Consulta os tópicos de resposta previstos pelo IAVE. Repara nos níveis de exigência: supõe-se que há sempre algum desenvolvimento/texto pessoal, para estas questões.
********************
Levando a bordo El-Rei D. Sebastião,
E erguendo, como um nome, alto o pendão
Do Império,
Foi-se a última nau, ao sol aziago
Erma, e entre choros de ânsia e de pressago
Mistério.
Não voltou mais. A que ilha indescoberta
Aportou? Voltará da sorte incerta
Que teve?
Deus guarda o corpo e a forma do futuro,
Mas Sua luz projecta-o, sonho escuro
E breve.
Ah, quanto mais ao povo a alma falta,
Mais a minha alma atlântica se exalta
E entorna,
E em mim, num mar que não tem tempo ou ’spaço,
Vejo entre a cerração teu vulto baço
Que torna.
Não sei a hora, mas sei que há a hora,
Demore-a Deus, chame-lhe a alma embora
Mistério.
Surges ao sol em mim, e a névoa finda:
A mesma, e trazes o pendão ainda
Do Império.
Fernando Pessoa, Mensagem, 19.ª ed., Lisboa, Ática, 1997
aziago (verso 4) – que prenuncia desgraça.
cerração (verso 17) – nevoeiro denso; escuridão.
erma (verso 5) – solitária.
pendão (verso 2) – bandeira longa e triangular.
pressago (verso 5) – que pressagia, prevê ou pressente.
Questionário
Apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.1. Explicite três dos aspectos que, nos versos de 1 a 12, se referem ao mito sebastianista, fundamentando a sua resposta com elementos do texto.
2. Caracterize, com base na terceira estrofe do poema, o modo como o sujeito poético e o povo português reagem ao desaparecimento da «última nau».
3. Relacione o conteúdo da última estrofe com a pergunta «Voltará da sorte incerta / Que teve?», formulada nos versos 8 e 9.
4. Identifique, no poema, uma característica do discurso épico e uma característica do discurso lírico de Mensagem, citando um exemplo significativo para cada um dos casos.
1. Cenário de resposta
A resposta pode contemplar três dos tópicos que a seguir se enunciam, ou outros considerados relevantes.
Nos versos de 1 a 12, os aspectos que se referem ao mito sebastianista são os seguintes:
– o desaparecimento misterioso da «última nau» e de D. Sebastião – «Levando a bordo El-Rei D. Sebastião» (v. 1); «Foi-se a última nau» (v. 4); «Mistério.» (v. 6); «Não voltou mais.» (v. 7);
– a associação do desaparecimento da «última nau» e de D. Sebastião ao fim do Império
português – «Levando a bordo El-Rei D. Sebastião, / E erguendo, como um nome, alto o pendão / Do Império, / Foi-se a última nau» (vv. 1 a 4); «Não voltou mais.» (v. 7);
– o pressentimento de desgraça associado à partida da nau – «Foi-se a última nau, ao sol aziago / Erma, e entre choros de ânsia e de pressago / Mistério.» (vv. 4 a 6);
– as incertezas quanto ao destino de D. Sebastião – «A que ilha indescoberta / Aportou?» (vv. 7 e 8);
– as expectativas quanto ao regresso de D. Sebastião – «Voltará da sorte incerta / Que teve? / Deus guarda o corpo e a forma do futuro, / Mas Sua luz projecta-o, sonho escuro / E breve.» (vv. 8 a 12).
2. Cenário de resposta
A resposta pode contemplar os tópicos que a seguir se enunciam, ou outros considerados relevantes.
De acordo com o conteúdo da terceira estrofe do poema:
– o povo português, perante o desaparecimento da «última nau», na qual seguia D. Sebastião, reage com desânimo (v. 13);
– o sujeito poético manifesta uma viva crença no regresso de D. Sebastião e no Império que ele simboliza (vv. 14 a 18).
