Camões - uma voz críticaMas eu que falo, humilde, baxo e rudo,De vós não conhecido nem sonhado?Da boca dos pequenos sei, contudo,Que o louvor sai às vezes acabado.Nem me falta na vida honesto estudo,Com longa experiência misturado,Nem engenho, que aqui vereis presente,Cousas que juntas se acham raramente. (C.X, 154)Para exemplificar o resultado do trabalho realizado em aula, destaco dois textos. Há mais em "comentários". É uma boa ajuda para quem precisa de saber mais e/ou compreender melhor este Plano.
As estrofes 96,97,98 e 99 do canto VIII estão incluídas no plano do poeta. Estas estrofes têm uma forte intenção crítica e fazem referência ao poder do dinheiro na vida das pessoas. O poeta diz que o dinheiro transforma os indivíduos ("Quanto no rico, assi como no pobre, /Pode o vil interesse e sede immiga/Do dinheiro, que a tudo nos obriga."estrofe 96 verso 6-8), que desde a antiguidade já se traía pelo dinheiro (" A Polidoro mata o Rei Treício, /Só por ficar senhor do grão tesouro; /Entra, pelo fortissimo edifício," estrofe 97 v. 1-3), faz esquecer o amor à pátria e aos amigos (" Faz tradores e falsos os amigos;(...) /E entrega capitães aos inimigos;" estrofe 98 v. 2 e 4), muda a justiça ("...este faz e desfaz leis;" estrofe 99 v. 2).
Este tema encontra-se actual, pois nos dias de hoje tudo se faz pelo dinheiro: na justiça o dinheiro paga as cauções, serve para fazer subornos, colocando os interesses pessoais acima de tudo e todos. O dinheiro apesar de ser necessário à sobrevivência também cria corrupção e muda as pessoas maioritariamente pela negativa.
Diogo Jorge
Diogo Bessa
Ivo
Rodrigo
12ºB
30 Janeiro, 2008 20:45
No final do Canto X, nas estrofes 145 a 148, Camões mostra o seu descontentamento a D. Sebastião (a quem a obra é dedicada) devido à pátria não reconhecer os seus feitos imortalizados através da arte, estando envolvida no materialismo - «no gosto da cobiça»:
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Düa austera, apagada e vil tristeza.
Perante a consciência de que a pátria do presente já não possui um ideal de heroicidade e de virtude, o poeta apela a que este seja retomado pela acção do rei D. Sebastião e pelo exemplo dos antepassados, cantados pelo poeta ao longo de Os Lusíadas, pois o povo português merece, como se pode verificar nas estrofes 146 e 147 quando afirma que o rei é "Senhor só de vassalos excelentes".
O propósito é encorajar o rei a continuar a acção épica porque, a exemplo do passado, terá matéria humana que fará dele um vencedor e não um vencido: "Cometerão convosco, e não duvido/ Que vencedor vos façam, não vencido."
A reflexão do poeta tem actualidade na medida em que a sociedade do presente continua materialista, desvalorizando a espiritualidade, os ideais e as artes em geral. O ser português procura o caminho mais fácil, mais cómodo, vivendo da memória de um passado glorioso, sem nada fazer na prática para melhorar. Continuamos à espera de um D. Sebastião para libertar a pátria da crise em que naufraga.
Cristiana
David
Rute
12ºH
06 Fevereiro, 2008 21:52
Como vêem, há aqui matéria para discussão. Quem deita mais lenha na fogueira? Ou, pelo contrário, quem contesta esta visão negativa de Portugal?