O Infante
Deus quer, o homem
sonha, a obra nasce.
Deus quis que a
terra fosse toda uma,
Que o mar unisse,
já não separasse.
Sagrou-te, e foste
desvendando a espuma,
E a orla Branca foi
de ilha em continente,
Clareou, correndo,
até ao fim do mundo,
E viu-se a terra
inteira, de repente,
Surgir, redonda, do
azul profundo.
Que te sagrou
criou-te português.
Do mar e nós em ti
nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e
o Império se desfez.
Senhor, falta
cumprir-se Portugal!
1- Situar na obra Trata-se
do primeiro poema da segunda parte – Mar Português – da Mensagem- antologia
(colecção) de poemas de Fernando Pessoa escrita entre 1913 e 1934, data da sua
publicação. Esta obra contém poesia de carácter épico-lírico. Nesta segunda
parte da obra que nos propomos analisar abordam-se o esforço heróico na luta
contra o Mar e a ânsia do Desconhecido.
Aqui
merecem especial atenção os navegadores que percorreram o mar em busca da
imortalidade, cumprindo um dever individual e pátrio (realização terrestre de
uma missão superior).
2-Figura,
facto ou época de Portugal que serve de matéria literária.
A
figura portuguesa presente é o Infante D. Henrique e ainda faz referência ao
auge da civilização Portuguesa, como já referimos anteriormente os
Descobrimentos.
3-Qual
a reflexão do poema, o que significa esse acontecimento, essa figura?
A
figura de Infante D. Henrique representa os descobrimentos que tem como
desígnio(Plano, ideia ou prepósito que alguém pretende realizar) pela força
divina que quis que fossem os
portugueses a descobrir(Referir estrofe e verso 1)
O
homem haja por vontade divina em consequência dessa vontade a terra foi
descoberta, descobrindo então que era redonda e que ao exemplo de outros
impérios, tais como, Império Grego, Romano e a Cristandade Europeia que
conquistaram bastante território, e em Portugal foi a abertura de mares e
descoberta de novos territórios povos e culturas. Na parte espiritual em que o
poeta acha que Portugal teve outra parte que representa a organização de
valores do pensamento.
No
entanto, Portugal não influenciou os povos que descobriu, como o exemplo dos
gregos que o seu império caiu há 2 mil anos e ainda temos a maneira de pensar e
ainda possuímos o latim que nasceu com os romanos, daí que esta parte ainda não
esteja concluída em Portugal, mas ainda existe esperança de que Portugal
consiga com que outros povos tenham o mesmo pensamento e os mesmos valores que
Portugal.
4-
Análise concreta do poema, com referência a todo o vocabulário, os tempos
verbais, palavras com carga simbólica, verso-chave, figuras de Estilo mais
relevantes no poema.
.
1.ª parte (1.º verso) ‑
As três etapas que presidem à construção da obra humana,
traduzidas pelo mote / provérbio «Deus quer, o homem sonha, a obra nasce».
Representa
duas ações
- a vontade divina;
- o sonho do homem;
.
Os três «sujeitos» dependem mutuamente uns dos outros, numa relação de causa
efeito: sem a vontade do primeiro (Deus), o segundo(Homem) não sonharia e a
obra não poderia nascer.
.
O verso, constituído por três orações assindéticas justapostas (assíndeto e
gradação), organiza-se em torno de formas verbais no presente do indicativo, de aspeto durativo, exprimindo realidade, valor
de lei, uma verdade universal.
.
2.ª parte (versos 2 a 8) ‑
Desenvolvimento do primeiro verso:
1)
. Desejo de Deus (agente da vontade):
.
A unidade da terra, através do mar, de forma a servir de elemento de união
entre os continentes e os povos, daí a existência de um conjunto de palavras e
expressões que sugerem a ideia de união: «uma», «unisse»,
«não separasse», «inteira»; (Estrofe 1 verso 2 e 3)
.
A colocação das formas verbais predominantemente no pretérito perfeito do indicativo sugere que o princípio em causa e se concretizou.
2)
. A sagração do Infante: para o
cumprimento dessa missão, Deus sagrou o
Infante, isto é, predestinou-o para os grandes feitos das descobertas («…
em ti nos deu sinal.» ‑
v. 10 estrofe 3)
. Foi, então, Deus quem quis que o Infante sonhasse dominar os mares, desvendar
o desconhecido e estabelecer a ligação, a
nível matéria e espiritual / cultural, ou seja, que desse sonho nascesse a obra
dos Descobrimentos.
Assim, o Infante é o símbolo do herói, destinado a criar uma obra
superior.
.
A forma verbal «Sagrou» (Estrofe 3 verso
9) possui grande expressividade:
‑contém ligações
religiosas;
‑ remete para o
caráter mítico e predestinado do Infante, ‑ traduz
.
