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09 fevereiro 2008

Reflexões do Poeta

Camões - uma voz crítica



Mas eu que falo, humilde, baxo e rudo,
De vós não conhecido nem sonhado?
Da boca dos pequenos sei, contudo,
Que o louvor sai às vezes acabado.
Nem me falta na vida honesto estudo,
Com longa experiência misturado,
Nem engenho, que aqui vereis presente,
Cousas que juntas se acham raramente. (C.X, 154)

Camões, desenho de Júlio Pomar (acedido no sítio do Instituto Camões)


Para exemplificar o resultado do trabalho realizado em aula, destaco dois textos. Há mais em "comentários". É uma boa ajuda para quem precisa de saber mais e/ou compreender melhor este Plano.



As estrofes 96,97,98 e 99 do canto VIII estão incluídas no plano do poeta. Estas estrofes têm uma forte intenção crítica e fazem referência ao poder do dinheiro na vida das pessoas. O poeta diz que o dinheiro transforma os indivíduos ("Quanto no rico, assi como no pobre, /Pode o vil interesse e sede immiga/Do dinheiro, que a tudo nos obriga."estrofe 96 verso 6-8), que desde a antiguidade já se traía pelo dinheiro (" A Polidoro mata o Rei Treício, /Só por ficar senhor do grão tesouro; /Entra, pelo fortissimo edifício," estrofe 97 v. 1-3), faz esquecer o amor à pátria e aos amigos (" Faz tradores e falsos os amigos;(...) /E entrega capitães aos inimigos;" estrofe 98 v. 2 e 4), muda a justiça ("...este faz e desfaz leis;" estrofe 99 v. 2).
Este tema encontra-se actual, pois nos dias de hoje tudo se faz pelo dinheiro: na justiça o dinheiro paga as cauções, serve para fazer subornos, colocando os interesses pessoais acima de tudo e todos. O dinheiro apesar de ser necessário à sobrevivência também cria corrupção e muda as pessoas maioritariamente pela negativa.
Diogo Jorge
Diogo Bessa

Ivo
Rodrigo
12ºB
30 Janeiro, 2008 20:45


No final do Canto X, nas estrofes 145 a 148, Camões mostra o seu descontentamento a D. Sebastião (a quem a obra é dedicada) devido à pátria não reconhecer os seus feitos imortalizados através da arte, estando envolvida no materialismo - «no gosto da cobiça»:


O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Düa austera, apagada e vil tristeza.
Perante a consciência de que a pátria do presente já não possui um ideal de heroicidade e de virtude, o poeta apela a que este seja retomado pela acção do rei D. Sebastião e pelo exemplo dos antepassados, cantados pelo poeta ao longo de Os Lusíadas, pois o povo português merece, como se pode verificar nas estrofes 146 e 147 quando afirma que o rei é "Senhor só de vassalos excelentes".


O propósito é encorajar o rei a continuar a acção épica porque, a exemplo do passado, terá matéria humana que fará dele um vencedor e não um vencido: "Cometerão convosco, e não duvido/ Que vencedor vos façam, não vencido."


A reflexão do poeta tem actualidade na medida em que a sociedade do presente continua materialista, desvalorizando a espiritualidade, os ideais e as artes em geral. O ser português procura o caminho mais fácil, mais cómodo, vivendo da memória de um passado glorioso, sem nada fazer na prática para melhorar. Continuamos à espera de um D. Sebastião para libertar a pátria da crise em que naufraga.


Cristiana
David

Rute
12ºH
06 Fevereiro, 2008 21:52

Como vêem, há aqui matéria para discussão. Quem deita mais lenha na fogueira? Ou, pelo contrário, quem contesta esta visão negativa de Portugal?

1 comentário:

Noémia Santos disse...

Podem escolher comentar estas duas intervenções ou outras das que estão nos comentários anteriores. O importante é relacionarem com a actualidade e terem - também vocês - uma voz crítica.