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24 outubro 2014

O Infante


 O Infante

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.

Deus quis que a terra fosse toda uma,

Que o mar unisse, já não separasse.

Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,

E a orla Branca foi de ilha em continente,

Clareou, correndo, até ao fim do mundo,

E viu-se a terra inteira, de repente,

Surgir, redonda, do azul profundo.
 

Que te sagrou criou-te português.

Do mar e nós em ti nos deu sinal.

Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.

Senhor, falta cumprir-se Portugal!


1-  Situar na obra   Trata-se do primeiro poema da segunda parte – Mar Português – da Mensagem- antologia (colecção) de poemas de Fernando Pessoa escrita entre 1913 e 1934, data da sua publicação. Esta obra contém poesia de carácter épico-lírico. Nesta segunda parte da obra que nos propomos analisar abordam-se o esforço heróico na luta contra o Mar e a ânsia do Desconhecido.

Aqui merecem especial atenção os navegadores que percorreram o mar em busca da imortalidade, cumprindo um dever individual e pátrio (realização terrestre de uma missão superior).


2-Figura, facto ou época de Portugal que serve de matéria literária.

A figura portuguesa presente é o Infante D. Henrique e ainda faz referência ao auge da civilização Portuguesa, como já referimos anteriormente os Descobrimentos.

3-Qual a reflexão do poema, o que significa esse acontecimento, essa figura?

A figura de Infante D. Henrique representa os descobrimentos que tem como desígnio(Plano, ideia ou prepósito que alguém pretende realizar) pela força divina       que quis que fossem os portugueses a descobrir(Referir estrofe e verso 1)

O homem haja por vontade divina em consequência dessa vontade a terra foi descoberta, descobrindo então que era redonda e que ao exemplo de outros impérios, tais como, Império Grego, Romano e a Cristandade Europeia que conquistaram bastante território, e em Portugal foi a abertura de mares e descoberta de novos territórios povos e culturas. Na parte espiritual em que o poeta acha que Portugal teve outra parte que representa a organização de valores do pensamento.

No entanto, Portugal não influenciou os povos que descobriu, como o exemplo dos gregos que o seu império caiu há 2 mil anos e ainda temos a maneira de pensar e ainda possuímos o latim que nasceu com os romanos, daí que esta parte ainda não esteja concluída em Portugal, mas ainda existe esperança de que Portugal consiga com que outros povos tenham o mesmo pensamento e os mesmos valores que Portugal.


4- Análise concreta do poema, com referência a todo o vocabulário, os tempos verbais, palavras com carga simbólica, verso-chave, figuras de Estilo mais relevantes no poema.


. 1.ª parte (1.º verso) As três etapas que presidem à construção da obra humana, traduzidas pelo mote / provérbio «Deus quer, o homem sonha, a obra nasce».

Representa duas ações

- a vontade divina;

- o sonho do homem;


. Os três «sujeitos» dependem mutuamente uns dos outros, numa relação de causa efeito: sem a vontade do primeiro (Deus), o segundo(Homem) não sonharia e a obra não poderia nascer.

. O verso, constituído por três orações assindéticas justapostas (assíndeto e gradação), organiza-se em torno de formas verbais no presente do indicativo, de aspeto durativo, exprimindo realidade, valor de lei, uma verdade universal.

 
. 2.ª parte (versos 2 a 8) Desenvolvimento do primeiro verso:


1) . Desejo de Deus (agente da vontade):

. A unidade da terra, através do mar, de forma a servir de elemento de união entre os continentes e os povos, daí a existência de um conjunto de palavras e expressões que sugerem a ideia de união: «uma», «unisse», «não separasse», «inteira»; (Estrofe 1 verso 2 e 3)

. A colocação das formas verbais predominantemente no pretérito perfeito do indicativo sugere que o princípio em causa e se concretizou.


2) . A sagração do Infante: para o cumprimento dessa missão, Deus sagrou o Infante, isto é, predestinou-o para os grandes feitos das descobertas («… em ti nos deu sinal.» v. 10 estrofe 3) . Foi, então, Deus quem quis que o Infante sonhasse dominar os mares, desvendar o desconhecido e estabelecer a ligação, a nível matéria e espiritual / cultural, ou seja, que desse sonho nascesse a obra dos Descobrimentos.

           Assim, o Infante é o símbolo do herói, destinado a criar uma obra superior.

. A forma verbal «Sagrou» (Estrofe 3 verso 9) possui grande expressividade:

contém ligações religiosas;

remete para o caráter mítico e predestinado do Infante, traduz  

. O complexo verbal «foste desvendando» (v. 4) apresenta a ação como uma continuidade, como algo que se concretizou de modo progressivo, desconhecido.

