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17 outubro 2007

"abrindo a janela para dentro de mim"


Olho para mim. E o que vejo? Alguém. Indefinido, definido, estranho, conhecido... Sei o que sou, sei o que sinto, mas não sei se serei e sentirei sempre da mesma forma. Quero manter-me, mas sei que a mudança em mim é constante e se aproxima, sempre, cada dia mais.
Como me vêem, não sei, como me sentem, não imagino. Gostaria de ter uma visão completa sobre o olhar alheio, mas seriamente, não faço a mais pequena ideia do que pensam quando olham para mim.
Vejo-me como sou, com fraquezas e falhas profundas, e com medos inimagináveis, ridículos? Sim, por vezes, mas sou eu. Sou assim!
Aquilo que sou agrada-me. Por ser tão eu, apenas por ser eu. Gosto que gostem de mim por ser assim, mas não sei se realmente gostam.Olho-me e ainda encontro pedaços do que fui outrora. Sorrio.
A.B.
12ºE

O mundo dela resumia-se a um pouco de água entre quatro paredes de vidro. Isso, alguma areia. Algas, pedras de diversos tamanhos, a miniatura em madeira de uma caravela naufragada. Ah! E trinta e sete outros peixinhos, quase todos irmãos de A., ou primos, tios, parentes próximos. Havia ainda uma velha tartaruga, chamada Alice, que já vivia no aquário quando os avós de A. nasceram.
Os peixes acreditavam que Alice vivia no aquário desde a criação do Universo e ela deixava que eles acreditassem naquilo.
Às vezes os peixes mais velhos contavam histórias que tinham escutado aos seus avós. Diziam que, para além das paredes do aquário, longe dali, havia água, tanta água que um peixe podia passar a vida inteira a nadar, sempre em linha recta, sem nunca bater de encontro a um vidro. A essa água imensa, onde tinham nascido os primeiros peixes, chamava-se Portugal. Os peixes falavam de Portugal como quem fala de um sonho.
A. tantas vezes escutou aquela história que um dia decidiu perguntar a Alice, a sua amiga tartaruga. Essa tartaruga era velhíssima, devia saber, tinha de saber. Encontrou-a a tomar sol em cima de uma pedra. A. prendeu a respiração, ergueu a cabeça acima da água, e fez-lhe a pergunta. Alice torceu a boca numa careta de troça: - Disparate: Portugal não existe! Não existe nada para além daquelas quatro paredes de vidro, a nossa França. O universo inteiro…somos nós!
A. foi-se embora pensativa. Sempre que ouvia falar de Portugal, o aquário chamado França parecia-lhe mais pequeno. Não achava possível que os peixes, seus avós, tendo vivido sempre dentro de um aquário tão grande como a França, tivessem conseguido inventar uma coisa tão pequena como Portugal.


(... continua)
A.P.
12º E

Quem quiser ler todo o texto - e saber o final - veja em "Comentário".

3 comentários:

Noémia Santos disse...

A. nasceu a 30 de Março de 1990, num “aquário” chamado França.

Hoje tem 17 anos, então decidiu mostrar a todos os peixinhos a sua corajosa história!

O mundo dela resumia-se a um pouco de água entre quatro paredes de vidro.
Isso, alguma areia. Algas, pedras de diversos tamanhos, a miniatura em madeira de uma caravela naufragada.

Ah!
E trinta e sete outros peixinhos, quase todos irmãos de A., ou primos, tios, parentes próximos.
Havia ainda uma velha tartaruga, chamada Alice, que já vivia no aquário quando os avós de A. nasceram.

Os peixes, ou melhor, a família do peixinho chamado A., acreditavam que Alice vivia no aquário desde a criação do Universo e ela deixava que eles acreditassem naquilo.

Às vezes os peixes mais velhos contavam histórias que tinham escutado aos seus avós.
Diziam que, para além das paredes do aquário, longe dali, havia água, tanta água que um peixe podia passar a vida inteira a nadar, sempre em linha recta, sem nunca bater de encontro a um vidro.

A essa água imensa, onde tinham nascido os primeiros peixes, chamava-se Portugal.

Os peixes falavam de Portugal como quem fala de um sonho. A. tantas vezes escutou aquela história que um dia decidiu perguntar a Alice, a sua amiga tartaruga.

Essa tartaruga era velhíssima, devia saber, tinha de saber.
Encontrou-a a tomar sol em cima de uma pedra.
A. prendeu a respiração, ergueu a cabeça acima da água, e fez-lhe a pergunta.
Alice torceu a boca numa careta de troça:

- Disparate: Portugal não existe! Não existe nada para além daquelas quatro paredes de vidro, a nossa França. O universo inteiro…somos nós!

