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14 outubro 2014

A espada e a pena

 
 
O poeta começa por invocar as ninfas (que podem representar os seus contemporâneos) - "Vós, Ninfas do Tejo e do Mondego”(78, v.3).


O objetivo é pedir às ninfas que lhe dêem inspiração para a composição da obra, com
o receio de que sem a sua inspiração não cumpra o seu propósito (“Que, se não me ajudais,
hei grande medo / Que o meu fraco batel se alague cedo”, 78, v. 7/8)." Batel ", que é uma pequena embarcação, representa a vida e obra do poeta e Camões tem medo de não ser capaz de terminar a obra .

A partir da estrofe 79 o poeta vai fazer um discurso mais autobiográfico utilizando para isso a primeira pessoa e factos de sua vida.
Pinturas - Esqª - Camões, pelo pintor José de Guimarães. Dta. - Retrato coevo - Camões na prisão de Goa Pintura anónima de 1556


Camões exprime agora um estado de espírito diferente do que o caracterizava no
canto primeiro na invocação às Tágides onde se notava que ele tinha força de vontade e
alguma garra para cantar os feitos gloriosos dos portugueses. Agora pelo contrário ele teme
que o barco de sua vida e sua obra não cheguem a bom porto pois percorre um caminho
«árduo, longo e vário» e que se as Tágides não o ajudarem ele teme que o o seu «fraco batel
se alague cedo».
Salienta que tem sempre vindo a cantar os feitos lusos e a lutar pela pátria e comparasse a Cânace, figura mitológica que foi obrigada a suicidar-se pelo seu pai depois de
este ter descoberto que esta mantinha uma relação incestuosa com o seu irmão Macareu da
qual nasceu uma criança que foi morta pelo avô, lançando- a aos cães. Quando Cânace
escrevia a carta de despedida para o irmão esta empenhava numa mão a espada, com a
qual ia tirar a sua vida e noutra a pena, com a qual escrevia. «Nũa mão sempre a espada e
noutra a pena» dizia Camões aliando a sua faceta literária e a sua faceta de guerreiro.
Camões escreve também sobre as dificuldades que passou. Desde pobreza e desilusão a ida a guerras e expedições marítimas. Compara o naufrágio que sofreu no mar da China ao milagre que foi o rei judaico viver mais 15 anos.
Na estrofe 81 e seguintes, Camões volta a invocar as ninfas e realiza uma crítica aos seus contemporaneos, pois eles possuem acesso desonesto ao poder pelo que são extremamente ambiciosos e apenas dão valor ao seus interesses, colocando assim o resto da população em situações de pobreza extrema.Mas a principal crítica que Camões faz é que os artistas(poetas,pintores,escritores,escultores,etc) não são recompensados pelos seus trabalhos, e consequentemente, os nobres, e grandes senhoresnestão a dar um mau exemplo às gerações vindoras, que ao ver que os artistas passados não foram bem recompensados pelo seus trabalhos, irão sentir-se
desmotivados para fazer o que os artistas fazem melhor, que é narrar os feitos grandiosos dos heróis,estes, que os quais sem a ajuda dos artistas não seriam reconhecidos pelos seus feitos.
No final desta reflexão o poeta vai expor claramente as suas intenções, sendo elas quem ele vai ou não vai cantar. Ele começa por enumerar aqueles que definitivamente se
opõe a glorificar com a sua obra, que são: quem coloca os interesses próprios antes do bem
comum e do rei; quem sobe ao poder apenas pela ambição de ter como satisfazer melhor os seus desejos (“por poder (...)usar mais largamente de seus vícios"); quem explora os que têm
menos poder, não dando a merecida recompensa, que é para Camões tão importante; e
ainda quem sobe ao poder através de mentiras, deceções, que são comparados a Proteu.
Para terminar o poeta vai explicar as caraterísticas necessárias para ser um herói, que ele
demonstra ter o desejo de cantar nas suas obras: Arriscar a própria vida e ultrapassar
sofrimentos para chegar a um objetivo, não com vista em obter poder para si, mas pelo bem
do Império e da Fé, assim merecem a imortalidade obtida através do canto dos artistas.

Valter Quintino, Samuel Vicente, Pedro Soares e Joel Santos

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