Ouçamos o poeta e tradutor Vasco Graça Moura, um dos grandes leitores de "Os Lusíadas", obra que escolheu como o LIVRO DA VIDA
OUTRAS LEITURAS DE O VELHO DO RESTELO
«Na despedida dos marinheiros na praia do Restelo, um velho “de aspecto
venerando” criticava a aventura de buscar o caminho marítimo para as
Índias, chamando a atenção para os perigos que rondavam as empreitadas.
(...)
Mais modernamente, outras visões sobre o Velho do Restelo têm predominado, ligando sua visão crítica ao entendimento de que as novas conquistas na verdade eram movidas mais pela cobiça, e trariam mais prejuízos a Portugal e seu povo do que glórias e benefícios. “Ó glória de mandar/Ó vã cobiça/ A que novos desastres determinas/De levar este reino e estas gentes?”.
O historiador e escritor Alberto da Costa e Silva, membro da Academia Brasileira de Letras, lembra a visão crítica de António Sérgio, que considera o maior intelectual português do século 20, que via o Velho do Restelo não como umas representação do passado, mas do futuro.
Outra académica, Cleonice Berardinelli, considerada a maior especialista em literatura portuguesa, diz que (...) chegou à conclusão de que o inconsciente coletivo da época, que refletia “os medos, as mulheres que ficavam sozinhas, as famílias abandonadas, as lavouras abandonadas por que os homens iam em busca daquele caminho marítimo para as Índias” está retratado muito bem em Os Lusíadas.
Para ela, o Velho do Restelo “é uma figura extraordinária, moderna dentro da criação da epopeia”. Camões, na sua avaliação, “tem uma virtude que o faz ficar nas alturas da criação da épica”, ao conceber uma personagem como o Velho do Restelo, “um homem apaixonado pela Pátria que quer celebrar, até que se dá conta de que ela está metida no gosto da cobiça e na rudeza de uma austera, apagada e vil tristeza”.
Cleonice Berardinelli cita “um grande da literatura portuguesa e um grande pensador de nosso tempo”, o professor e filósofo Eduardo Lourenço, que avalia que Camões nos Lusíadas “começa com uma épica e termina com um réquiem”. Cleonice diz que “era isso que o Velho do Restelo estava lá para lembrar, era uma espécie de consciência coletiva”.
Já o embaixador Alberto da Costa e Silva recorre ao pensador português já falecido António Sérgio, que ressalta que “Camões canta o valor dos portugueses, sobretudo na grande empresa dos descobrimentos e conquistas. Mas por outro lado, dos trechos camonianos mais sentidos é a parte dos Lusíadas em que o Velho do Restelo, com tanta eloquência, se ergue a condenar o próprio feito que sua epopeia celebrava”.
O intelectual português lembra que a simpatia de Camões pelo Velho do Restelo “é evidente”, pois colocou “a crítica da empresa na boca dos mais avisado, do mais filosófico, do mais venerável dos seus heróis”.
Alberto da Costa e Silva lembra que o Velho do Restelo vai dizendo várias coisas que realmente sucederam em Portugal: o esvaziamento demográfico do país devido à ida das pessoas para o Oriente em busca da riqueza fácil; o sacrifício de gerações que acabaram por enriquecer os holandeses e os ingleses; a decadência da agricultura e da manufatura portuguesas.
Como se vê, a oposição pode bem representar uma visão crítica do modelo instalado (...)»
Mais modernamente, outras visões sobre o Velho do Restelo têm predominado, ligando sua visão crítica ao entendimento de que as novas conquistas na verdade eram movidas mais pela cobiça, e trariam mais prejuízos a Portugal e seu povo do que glórias e benefícios. “Ó glória de mandar/Ó vã cobiça/ A que novos desastres determinas/De levar este reino e estas gentes?”.
O historiador e escritor Alberto da Costa e Silva, membro da Academia Brasileira de Letras, lembra a visão crítica de António Sérgio, que considera o maior intelectual português do século 20, que via o Velho do Restelo não como umas representação do passado, mas do futuro.
Outra académica, Cleonice Berardinelli, considerada a maior especialista em literatura portuguesa, diz que (...) chegou à conclusão de que o inconsciente coletivo da época, que refletia “os medos, as mulheres que ficavam sozinhas, as famílias abandonadas, as lavouras abandonadas por que os homens iam em busca daquele caminho marítimo para as Índias” está retratado muito bem em Os Lusíadas.
Para ela, o Velho do Restelo “é uma figura extraordinária, moderna dentro da criação da epopeia”. Camões, na sua avaliação, “tem uma virtude que o faz ficar nas alturas da criação da épica”, ao conceber uma personagem como o Velho do Restelo, “um homem apaixonado pela Pátria que quer celebrar, até que se dá conta de que ela está metida no gosto da cobiça e na rudeza de uma austera, apagada e vil tristeza”.
Cleonice Berardinelli cita “um grande da literatura portuguesa e um grande pensador de nosso tempo”, o professor e filósofo Eduardo Lourenço, que avalia que Camões nos Lusíadas “começa com uma épica e termina com um réquiem”. Cleonice diz que “era isso que o Velho do Restelo estava lá para lembrar, era uma espécie de consciência coletiva”.
