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06 maio 2013

Felizmente há Luar! (e estudo...espero!)




Com certeza que viram exercícios do GAVE sobre FHL.  

Deixo um exercício para treino, a que poderão ir respondendo, no caderno .


I

Leia o excerto transcrito, com atenção.









Em tom de confidência. Fala como um homem desiludido que, depois de ter dado o melhor do seu trabalho, se vê incompreendido e desacreditado.



Aponta para o teto.







Beresford vem fardado. A farda, ainda que regulamentar, não é espaventosa e está um pouco usada.

O principal não gosta de
Beresford e fala-lhe sem sorrir.


Beresford fala como quem fala a uma criança.



Fala para D. Miguel, mas vê-se que se refere a Beresford, para quem olha ao falar no Conselho da Regência.
PRINCIPAL SOUSA
Se a um ministro de Deus é permitido odiar, que o Senhor, um dia, perdoe o ódio que tenho aos Franceses…
Veja, Sr. D. Miguel, como eles transformaram esta terra de gente pobre mas feliz num antro de revoltados! Por essas aldeias fora é cada vez maior o número dos que só pensam aprender a ler… Dizem-me que se fala abertamente em guilhotinas e que o povo canta pelas ruas canções subversivas.

D. MIGUEL
A polícia não chega para arrancar os pasquins revolucionários das portas das igrejas… O mundo parece estar atacado de loucura, Reverência…

PRINCIPAL SOUSA
Maior é, por isso mesmo, a nossa responsabilidade. Esta noite sonhei que nós, os governadores do Reino, tínhamos sido destacados, pelo Senhor, para a primeira linha de combate eterno entre o bem e o mal. Temos uma missão a cumprir, uma missão sagrada e penosa: a de conservar no jardim do Senhor este pequeno canteiro português. Enquanto a Europa se desfaz, o nosso povo tem de continuar a ver, no Céu, a Cruz de Ourique.

D. MIGUEL
Se a Europa nos desse ouvidos…

BERESFORD (Avançando do fundo do palco e falando)
A Europa… A Europa… Deixai-a, que ela nem se perde nem carece dos vossos conselhos. (Cumprimenta os dois) Excelências: não vim aqui para perder tempo com conversas filosóficas. Venho falar-lhes de coisas mais sérias.

PRINCIPAL SOUSA
O marechal Beresford sabe de alguma coisa mais séria do que a conservação do reino do Senhor?

BERESFORD
(Encolhendo os ombros)
Poupe-me os seus sermões, Reverência. Hoje não é domingo e o meu senhor não é vassalo de Roma.

PRINCIPAL SOUSA (Para D. Miguel) O reino de Deus está a saque e os inimigos do Senhor já não se encontram apenas na rua… Há-os nos palácios e no próprio Conselho da Regência. Ao que o mundo chegou, para que me veja obrigado a aceitar o auxílio dum herege a fim de combater outros hereges…

BERESFORD
Senhores: Deixemos o reino de Deus para outra ocasião. O que me traz aqui é bem mais grave. Enquanto estamos a conversar – neste mesmo momento – conjura-se abertamente em Lisboa. Dentro de minutos vem aqui um oficial repetir a VV. Ex.as o que me disse ontem, à noite, em minha casa. Oiçam bem o que ele diz, porque, da decisão que tomarmos, dependem a cabeça de V. Ex.ª, Sr. D. Miguel, os meus 16 000$00 anuais e a possibilidade de o principal Sousa continuar a interferir nos negócios deste Reino.

Luís de Sttau Monteiro, Felizmente Há Luar!, Areal Editores, 2000

VERSÃO I

Apresente, de forma bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.



1. Principal Sousa e D. Miguel constatam uma mudança no comportamento do povo. Refira em que consiste essa mudança, explicando de que modo se manifesta.

2. Mencione dois dos sentimentos que essa alteração do povo suscita nos representantes do poder religioso e do poder político. Justifique.

3. Apresente dois dos traços caracterizadores de Beresford, ilustrando cada um deles com uma citação do texto.

4. Identifique um recurso estilístico presente no texto, explicitando o seu valor expressivo.

5. Comente o excerto acima transcrito enquanto estratégia de denúncia da corrupção e da injustiça, fazendo referências pertinentes à peça, num texto de oitenta a cento e trinta palavras.

