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11 junho 2013

FHL



Ficha formativa – “Felizmente Há Luar!” (P331)

1.      O excerto apresentado situa-se no 2º Ato da peça, quando a Matilde vagueia desesperadamente pelas ruas à procura de alguém que possa salvar o seu marido, falando com várias pessoas poderosas, aqui com Beresford e depois com D. Miguel Forjaz e Principal Sousa.

2.       Matilde apresenta-se uma lutadora, uma mulher apaixonada e focada apenas na liberdade do seu marido e na paz da sua vida – “Que me importa, a mim, que o rei seja tirano e o país miserável e mal governado? (…) Quero o meu homem, quero o meu homem aqui, ao meu lado! Quero acabar os meus dias em paz!”. Também se revela corajosa pois enfrenta quem for preciso para ter o seu marido de volta, inclusive fala em “tom de desafio” e com ousadia com Beresford, homem este que era um dos mais poderosos militares da altura “ (exaltada) – Porque dizem a verdade? Porque veem para além da cortina da hipocrisia com que os poderosos escondem a defesa dos seus interesses”.

3.      As didascálias, aqui e como em todos os textos dramáticos, dão a indicação das luzes e dos aspetos sonoros no palco “ (ouve-se, fora do palco, o murmúrio de vozes humanas) ” tal como dão a indicação da movimentação das personagens e o modo como estas têm de dizer as falas “ (rindo-se) ”,“ (pausa) ”. Todavia, em contraste com as didascálias comuns nos outros textos, estas funcionam ainda como um texto paralelo que “traduz” o que as personagens dizem, ou seja, está explícito nas didascálias a intenção que certa personagem teve ao proferir certas palavras “ (Com desespero e como quem pensa pela primeira vez na hipótese) ”.

3.1. Os sinos, tal como os tambores, têm aqui a dupla função de tanto abafar a voz do povo (aqui especificamente a de Matilde) como a de exaltar o espírito destes. Quando Matilde começa a ficar “exaltada”, ouvem-se os sinos, e à medida que ela começa a dizer coisas mais “perigosas” para os regentes e poderosos políticos  os sinos começam também a tocar mais alto (o ruído dos sinos aumenta de intensidade). Isto, metaforicamente, faz com que a voz de Matilde seja abafada mas faz também que ela ganhe força para falar mais alto.

4.      Para Matilde, Gomes Freire é o amado, o marido por quem ela faz tudo e com quem quer “acabar os dias em paz”, por ele até “vende a honra”, ela ama este homem para lá da razão, ele vale tudo. Já para Beresford,  Gomes Freire é apenas um homem que simplesmente por existir já está a cometer um crime, é apenas mais “um alvo a abater”, não tem qualquer relevância emocional.

5.      Existe uma forte crítica à sociedade ao longo de toda  na obra;  no caso desta passagem, existe uma crítica ao modo como o povo reage à opressão e também uma crítica aos políticos regentes. É uma crítica bipartida: critica o povo, aqui representado por Matilde, ela revela um desinteresse total na situação política e económica do país importando-se apenas com a boa saúde do seu marido (“Que me importa a mm que o rei seja tirano?”), valorizando a família ao bem-estar de toda a sociedade, não se apercebendo da grande verdade, de que se o seu país estiver bem regido não há necessidade para defender o seu marido, porque se houver justiça e liberdade nunca Gomes Freire estaria preso em primeiro lugar. 

É também uma crítica aos políticos da altura e à sua crueldade e indiferença perante os problemas do povo, Beresford aqui não tem qualquer problema em admitir que Gomes Freire vai morrer apenas por ser uma imposição política, ele não age pelo povo como faria um bom governador, ele age pelo interesse próprio e pela defesa dos bens pessoais não se importando minimamente com o bem-estar social.

Maria Pio

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