O complexo verbal «foste desvendando»
(v. 4) apresenta a ação como uma continuidade, como algo que se concretizou
de modo progressivo, desconhecido.
3) . A realização da obra, a
sagração:
→
o início da navegação: «foste
desvendando» e-1 v-4;
→
a descoberta das ilhas da Madeira e dos
Açores até à costa africana: «E a
orla branca foi de ilha em continente»;E-2 V-5
→ a passagem do Cabo das
Tormentas: «até ao
fim do mundo»;e-2 V-6
→ o mar desconhecido a partir da zona do
Cabo das Tormentas: «do azul profundo»;E-2 V-8
→
a
concretização:
.
a união da terra: «E viu-se a terra
inteira»; E-2 V-7
.
o seu caráter súbito: «de repente»; E-2 V-7
.
o aparecimento: «Surgir»; E-2 V-8
→
a unificação do mundo alicerçou-se no
mar (na «orla branca»);
→
(«clareou»)V-6 E-2, ou seja, da ignorância se passou ao conhecimento.
→
«o fim do mundo» V-6 E-2, assim se eliminaram as barreiras e os limites;
→
deste modo, do mar (do «azul profundo»), «de repente», irrompeu a unificação do
mundo. V 7/8 E-2
.
A realização da obra é sugerida por Pessoa através do recurso a diversos
recursos poético estilísticos:
. a gradação relacionada com a
enumeração: começou por desvendar «ilha(s)» e «continente(s)»,. as
metáforas e as sinédoques são
figuras de linguagem que permitem o uso de palavras ou expressões em sentido
figurado.: «desvendando a espuma»,
«orla branca», «clareou, correndo»;
a perifrástica |
A conjugação perifrástica é constituída
por um verbo principal no infinitivo ou no gerúndio e um verbo auxiliar no
tempo que se quer conjugar - «foste desvendando»;
. a locução adverbial | O conjunto de duas ou mais palavras que
têm valor de advérbio «de repente»; V-7 E-2
. Assíndeto é uma figura de estilo que consiste na
omissão das conjunções ou conectivos (em geral, conjunções copulativas),
resultando no uso de orações justapostas ou orações coordenadas assindéticas,
separadas por vírgulas ou também poderá ser uma gradação/ enumeração : «Deus
quer, o homem sonha, a obra nasce». V-1 e- 1
3.ª parte (3.ª estrofe)
‑ Deus sagrou o Infante e criou-o
português;
‑ enquanto tal, simboliza o povo
a que pertence, o que significa ele foi predestinado, escolhido por Deus para
desvendar o mar desconhecido;
.
o sonho cumpriu-se: o desvendar e a unificação dos mares e a
criação do império;
. a pátria, presentemente, não tem desígnio;
.
o apelo ao cumprimento do destino mítico
de Portugal: uma nova e espiritual
missão («Senhor, falta cumprir-se Portugal!» ‑
v. 12). Trata-se do apelo a um novo sonho, de cariz espiritual, visto que a dimensão
material do império
já
foi conseguida, ou seja, falta que Portugal se
cumpra como pátria e entidade nacional (uso do presente do indicativo para exprimir urgência).
Recursos poético-estilísticos
3. Nível semântico
. Vocabulário de ligações
simbólicas:
‑ «sagrou-te»:
E-1 V-4; sugere a escolha do Infante para uma missão divina («Deus quer»); e-1 v-1
‑ o uso de
maiúsculas (Mar, Império);
‑ «mar»: simboliza o
desconhecido, o mistério, daí as expressões «desvendar a espuma», isto é, desfazer
o mistério, descobrir, ultrapassando as dificuldades que se lhe deparam; o
traço de união de ilhas e continentes (vv.
2-3); «nos deu sinal», ou seja, dar a chave para decifrar o mistério;
‑
«espuma» V-4 E-1(branca), «orla branca»E-2 V-1 (é
o sulco de espuma deixado pelos navios; simboliza o longo percurso que tiveram de percorrer para que os
Descobrimentos se concretizassem), «clareou» V-6 E-2, «surgir» E-2 V-8 (sair
das sombras, revelar-se, conhecer), «do azul profundo» V-8 E-2 (do mar imenso e
profundo, é o símbolo do desconhecido, em oposição ao «clarear», que é o
revelado): estas expressões sugerem a passagem do mistério para a
descoberta, para o conhecimento - «E viu-se a terra inteira, de repente, / Surgir redonda…»
(Verso 6 estrofe 2).
O
poema acaba com o verso “Senhor, falta
cumprir-se Portugal!” que resume esta ideia de missão inacabada, que ficou a
meio e também a ideia de que Portugal tinha um desígnio divino para esta
missão.
Adriana
Simões e António Rocha 12ºE
Nota: Falta indicar as fontes que serviram de base à análise. Aguardo.
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