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26 outubro 2023

Fernando Pessoa

Nostalgia da Infância
 Identidade fragmentada, por achar

Viagem, dispersão

aqui outros poemas de Fernando Pessoa.

A nível temático e de motivos poéticos há elementos recorrentes, que atravessam muitos dos poemas e marcam o conjunto da poesia ortónima:

 
Multiplicidade do "eu"/Identidade fragmentária: buscar a unidade na diversidade ** 
Consciência do absurdo da existência
** 
Tensão entre pares dicotómicos: sinceridade/fingimento, consciência/inconsciência, sonho/realidade; sentir/pensar, pensamento/vontade, esperança/desilusão
**  
Anti-sentimentalismo: intelectualização da emoção 
- "Tudo o que em mim sente/'stá pensando"; "Sentir?/Sinta quem lê!"
** 
Estados associados à "dor de viver", à inquietação metafísica: 
- solidão, 
- tédio, 
- angústia, 
- cansaço, 
- cepticismo.
**
*O 'vício' da auto-análise - o olhar para dentro; o "eu" como espectador consciente de si próprio
**
*A nostalgia da infância, como tempo irrecuperável, paraíso perdido.


Marcas da escrita
Elementos formais tradicionais: 
  •  verso geralmente curto (2 a 7 sílabas métricas), 
  • musicalidade - aliterações, transportes (dum verso para outro ou de uma estrofe para seguinte), rimas, ritmo, bem como o predomínio da quadra e da quintilha, revelam a fidelidade formal à tradição poética portuguesa
  •  predomínio de elementos formais tradicionais (verso curto; rima; proximidade, por vezes, da quadra popular ou da canção de embalar)  num conjunto de poemas que tencionava publicar sob o título de Cancioneiro, os quais se inserem numa tradição lírica com origem nos Cancioneiros Primitivos.

Linguagem aparentemente simples, mas muito expressiva, extraindo novos sentidos de vocabulário vulgar, ou alterando a sintaxe dos verbos, por ex. transformando em transitivo um verbo intransitivo; uso frequente de frases nominais; predomínio da ordem directa. Emprego criativo e expressivo dos vários tempos verbais.

Comparações, metáforas invulgares - Meu coração é um pórtico partido, antítese (expressão de opostos) e oxímoros (vários paradoxos – pôr lado a lado duas realidades completamente contraditórias ).

Uso de símbolos, por vezes tradicionais:  a água, o rio, o mar/as ondas, o vento, a brisa, a fonte, as rosas, o azul.



O principal são os próprios poemas. Leiam muitos, para apanharem permanências, continuidades, temáticas comuns.

Quem não fez ou não completou, faça os exercícios do Manual.


Ainda assim, ficam:
Antologia Crítica
Para Fernando Pessoa, recordar não é reviver, é apenas verificar com dor que fomos outra coisa cuja realidade essencial não nos é permitido recuperar. Vimos da sombra e vamos para a sombra. Só o presente é nosso, mas que é o presente senão a linha ideal que separa o passado do futuro? Assim toda a vida é fragmentária, a personalidade una é uma ilusão, não podemos apreender em nós uma constante que nos identifique. O sentimento (...) da transitoriedade das coisas conduz à negação do eu. Viver no tempo é depararmo-nos com o vazio de nós próprios: «Quem me dirá quem sou?» (…)
[Jacinto do Prado Coelho, Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa, Editorial Verbo, 1979, Ser e Conhecer-se, pág. 89]

(…) Ele tinha o seu laboratório de linguagem. Estava consciente disso, e espantava-se e maravilhava-se como se tudo se passasse fora dele. «No lado de fora de dentro», como ele próprio diria. Porque era realmente dentro dele que se produzia a obra, que se aceleravam os mecanismos que acompanham a produção de palavras, de metáforas, de versos, de poemas, de odes inteiras.
Observava-se, examinava atentamente o trabalho rigoroso do poeta, as transformações sofridas por essa matéria-prima (as sensações) de que emergia a linguagem. 
[José Gil, Fernando Pessoa ou a Metafísica das Sensações, Relógio d’Água, 1996, O Laboratório Poético, pág. 9]

Sugestões interpretativas 
"Símbolo do rio: divisão, separação, fluir da vida – percurso da vida; é a imagem permanente da divisão e evidencia a incapacidade de alterar essa situação (o rio corre sem fim – efemeridade da vida); no presente, tal como no passado e no futuro (fatalidade), o eu está condenado à divisão porque condenado ao pensamento (se fosse inconsciente não pensava e por isso não havia possibilidade de haver divisão); tristeza, angústia por não poder fazer nada em relação à divisão que há dentro de si; metáfora da casa como a vida: o seu eu é uma casa com várias divisões – fragmentação."
"Exprime um tensão entre o apelo do sonho (caracterizado pela tranquilidade, sossego, serenidade e afastamento) e o peso da realidade; a realidade fica sempre aquém do sonho e mesmo no sonho o mal permanece – [o que conduz à] frustração; conclui que a felicidade, a cura da dor de viver, de pensar, não se encontra no exterior mas no interior de cada um."