Já o embaixador Alberto da Costa e Silva recorre ao pensador português já falecido António Sérgio, que ressalta que “Camões canta o valor dos portugueses, sobretudo na grande empresa dos descobrimentos e conquistas. Mas por outro lado, dos trechos camonianos mais sentidos é a parte dos Lusíadas em que o Velho do Restelo, com tanta eloquência, se ergue a condenar o próprio feito que sua epopeia celebrava”.
O intelectual português lembra que a simpatia de Camões pelo Velho do Restelo “é evidente”, pois colocou “a crítica da empresa na boca dos mais avisado, do mais filosófico, do mais venerável dos seus heróis”.
Alberto da Costa e Silva lembra que o Velho do Restelo vai dizendo várias coisas que realmente sucederam em Portugal: o esvaziamento demográfico do país devido à ida das pessoas para o Oriente em busca da riqueza fácil; o sacrifício de gerações que acabaram por enriquecer os holandeses e os ingleses; a decadência da agricultura e da manufatura portuguesas.
Como se vê, a oposição pode bem representar uma visão crítica do modelo instalado (...)»
In Jornal GLOBO http://blogs.oglobo.globo.com/merval-pereira/post/visoes-camonianas-500095.html
NOTA - as palavras assinaladas foram alteradas para português europeu.
Aguardo os vosso textos sobre a DEDICATÓRIA ou outros
5 comentários:
Os TEXTOS SOBRE A DEDICATÓRIA podem ser deixados aqui. Depois corrijo e publico.
Síntese da Dedicatória 100-120 palavras
Na dedicatória Camões dedica o que irá cantar ao rei D. Sebastião a quem louva por ser a segurança do reino.
A descendência do rei de uma árvore genealógica grandiosa e cristã permite que Camões afirma que D. Sebastião será, um dia, capaz de muitos feitos e que lutará contra os mouros tal como os seus antepassados. O poeta na estrofe 8 realça a grandiosidade de Portugal por ter colónias por todo o mundo. O poeta refere mais tarde que a sua epopeia irá contar os feitos gloriosos de Portugal e que o rei ver-se-á tão engrandecido com tal obra que não saberá se irá preferir "ser do mundo Rei, se de tal gente" (=os portugueses). Por fim Camões aconselha o rei a tomar rédeas do seu reino para que este continue no auge.
Liliana Gomes
Síntese do texto de Vasco Graça Moura, in "O Correio", Junho de 1998 (adaptado)
Praticamente desconhece-se quase tudo sobre a sua vida até partir para o Oriente, todavia há factos biográficos que podem deduzir-se dos seus textos.
Camões viveu na fase terminal da expansão portuguesa, a do desmoronamento político do seu país.
Com as navegações, os homens acabavam de adquirir novas dimensões, muitas vezes contraditórias, para o pensamento, e novos horizontes, muitas vezes alucinantes, para as suas andanças, o que exigia a mistura entre vontade e audácia, especulação e riqueza, viagem e perigo, livre arbítrio e fatalismo. Tudo isto os levava a viver dramaticamente uma época em que os portugueses mais esclarecidos viam a aventura portuguesa como uma forma de expansão europeia sob o denominador comum da crença nas capacidades humanas. Foi sobre este pano de fundo que o poeta viveu e escreveu a sua obra épica e lírica, sendo por isso considerado o poeta de um sistema de valores que eram os da cultura e da civilização europeia do seu tempo.
Em Camões assiste-se ao movimento contraditório entre uma conceção do homem como «bicho da terra tao pequeno» e a grandeza das suas realizações à escala do Universo, entre o microcosmo frágil que pode vencer os obstáculos e tudo o que pode deitá-lo a perder se se torna o joguete das forças obscuras da natureza, ele próprio viveu e exprimiu o preço humano e material dos descobrimentos.
É por isso que se se procurarmos n’Os Lusíadas vestígios da sua experiência pessoal, facilmente os encontramos nalguns planos principais.
Toda a obra de Camões põe em evidência as contradições do seu ser.
Daniela Francisco, Liliana Gomes e Mariana Policarpo 12A
Na Dedicatória, o narrador começa por louvar o “tenro e novo” rei - D.Sebastião, detentor de uma ilustre descendência - pelo que representa para a independência de Portugal e para a expansão do cristianismo.
Numa segunda parte, Camões pede ao Rei que ponha os olhos na sua obra na qual verá engrandecidos os gloriosos feitos dos portugueses, de verdadeiros heróis nacionais como D.Afonso Henriques (“o primeiro Afonso, cuja lança/Escura faz qualquer estranha glória”), Duarte Pacheco Pereira (“um Pacheco fortíssimo”), D.Francisco de Almeida e o seu filho D. Lourenço de Almeida (“os temidos Almeidas”), etc.
Para finalizar, o poeta chama a atenção do jovem rei para que este tome as rédeas do grande império de que é Rei e dê continuidade aos feitos dos seus antepassados.
Inês Santos, 12ºA
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