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01 junho 2011

Temas e motivos da Poesia de Cesário Verde


Escrevo-te sobre uma secretária comercial, cheia de papéis, de livros, de notas, de trinta mil coisas que me tornam prosaico e prático.
Eu não sou como muitos que estão no meio dum grande ajuntamento de gente completamente isolados e abstractos.”
Cesário

“(…) eu não desprezo de modo algum o coração, que quando desprezado não deixa brotar nenhuma obra de arte. / Mas o que eu desejo é aliar lirismo e ideia de justiça.”
 
 
É uma poesia capaz de reflexão, de denúncia, de preocupação com a injustiça social. Sem pieguices, «prosaica», «prática», qualidades que Cesário atribuía a si próprio em resultado da actividade comercial que exercia.
Cesário
TEMAS E MOTIVOS
  • a grande cidade – a Babel dos novos tempos: as ruas, as gentes, o movimento, a confusão; a modernidade; a rua, como espaço preferencial
  • a vida do campo não como “ideal romântico”, mas como espaço natural humanizado pelo trabalho do homem: em Cesário há o «campo» e não a «natureza».
  • a simpatia pelos humildes (atenção às profissões mais difíceis: pedreiro; calceteiro; carpinteiro; engomadeira; vendedeira; peixeira)
  • a deambulação – o homem na cidade; o “eu” observador e protagonista; atento e compassivo, mas também melancólico e ausente
  • referência ao inédito, ao abjecto, ao repulsivo: a doença; a podridão; a devassidão; a boçalidade; a prostituição...
  • a ânsia de evasão/fuga (de lugar - pela viagem/imaginação; de tempo – evocação/ sonho)
LINGUAGEM /ESTILO
 
Para traduzir esse universo de novos temas e a observação atenta do quotidiano, Cesário Verde faz entrar para a poesia vocábulos considerados prosaicos (próprios da prosa), como:
  • objectos do quotidiano(nomes comuns): prédio; inquilino; gelosia; talheres; persianas; candelabros; parafusos; giga; balcões...
  • nomes de profissões: calceteiro; calafate; varina; peixeira; calceteiro; vendedeira; forjador; caixeiro...)
  • nomes de doenças e/ou de realidades desagradáveis: Cólera; febre; dores de cabeça; focos de infecção...)
  • palavras cujo ritmo e sonoridade eram estranhas/improváveis em poesia: apoplexia; macadamizadas; mecklemburgueses; consecutivamente; asfixia; inquilino...
  •     expressões muito directas/realistas: “peixe podre gera focos de infecção”; “secavam dejecções cobertas de mosquiteiros”
(Cont.)
 
 

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