
Outra das marcas na poesia de Fernando Pessoa é o binómio sentir/pensar, que está presente, por exemplo, em "Autopsicografia": “Gira, a entreter a razão/ Esse comboio de corda/ Que se chama o coração”, mencionando o efeito de distracção que o coração pode provocar na razão. Esta ideia também está presente nos versos “Eu simplesmente sinto/ Com a imaginação/ Não uso o coração”, onde o poeta evidencia a intelectualização das emoções.
Um dos pontos fulcrais para Fernando Pessoa, na poesia ortónima, é a sua auto-descoberta, focando-se o sujeito poético nas questões mais complexas e longínquas do ser, que lhe despertam uma angústia perante si próprio: “ Querendo, quero o infinito./ Fazendo, nada é verdade./ Que nojo de mim me fica.”
Fernando Pessoa, servindo-se dos seus poemas reflexivos, onde a musicalidade e o ritmo estão sempre presentes, procura conhecer a humanidade através da exploração de si próprio, como refere o semi-heterónimo Bernardo Soares: Nunca tive outra preocupação verdadeira senão a minha vida interior. As maiores dores da minha vida esbatem-se-me quando, abrindo a janela para dentro de mim, pude esquecer-me na visão do seu movimento.
Ler excerto de Livro do Desassossego
Catarina Custódio e Filipa Antunes (ex-12ºC-2009)
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