Os Lusíadas - exaltação e consciência crítica

Mas pior do que a fala do Velho do Restelo é a conclusão da obra, terminando o canto que se reclama de «puras verdades» com uma recompensa imaginária. Enquanto toda a acção narrada se passa no plano real histórico, o prémio consiste num sonho. Um sonho maravilhoso... mas um sonho. ..
Afinal a apoteose encerra um fundo pessimista, confessa que o poeta não acredita na recompensa real dos heróis, não confia na justiça divina. Celebra um povo, mas ao mesmo tempo revela a incapacidade que esse povo tem em saber reconhecer os seus filhos mais dignos. É esta bipolaridade, esta distância entre o épico e o anti-épico, entre o ser e o parecer que atinge o cerne da obra ou o seu equilíbrio, pondo em causa a sua finalidade épica que lhe esteve na origem.
Tudo isto é a expressão de um mundo em crise. No renascimento português, os valores medievais, que se mantêm até muito tarde, encontram-se com os da Contra-Reforma, assumida de forma rigorosa e severa, construindo-se o poema neste universo oscilante, entre valores contraditórios.
Maria Vitalina leal de Matos, Tópicos para Uma Leitura de Os Lusíadas, Editorial Verbo, Lisboa, 2003
Reflexões presentes na obra:
. a insegurança e as falsidades da vida;
. o desânimo do poeta face ao desprezo dos portugueses pelas letras, e em especial pela poesia;
. o valor da honra e da glória;
. o elogio à tenacidade portuguesa;
. a sua infelicidade;
. a crítica aos seus opressores;
. o poder do "vil metal" - ouro;
. o significado e o valor da imortalidade.
View more presentations from Dina Baptista
Sem comentários:
Enviar um comentário