3. Cenário de resposta
A resposta pode contemplar os tópicos que a seguir se enunciam, ou outros considerados relevantes.Na última estrofe, o sujeito poético responde afirmativamente à pergunta enunciada nos versos 8 e 9, apresentando:
– o regresso de D. Sebastião e do Império que ele simboliza como uma certeza obtida por intuição – «sei que há a hora» (v. 19); «Surges ao sol em mim» (v. 22); «trazes o pendão ainda / Do Império.» (vv. 23 e 24);
– o momento exacto em que esse acontecimento terá lugar como uma incerteza – «Não sei a hora» (v. 19); «Demore-a Deus» (v. 20); «Mistério.» (v. 21).
4. Cenário de resposta
A resposta pode contemplar os tópicos que a seguir se enunciam, ou outros considerados relevantes.- Características do discurso épico:
– importância conferida à História – «Levando a bordo El-Rei D. Sebastião» (v. 1);
– mitificação de um herói – «Deus guarda o corpo e a forma do futuro, / Mas Sua luz projecta-o, sonho escuro / E breve.» (vv. 10 a 12).
- Características do discurso lírico:
– aproximação entre o sujeito e o destino nacional, patente na convicção intuitiva de que o mito será concretizado (vv. 16 a 18; vv. 22 a 24).
NOTA: Parece pouco, mas, atenção aos critérios de correção/cotações (exemplo):
2. ............................................................................................................................. 15 pontos
Critérios específicos de classificação
• Aspectos de conteúdo (C) .................................................................................. 9 pontos
Níveis Descritores do nível de desempenho no domínio específico da disciplina
nível 4
Caracteriza,
adequadamente, o modo como o sujeito poético e o povo português
reagem ao desaparecimento da «última nau», fazendo referências
pertinentes à terceira estrofe do poema.
9 pontos
nível 3
Caracteriza,
adequadamente, o modo como o sujeito poético e o povo português
reagem ao desaparecimento da «última nau», fazendo referências não
totalmente pertinentes à terceira estrofe do poema.
OU
Caracteriza,
com pequenas imprecisões, o modo como o sujeito poético e o
povo português reagem ao desaparecimento da «última nau», fazendo
referências pertinentes à terceira estrofe do poema.
OU
Caracteriza,
de forma não totalmente completa, o modo como o sujeito poético e o
povo português reagem ao desaparecimento da «última nau», fazendo
referências pertinentes à terceira estrofe do poema.
7 pontos
nível 2
Caracteriza,
adequadamente, o modo como o sujeito poético e o povo português
reagem ao desaparecimento da «última nau», sem fazer referências à
terceira estrofe do poema.
OU
Caracteriza, com pequenas imprecisões, o modo como o sujeito poético e o povo
português reagem ao desaparecimento da «última nau», fazendo referências não totalmente pertinentes à terceira estrofe do poema.
OU
Caracteriza,
de forma não totalmente completa, o modo como o sujeito poético e
o povo português reagem ao desaparecimento da «última nau», fazendo
referências não totalmente pertinentes à terceira estrofe do poema.
5 pontos
nível 1
Caracteriza,
de forma incompleta, o modo como o sujeito poético e o povo
português reagem ao desaparecimento da «última nau», sem fazer
referências à terceira estrofe do poema.
OU
Caracteriza,
com imprecisões, o modo como o sujeito poético e o povo português
reagem ao desaparecimento da «última nau», sem fazer referências à
terceira estrofe do poema.
3 pontosPara qualquer dúvida, não hesitem!
3 comentários:
Sras. e Srs.
Até agora não chegaram dúvidas, pelo que dou por finda esta tarefa.
O teste está feito para 90 minutos, pelo que poderão, ainda, colocar alguma dúvida de última hora.
Até amanhã.
Noémia S.
Sim senhor muito bom Fernando Pessoa iria adorar este site
Enviar um comentário