O relógio da Estação marcava oito horas e quarenta e seis. Estava uma manhã que prometia um dia de Sol, mas ainda assim uma brisa gelada…parecia que adivinhava o que se passava com aquelas duas pessoas. Muitos silêncios que diziam tudo nesta conversa…‘Tens a certeza?’ –perguntou ela. Era sempre assim, meio insegura…tentando por tudo que ele voltasse atrás também. Ele olha-lhe com todo o carinho e diz - ‘Desta vez não tenho certeza de nada...mas que posso fazer?’.
Ela baixa a cabeça. Não queria acreditar na dor que aí se aproximava. Oito e cinquenta. ‘Faltam dez minutos…tenho que entrar até lá. O comboio não espera por mim…’ diz o rapaz, fixado no cabelo da rapariga. Amara sempre o cabelo dela. Lembrava-lhe o dia ventoso que tinham passado uma vez na praia…em que ela só reclamava do vento e lhe dizia que ficava mais feia…ele sorria. Sorria sempre e dizia ‘ Meu amor, ficas linda de qualquer maneira…’ e calava-a com um beijo… e ela acreditava . E era a mais feliz com ele. Por que tinha tudo de ser diferente agora? Ela não entendia nada…a razão para o homem da sua vida se ir embora…dar por terminada a relação mais plena que ela alguma vez tinha sentido…e sabia que para ele também assim o era. Naquela estação, ela sabia-o, ela sentia-o de igual maneira. O seu olhar para ela continuava o mesmo. Até demonstrava já saudade… não entendia. Não queria entender. Ela amava-o. Ele também, apesar de lhe dizer que já não… cinco para as nove. O relógio desafiava o tempo que escasseava… a rapariga ainda tentava convencer o amado. ‘Esquece. Esquece-me. É melhor…vou para longe, tu sabes. Quero outra vida…desculpa alguma coisa…e obrigada.’, diz o rapaz a tentar por tudo disfarçar a pior dor que já tinha sentido. E estava a sentir. Um desculpa e um obrigada…palavras que significam muito…tudo isto… na sua voz… ‘ O que mudou afinal?’ pergunta ela já a chorar. ‘Tudo. Eu mudei, tu mudaste…quero outra coisa para a minha vida. Mas foste tudo na minha vida…’ ‘Que interessa se fui, se já não sou mais? ‘, o rapaz abraça-a. Com todo o respeito, com todo o mais verdadeiro amor. ‘ Meu amor, és tudo para mim. E por seres a minha vida tenho que partir. A minha vida vai acabar daqui a um mês como me disseram no hospital . Não quero que sofras. Aí é que eu morria. Deixa que me tenhas em mim com os momentos inesquecíveis que passámos…deixa eu partir e ser mais fácil…Não ver a tua dor…ficares com raiva de mim…talvez seja mais fácil para ti esqueceres-me’, pensou isto no último abraço… ‘Tenho que ir’ disse ele na sua voz meio arrastada e forte. Nove horas. O comboio preparava-se para partir. ‘Promete que dás notícias’- diz a rapariga intrigada, com raiva de amor, a chorar realmente… ‘Sempre que estiveres bem eu estou bem.’ diz o rapaz… olham-se num último olhar..ele sobe as escadas…ela segue-o.
Num último degrau…ele agarra-a e segreda-lhe ao ouvido… ‘Amo.-te para sempre’. A rapariga não teve tempo de retribuir a frase mais verdadeira. Chora, vê o comboio partir…era tarde. Nove e dois minutos. Continuava a ser tarde demais.
04 Junho, 2007
Daniela 11ºE Nº11
Um sítio para ler, escrever, pensar sobre livros, escritores, temas de atualidade, dirigido sobretudo aos alunos de Português do ensino secundário.
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24 junho 2007
Oficina de Escrita com Luísa Costa Gomes
A oficina de escrita realizada na Biblioteca com a escritora Luísa Costa Gomes teve como resultado vários contos ou esboços de contos para depois desenvolver. Aqui fica um deles. Quem quiser ver publicados os seus, envie para comentários.
A despedida
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4 comentários:
Há problemas com o correio elec.
Se quiserem mandar textos, trabalhos ou perguntas, façam-no para aqui.
Obrigada.
Bons resultados nos exames. Boas férias!
ns
Foi bom a escritora Luísa Costa Gomes ter sido exigente com as turmas porque se vê aqui pelo texto da Daniela e dos outros escritos pelos nossos colegas que vale a pena. Parabéns!
O Correio Electrónico já está sem problemas. Disponham.
Estação de comboios.Linhas paralelas, umas para cá outras para lá e, porventura, outras se cruzam. Tal vidas, histórias de amor...
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