"Ainda hoje podemos reviver o quotidiano de bordo da carreira da Índia,

É muito interessante recordar, hoje, com que indescritíveis dificuldades era feita essa longa e penosa viagem para a Índia.
Em seguida, iniciava-se uma dura e arriscadíssima viagem. Tendo partido de Lisboa pela Primavera, e conforme as condições atmosféricas, só chegavam a Goa lá para o fim do ano. As dificuldades ou provações eram incontáveis: fome, sede, frio, calor, desconforto, promiscuidade, doenças, intempéries, ataques de piratas, naufrágios, etc..
[...] Os navegantes enfrentavam ora o tórrido calor equatorial, ora o gélido frio do sul, chegando a nevar nas embarcações. Noutros momentos, eram surpreendidos por atemorizadores fenómenos naturais ou perigosas coisas do mar, como o fogo de Santelmo ou a tromba marítima; ou ainda por terríveis tempestades e prolongadas calmarias equatoriais: Sofrendo tempestades e ondas cruas,/ Vencendo os torpes frios no regaço/ Do Sul, e regiões de abrigo nuas,/ Engolindo o corrupto mantimento/ Temperado com um árduo sofrimento.
Como descreve Camões, que também viveu essa viagem, um dos grandes problemas era a comida e a bebida, pois durante a viagem os racionados géneros alimentares degradavam-se, ou escasseava a preciosa água potável. Para minorar estas privações, as naus aportavam em alguns lugares para fazer a aguada. Como se não bastasse, apareciam as epidemias e o temível mal das gengivas, o escorbuto, a doença crua e feia.
Além dos actos de culto religioso quotidiano, para obviar à dureza da vida a bordo e à monotonia dos infindáveis dias, tinham lugar algumas distracções, como jogos, representações teatrais (comédias e autos religiosos), e até fingidas corridas de touros.
Foi esta heróica Viagem para a Índia, símbolo maior da nossa aventura marítima, que Camões celebrou n'Os Lusíadas como o ponto culminante de toda a História portuguesa. Com a descoberta do caminho marítimo para a Índia, esta gente ousada unia o Atlântico e o Índico, o Ocidente e o Oriente, a Europa e a Ásia. Ultrapassando medos e perigos vários, o Homem desmistificava o Mar Tenebroso. Os portugueses elevavam-se assim à categoria de heróis lendários, dando um passo de gigante na Expansão ultramarina e abrindo novos mundos ao Mundo."
IMAGEM: Nau S. Gabriel da primeira armada de Vasco da Gama, navegando com o vento na popa. Em http://www.marinha.pt/
CRONOLOGIA
1495 Out.27 D. Manuel é aclamado e jurado rei em Alcácer do Sal.
1496 Disposição régia ordenando a expulsão dos judeus e mouros que não quisessem baptizar-se.
1497 Julho - A armada de Vasco da Gama sai de Lisboa a caminho da Índia.
1498 Maio - Vasco da Gama chega a Calecut.
Agosto - Vasco da Gama inicia a viagem de regresso a Lisboa.
1499 Agosto - Vasco da Gama chega a Lisboa.
1500 Abr.24 Pedro Alvares Cabral desembarca no Brasil.
1501 Expedição de reconhecimento ao Brasil.
Introdução do milho em Portugal.
É lançada a primeira pedra do Mosteiro dos Jerónimos.
1503-1504 Referências a navios franceses de comércio e de corso no Brasil.
1505-1508 Duarte Pacheco Pereira, Esmeraldo de Situ Orbis.
1506 Movimentações antijudaicas em Lisboa (cerca de 3000 mortos).
Gil Vicente, Auto da Índia.
1514-1516 Mercadores portugueses comerciam na China.
Gil Vicente, Auto da Barca do Inferno.
1519 Set. A armada de Fernão de Magalhães inicia a primeira viagem de circum-navegação.
1521 Morre D. Manuel I.
Início do reinado de D. João III.
1524 Nomeação de Vasco da Gama como vice-rei da Índia.
Dez.24 Morre Vasco da Gama.
Ano provável do nascimento de Luís de Camões.
In: António Moreira, Alcino Pedrosa – As grandes datas da História de Portugal.
Lisboa: Editorial Notícias, 1993.

1907/1908, óleo sobre tela, 238 x 198 cm
Sala Infante D. Henrique, Museu Militar, Lisboa
Atingiria as ilhas de Cabo Verde a 27 de Julho, após o que a frota faria uma longa inflexão em arco, para Sudoeste, afastando-se da costa africana, antes de chegar a Santa Helena (a 8 de Novembro); o Cabo da Boa Esperança seria dobrado a 18 de Novembro de 1497.
Depois da passagem por Moçambique (no início de Março de 1498), Mombaça e Melinde (Abril) – onde foi contratado um piloto muçulmano, conhecedor das rotas de navegação no Índico –, a frota comandada por Vasco da Gama atingiria a Índia (Calecute) a 20 de Maio de 1498. Regressaria a Lisboa, onde foi recebido em triunfo, no final de Agosto, já depois de o seu irmão ter entretanto falecido em escala nos Açores.
Partiria para a Índia pela segunda vez a 10 de Fevereiro de 1502, liderando uma poderosa armada, de 20 navios; viria a instalar duas feitorias em Cochim e Cananor, assim inaugurando o império português no Oriente. Regressaria ao Reino, chegando a Lisboa a 10 de Novembro de 1503.
Como recompensa pelos seus feitos, Vasco da Gama receberia em doação real a vila de Sines, para além de uma tença anual de trezentos mil réis. Em 1519, ser-lhe-ia ainda atribuído o título de Conde da Vidigueira.
Já sob as ordens do Rei D. João III, empreenderia ainda uma terceira expedição à Índia, agora na qualidade de (segundo) Vice-Rei da Índia, partindo a 9 de Abril de 1524.
Idoso e enfermo, viria a falecer em Cochim, na Índia, três meses depois da chegada, a 25 de Dezembro de 1524, onde começaria por ser sepultado. Depois de transladado para Vidigueira, repousa – desde o século XIX – no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa.
- “História de Portugal – Dicionário de Personalidades” (coordenação de José Hermano Saraiva), edição QuidNovi, 2004). Acedido em 23 de Janeiro de 2008 em http://www.vidaslusofonas.pt
E tu?
- Pensas que é importante conhecer estas figuras, estes factos, este texto?
- Achas que a escola os dá a conhecer capazmente?
- Consideras este período dos Descobrimentos uma época gloriosa ou o início duma longa decadência?
- Pensas que algumas das críticas feitas por Camões ainda têm actualidade? Quais?
- Consegues rever-te no retrato de Português amoroso, destemido, aventureiro? Ou achas que temos mais o lado materialista, invejoso e pouco dado às artes que Camões também denuncia?
Depois do estudo de Os Lusíadas (finais dos cantos), publica um Comentário sobre um destes pontos.