A. foi-se embora pensativa.
Sempre que ouvia falar de Portugal, o aquário chamado França parecia-lhe mais pequeno.
Não achava possível que os peixes, seus avós, tendo vivido sempre dentro de um aquário tão grande como a França, tivessem conseguido inventar uma coisa tão pequena como Portugal.

Ela tinha de saber a verdade. Ela queria saltar as paredes de vidro e ir à procura de Portugal.
Os outros peixinhos não compreendiam a angústia de A.:
- Não estás bem aqui? – Perguntavam-lhe - não tens tido tudo o que precisas?

A. olhava para eles, aflita, incapaz de explicar aquela vontade de partir que sentia crescer, todos os dias, dentro do seu coração e a empurrava contra as paredes do aquário, tentando espreitar, para além delas, um outro mundo.
O que via, porém, eram os seus próprios olhos reflectidos no vidro gelado.

Uma manhã, muito cedo, ainda todos os peixes dormiam, Andresa encheu-se de coragem, tomou balanço, e saltou.

Percebeu imediatamente que o mundo não terminava no aquário. Percebeu também, assustadíssima, que o resto do mundo era um lugar tão seco quanto a pedra onde Alice costumava descansar. Percebeu isso tarde demais.

Estava estendida num chão de madeira e não conseguia respirar.
Foi então que viu o gato. Ela não sabia o que era um gato. Nunca tinha visto nenhum.
O gato, no entanto, sabia o que era um peixe.

Os peixes, na opinião do gato, eram comida. A. viu o gato e gritou:
- Ajuda-me! Vou morrer!...
- Pois vais – disse o gato, que aliás, não era um gato, era uma gata, e por sinal lindíssima -, eu vou-te comer.
A. conseguia ver o aquário e do lado de lá do vidro os outros peixes. Mas eles não a podiam ver.
- Não me comas – pediu -, eu só quero ir para Portugal, ver o mar!
A gata olhou para ela admirada:

- O Mar? Pois tu nunca viste o Mar?
A., com dificuldade, porque fora de água não conseguia respirar, contou-lhe a sua história.
Verónica – era assim que se chamava a gata -, ficou com pena dela.
Agarrou-a com a boca, cuidadosamente, para não a magoar, e colocou-a numa tigela com água.
- Vou-te ajudar –disse-lhe -, porque nunca conheci ninguém tão corajosa como tu.

Nessa tarde a gatinha saiu pelos telhados à procura de Nicolau, o albatroz, um pássaro enorme, bico largo e fundo, capaz de transportar lá dentro uma enorme quantidade de peixes.
Nicolau, velho amigo, recebeu-a com alegria.

Verónica contou-lhe a história de A. e pediu-lhe para levar o peixinho até ao mar em Portugal.
O albatroz achou a ideia um pouco estranha: afinal ele tirava os peixes do mar para os comer.
Mas quando Verónica o apresentou a Andresa, depressa se convenceu.

Colocou então o peixinho dentro do bico, com uma larga porção de água, para que ela não sentisse dificuldades em respirar, e levantou voo.

Voavam há quase uma hora quando Nicolau abriu o bico e disse a A. para espreitar.
A. ergueu a cabeça e o que viu deixou-a muda de espanto.

O Mar em Portugal brilhava imenso à sua frente.
Era muita água.
Havia muitíssimo mais água ali do que dentro do seu aquário, muito, muito mais, muito mais do que ela se tinha alguma vez atrevido a imaginar.

Nicolau abriu as grandes asas e começou a descer em direcção ao imenso azul, lá em baixo, ao salgado rumor das ondas. Gritou:
- Adeus, amiga. Boa sorte!
Sacudiu o bico e soltou A.!

O peixinho, A., olhou para cima, antes de mergulhar nas águas livres do Mar português, e ainda o viu agitando as asas, adeus, adeus, e desaparecer entre as nuvens altas.
Longe dali, Verónica, a gata, pensava em A.
A partir daquela data ela nunca mais foi capaz de comer peixe. Coitada, hoje, só come vegetais.


Quanto a A., hoje é um peixinho muito feliz!
Vive no Mar português há 6 anos e adora! Já fez muitos amigos peixinhos!

Um dia sonha encontrar o peixinho da sua vida e ter ela, também, muitos outros peixinhos!
Mas de uma coisa ela tem a certeza, nunca mais quer voltar ao aquário chamado França!

FIM

Noémia Santos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Noémia Santos disse...

O texto acima foi escrito por uma aluna do 12ºE (A.P.)