II

Onde Miguel Torga desembestou[1] mais furiosamente foi contra a política salazarista. Prova disso é o poema Cântico do Homem, as prisões nos aljubes[2] da PIDE[3] e o embargo de algumas obras. (…) A escalada dos grandes fascismos europeus coincidiu com a maturidade física e intelectual de Miguel Torga. Mussolini marchava sobre Roma, bombardeara a Abissínia e, mais tarde, atacara a França pelas costas, para comprazer ao parceiro, Adolfo Hitler. Implantada no coração da Europa, a «pata rugosa» do nazismo hitleriano ia atirar o mundo para os horrores da Segunda Guerra Mundial. Franco, disposto a fuzilar meia Espanha, se tanto fosse necessário, fuzilava e decapitava «rojos»[4] em série. Em Portugal, Salazar, que, para Torga, era um homem dotado do«conhecimento satânico do preço dos homens», transforma-se, aos olhos do poeta do Diário, num enorme «pulmão de aço» pelo qual obrigava todo o país a respirar. Foi nesta data que Torga se meteu a viajar pelo Velho Mundo. O resultado dessa viagem foi o seu primeiro livro em prosa, O Quarto Dia da Criação do Mundo. Um alarme aos homens do seu tempo e um violento desafio a todos os que reputava seus tiranos. Imediatamente preso pela PIDE, foi encarcerado no Aljube. (…)

Foi tanta a negrura e a fome, que os seus contemporâneos esqueceram de todo que havia letras e pensamento.

António Freire, Lendo Miguel Torga (adaptado)

1. Escreva, na folha de respostas, o número de cada item, seguido da letra que identifica a alternativa correta.



1. 1. A obra de Torga, «O Quarto Dia da Criação do Mundo» (linha 14), constitui um

(A) elogio aos seus compatriotas.

(B) desabafo dirigido ao povo.

(C) alerta aos seus contemporâneos.

(D) apelo dirigido aos governantes.



1.2 A utilização das expressões«‘conhecimento satânico do preço dos homens’» (linha 10) e «‘pulmão de aço’»(linha 11) constitui, da parte de Torga, uma

(A) crítica severa à atuação de Salazar.

(B) análise neutra da política salazarista.

(C) censura suave ao papel de Salazar.

(D) reflexão objetiva sobre a governação salazarista.



VERSÃO I



1.3. Em«para comprazer ao parceiro, Adolfo Hitler.» (linha 6), o constituinte «ao parceiro» desempenha

a função de

(A) sujeito.

(B) complemento direto.

(C) vocativo.

(D) complemento indireto.



1.4. Os elementos textuais «Miguel Torga» (linha 1), «Miguel Torga» (linha 4), «Torga»(linha 9), «poeta do Diário» (linha 11) e «Torga» (linha 12) asseguram a coesão

(A) lexical.

(B) frásica.

(C) temporal.

(D) interfrásica.

2. Classifique a oração sublinhada em “os seus contemporâneos esqueceram de todo que havia letras e pensamento



3. Indique a função sintática desempenhada pela oração sublinhada em 2.



4. Classifique a oração iniciada por «que» em “Foi nesta data que Torga se meteu a viajar pelo Velho Mundo.”



III



Elabore uma reflexão (200-300 palavras) sobre o significado da responsabilidade cívica na construção do futuro, partindo da perspetiva exposta no excerto abaixo.

Fundamente com dois argumentos e ilustre cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo.



“Querem ficar para a História como Deolindos [5]- ou tomar em mãos o futuro e tentar fazer História? As causas da geração precária só serão verdadeiramente consequentes se as outras gerações forem convencidas de que estas lutas também lhe dizem respeito. No trabalho, em casa e na rua.”

Miguel Carvalho, “Os «Deolindos» e a História”,VISÃO, 9/03/2011.


[1] Reagiu violentamente.
[2] Aljube é uma prisão, em Lisboa, onde se encarceravam presos políticos. Por extensão, “prisões”.
[3] Sigla de “ Polícia Informação e Defesa do Estado”,polícia política do Estado Novo.
[4] À letra, vermelhos; nome dado em Espanha aos militantes dos partidos da esquerda e aos comunistas.
[5] Alusão aos Deolinda, autores da música “Que parva que eu sou”.



1 comentário:

Anónimo disse...

Podia postar a correção do grupo II deste exercício escrito, com o objetivo de anularmos qualquer dúvida?

Obrigado,
Filipe Ferreira