"Na primeira estrofe, o sujeito poético realça a temática da infância que não é mais do que um paraíso perdido. Isto faz com que apresente sentimentos de angústia e nostalgia (quando ouve a música, lembra-se do passado em que também a ouvia, e chora com saudades desse tempo). No primeiro verso desta estrofe, encontramos uma dupla adjetivação anteposta (“Pobre velha música!” – a infância já está longe).
A segunda estrofe é iniciada com a recordação de tempos passados, onde ouvia a música com outros sentimentos.
Na terceira estrofe, o poeta revela o desejo de regressar ao passado. [Mas é duvidoso ou hipotético que esse tenha sido um tempo de felicidade. Na realidade só existe o presente - por isso a ideia da infância é um «outrora-agora»] São utilizadas exclamações e interrogações emotivas, às quais se segue um oxímoro que traduz novamente a dúvida acerca do passado. O último verso “Fui-o outrora agora.” simboliza a fusão entre o passado e o presente."
Consultar FONTE das 'Sugestões interpretativas'

9 comentários:

Noémia Santos disse...

Qualquer dúvida sobre estes ou outros poemas, registem aqui ou apresentem nas aulas de 3ª ou 4ªf. O meo acerca dos questionários do Manual.

Noémia Santos disse...

O mesmo...em vez de "meo"!

Noémia Santos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Fernando Pessoa, nascido em Lisboa no dia 13 de junho de 1888 e falecido a 39 de novembro de 1935, filho de Joaquim de Seabra Pessoa e Maria Madalena Pinheiro, foi um poeta, escritor e tradutor.
Passou grande parte da sua infância na África do Sul, e voltou para Lisboa aos 17 anos, para entrar no curso superior de letras, mas dois anos depois saiu do curso por preferir estudar por conta própria, chegou a recusar vários bons empregos, para dedicar tempo à sua leitura e escrita, só em 1908 trabalhou como tradutor autónomo em escritórios comerciais.
A parir de 1912 começou a mostrar-se mais no mundo literário, como crítico na revista, "Águia", em 1925 liderou o grupo mentor da revista "Orpheu"
Das quatro obras que publicou em vida, três são na língua inglesa e apenas uma em língua portuguesa, entitulada Mensagem.
Pessoa escreveu sob diversas personalidades, heterónimos, por isso se diz que foi vários poetas ao mesmo tempo, Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Bernardo Soares, Álvaro de Campos.
Carlos Dantas

Anónimo disse...

Onde está "1925" lê-se 1915

Unknown disse...

E onde está "39 de novembro" lê-se 30 de novembro

Lucas Duarte disse...

Lembro-me de passar grande parte da minha infância a brincar e a construir Legos. No Natal costumava pedir aos meus pais um Lego, e passava uma , duas , três horas de volta do Lego a construi-lo , e muitas mais horas a brincar com ele. Apesar de gostar muito dos Legos com as peças pequeninas e com manual de instruções, era outro Lego que mais me fascinava , tinha umas peças maiores e não tinha manual de instruções , algo que me permitia construir o que quisesse , passei horas a fio a construir tudo e mais alguma coisa: naves espaciais,castelos, piramides,animais, etc.
Recordo-me que sempre que acabava uma construção fazia questão de mostra-la a todos lá em casa, mas nunca deixava ninguém mexer . A construção nunca durava mais de um dia pois após algum tempo destruía tudo e começava uma nova construção.

Noémia Santos disse...

Carlos e Lucas, obrigada pelis vossos contributos.
No caso do texto pessoal, juntá-lo-ei à imagem, quando publicar na pág. principal.

João G. Matias (12ºA) disse...

Para Fernando Pessoa, recordar não é viver, apenas o presente é nosso e assim o passado é uma sombra e o futuro é incerto. Assim a personalidade una é uma ilusão, não existe nada constante que nos distinga. Viver é, para Pessoa, depararmo-nos com o vazio do “eu”.


F. Pessoa tinha uma linguagem própria maravilhando-se com esta e com o que o rodeava. Era dentro dele que se produzia a obra, “de fora para dentro”.
Observava o seu processo e as transformações que emergiam no seu trabalho através da linguagem.