 
3) . A realização da obra, a sagração:

→ o início da navegação: «foste desvendando» e-1 v-4;

→ a descoberta das ilhas da Madeira e dos Açores até à costa africana: «E a orla branca foi de ilha em continente»;E-2 V-5

→ a passagem do Cabo das Tormentas: «até ao fim do mundo»;e-2 V-6

o mar desconhecido a partir da zona do Cabo das Tormentas: «do azul profundo»;E-2 V-8

a concretização:

. a união da terra: «E viu-se a terra inteira»; E-2 V-7

. o seu caráter súbito: «de repente»; E-2 V-7

. o aparecimento: «Surgir»; E-2 V-8

 
a unificação do mundo alicerçou-se no mar (na «orla branca»);

→ («clareou»)V-6 E-2, ou seja, da ignorância se passou ao conhecimento.

→ «o fim do mundo» V-6 E-2, assim se eliminaram as barreiras e os limites;

→ deste modo, do mar (do «azul profundo»), «de repente», irrompeu a unificação do mundo. V 7/8 E-2

. A realização da obra é sugerida por Pessoa através do recurso a diversos recursos poético estilísticos:

. a gradação relacionada com a enumeração: começou por desvendar «ilha(s)» e «continente(s)»,. as metáforas e as sinédoques são figuras de linguagem que permitem o uso de palavras ou expressões em sentido figurado.: «desvendando a espuma», «orla branca», «clareou, correndo»;

a perifrástica | A conjugação perifrástica é constituída por um verbo principal no infinitivo ou no gerúndio e um verbo auxiliar no tempo que se quer conjugar - «foste desvendando»;


. a locução adverbial | O conjunto de duas ou mais palavras que têm valor de advérbio  «de repente»; V-7 E-2


. Assíndeto  é uma figura de estilo que consiste na omissão das conjunções ou conectivos (em geral, conjunções copulativas), resultando no uso de orações justapostas ou orações coordenadas assindéticas, separadas por vírgulas ou também poderá ser uma gradação/ enumeração : «Deus quer, o homem sonha, a obra nasce». V-1 e- 1

 
3.ª parte (3.ª estrofe)

Deus sagrou o Infante e criou-o português;

enquanto tal, simboliza o povo a que pertence, o que significa ele foi predestinado, escolhido por Deus para desvendar o mar desconhecido;

 
. o sonho cumpriu-se: o desvendar e a unificação dos mares e a criação do império;

. a pátria, presentemente, não tem desígnio;

. o apelo ao cumprimento do destino mítico de Portugal: uma nova e espiritual missão («Senhor, falta cumprir-se Portugal!» v. 12). Trata-se do apelo a um novo sonho, de cariz espiritual, visto que a dimensão material do império já foi conseguida, ou seja, falta que Portugal se cumpra como pátria e entidade nacional (uso do presente do indicativo para exprimir urgência).

Recursos poético-estilísticos


3. Nível semântico

. Vocabulário de ligações simbólicas:

«sagrou-te»: E-1 V-4; sugere a escolha do Infante para uma missão divina («Deus quer»); e-1 v-1

o uso de maiúsculas (Mar, Império);

«mar»: simboliza o desconhecido, o mistério, daí as expressões «desvendar a espuma», isto é, desfazer o mistério, descobrir, ultrapassando as dificuldades que se lhe deparam; o traço de união de ilhas e continentes (vv. 2-3); «nos deu sinal», ou seja, dar a chave para decifrar o mistério;

 
«espuma» V-4 E-1(branca), «orla branca»E-2 V-1 (é o sulco de espuma deixado pelos navios; simboliza o longo percurso que tiveram de percorrer para que os Descobrimentos se concretizassem), «clareou» V-6 E-2, «surgir» E-2 V-8 (sair das sombras, revelar-se, conhecer), «do azul profundo» V-8 E-2 (do mar imenso e profundo, é o símbolo do desconhecido, em oposição ao «clarear», que é o revelado): estas expressões sugerem a passagem do mistério para a descoberta, para o conhecimento - «E viu-se a terra inteira, de repente, / Surgir redonda…» (Verso 6 estrofe 2).

 
Conclusão

O poema acaba com o verso  “Senhor, falta cumprir-se Portugal!” que resume esta ideia de missão inacabada, que ficou a meio e também a ideia de que Portugal tinha um desígnio divino para esta missão.

 


Adriana Simões e António Rocha 12ºE


Nota: Falta indicar as fontes que serviram de base à análise. Aguardo.

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