a coragem dos resistentes anti- fascistas e o espírito de sacrifício de todo o nosso povo trabalhador, seremos capazes de ter um resultado diferente da Grécia.

Eda Garcês 12ºB
Gonçalo Arsénio 12ºB
João David 12ºB
Susana Vasconcelos 12ºB