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26 abril 2018

Poetas contemporâneos - Torga

Miguel Torga nasceu em Vila Real, a 12 de agosto de 1907 e este nome é pseudónimo literário de Adolfo Correia Rocha. É autor de uma extensa e diversificada obra, compreendendo poesia, diários, memórias, ficção (contos e romances), teatro, entre outros; também exerceu medicina, em Coimbra. Miguel Torga foi um dos mais influentes poetas e escritores do século XX, sendo-lhe atribuídos vários prémios, como o Prémio Internacional de Poesia e o Prémio Camões em 1989. Faleceu em 1995, em Coimbra. 




Sísifo
Recomeça…
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.

                                            Miguel Torga, Diário XIII

Leitura 1. (Carolina e Bruno)

Sísifo, segundo o mito, foi um homem condenado a um duro castigo, pior que a morte: teria de empurrar uma pedra até ao cimo de um monte, caindo a pedra sempre que o topo era atingido. E este processo era incessantemente repetido até à eternidade.
Há uma aproximação ao mito: o sujeito poético motiva para o cumprimento de um objetivo, incentivando-nos a não desistir e a sermos ambiciosos, dando o exemplo de uma caminhada, como metáfora da existência: “e os passos que deres/Nesse caminho duro (...)“
Mais adiante, é sugerido que nunca nos deixemos tomar por vencidos, apesar da nossa natureza - apesar de essa vontade ser uma ilusão causada pela maneira de ser do homem “Vai colhendo/Ilusões sucessivas no pomar". Associa a natureza humana à insanável contradição, expressa pelo oxímoro - "Só é tua a loucura/Onde, com lucidez, te reconheças", loucura enquanto ambição, sonho; lucidez associada ao «reconhecimento», à consciência.

Leitura 2. (Leonardo e João)
Através da referência ao mito de Sísifo, Miguel Torga realizou este poema motivacional onde defende que cada um deve escolher o seu caminho, que não o deve deixar a meio por mais que ele seja difícil e que não nos podemos esquecer do nosso objetivo.
O poema termina com o poeta a lembrar-nos da nossa loucura, a mesma loucura com que Fernando Pessoa caracterizou D. Sebastião em Mensagem. Loucura essa que remete para a ambição do Homem em alcançar os objetivos/sonhos.


Prospecção

Não são pepitas de oiro que procuro.
Oiro dentro de mim, terra singela!
Busco apenas aquela
Universal riqueza
Do homem que revolve a solidão:
O tesoiro sagrado
De nenhuma certeza,
Soterrado
Por mil certezas de aluvião.

Cavo,
Lavo,
Peneiro,
Mas só quero a fortuna
De me encontrar.
Poeta antes dos versos
E sede antes da fonte.
Puro como um deserto.
Inteiramente nu e descoberto

                                            Miguel Torga

Inicialmente, o poeta apresenta-nos as suas intenções: procura de um “tesoiro sagrado”, ou seja, a de  si próprio. No 6º verso, remete para a solidão, no sentido em que o sujeito poético não se conforma com a solidão pré-destinada ao ser humano, a qual o faz sentir-se num vazio, sem ainda se ter encontrado.
Em seguida, o poeta específica essa busca, contando as etapas/o trabalho árduo que ele deve ultrapassar para se encontrar - «puro como um deserto» utilizando a poesia como meio para o conseguir, pois fazer poesia requer a mesma busca intensa de não copiar ou seguir modelos impostos, mas descobrir o seu próprio modelo.
Tal como o nome indica, este poema apresenta-nos a busca minuciosa e com método, efetuada pelo sujeito poético com o objetivo de se encontrar a si próprio: a sua própria humanidade.
 (completar)

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