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03 maio 2012

Pragmática - Coesão textual

A pedido de vários alunos, relembra-se alguns elementos essenciais relativos à pragmática textual, isto é, à forma de garantir - em termos práticos - que um texto é articulado e coeso.
Não dispensa o regresso à gramática e aos exercícios.


Coesão textual

Dizemos que um texto é coeso se as suas diferentes partes constitutivas estão articuladas e interligadas, garantindo a sua unidade semântica.

A coesão textual pode ser assegurada através dos vários mecanismos linguísticos:
— cadeias de referência;
— repetições;
— substituições lexicais;
— conectores interfrásicos;
— compatibilidade entre informações de tempo e de aspeto.

Cadeias de referência
Estamos perante uma cadeia de referência quando, num texto, há um ou vários elementos textuais sem referência autónoma. A sua interpretação está, obrigatoriamente, dependente de outra expressão presente no texto.
1) Amava, amava as mulheres com sensualidade, estima e ternura. Sinceramente me julgava, perante elas, um sensual, um sentimental e um idealista. Decerto me não tinham inspirado grande ternura ou respeito as que até então fisicamente amara. Mas até essas, não pudera amar (amar da maneira que qualifiquei) sem uma ponta de afectividade (...). (J. Régio, O Vestido Cor de Fogo)*
A expressão nominal as mulheres e os pronomes elas, as e essas formam uma cadeia de referência, uma vez que o referente dos pronomes é o mesmo do da expressão nominal. Todas as expressões reenviam para a mesma entidade extralinguística.**
Podem integrar as cadeias de referência:
  • as anáforas
  • as catáforas
  • as elipses
  • a co-referência não anafórica.
Anáfora: expressão cuja interpretação depende de uma outra expressão presente no contexto verbal anterior.
(2) Ao longe, no alto mar, há ainda o exercício da pesca. Há lá homens. Não os vejo. (V. Ferreira, Até ao Fim)



O pronome pessoal oblíquo os remete para uma expressão referida anteriormente no discurso (homens), sendo, por isso, uma anáfora.
Catáfora: expressão cuja interpretação depende de outra presente no contexto verbal que vem imediatamente depois.
3) Com o meu irmão tudo foi diferente, sabe, as mulheres preferem-nos, aos filhos. (A. P. Inácio, Os Invisíveis)



O pronome pessoal os (nos) remete para uma expressão que aparece posteriormente no discurso (os filhos), sendo, por isso, uma catáfora.
Elipse: omissão de uma expressão recuperável pelo contexto, evitando assim a sua repetição.



Co-referência não anafórica: existe co-referência não anafórica quando duas ou mais expressões linguísticas remetem para o mesmo referente, não havendo dependência referencial de uma em relação a outra(s).
Coesão lexical
A coesão lexical pode ser realizada através de:
Repetição
Substituição lexical: para evitar repetições desnecessárias, pode substituir-se uma unidade lexical por outras que com ela mantenham relações semânticas de sinonímia, antonímia, hiponímia e hipernonímia.



Coesão interfrásica
A coesão de um texto depende da interdependência semântica entre as frases que o constituem, podendo ser assegurada através de diferentes tipos de conectores.
Desempenham a função de conectores palavras ou expressões que asseguram a ligação significativa entre frases/orações ou partes do texto, especificando o tipo de conexão existente (causa, tempo, contraste...). Assim, estes elementos são pistas linguísticas que guiam a interpretação do leitor ou ouvinte.
Podem funcionar como conectores:
— conjunções e locuções coordenativas e subordinativas (porque, no entanto...);
— advérbios conectivos (agora, assim, depois...);
— adjectivos (bom...);
— verbos (quer dizer...);
— grupos preposicionais/locuções adverbiais (pelo contrário, do mesmo modo...);
— orações (para concluir, pelo que referi anteriormente...).
* * Exemplos recolhidos no sítio «Apoio a Português», http://apoioptg.blogspot.pt/2007/04/coeso-textual.html, consultado em 3 de maio de 2012

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