Ilustração: Samuel Ventura
O meu ser
está guardado num pequeno mas grande objeto. Este carrega uma parte da minha
infância, um pouco do meu presente e, provavelmente, uma fatia do "eu
futuro". Ele é nada mais nada menos que a minha primeira consola.
O seu pequeno
azul reluzente era grande aos meus olhos e a
diversão que me fornecia foi o suficiente para me agarrar a ele durante horas.
Bons foram os tempos em que me embrenhava emergia no pequeno ecrã e descobria pequenas histórias que me mantinham curioso e
sonhador, imaginando as probabilidades de eu poder
ser o protagonista de um enredo fantasiado.
A pequena
caixa esteve também presente nos meus momentos de pavor, abraçando-me com a sua
luz que, ingenuamente, me protegia da imensa e fria escuridão. Foi também ela a
responsável por formar muitas das minhas primeiras amizades, aquelas criadas
entre mim e crianças que eram cativas das imagens que esta partilhava connosco
ou ainda outras crianças que possuíam uma outra
consola que permitia que nós usufruíssemos das suas sensações.
Este pequeno objeto
azul não se encontra apenas sozinho e guardado na sua caixa, ele está também no
meu coração. Foi ele que me ocupou e fez aprender, que me tornou no ser
sonhador e distraído que sou hoje e é sobretudo nele que residem as ternurentas memórias de quem outrora fui.
SV
(Samuel Ventura)
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