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24 junho 2007

Oficina de Escrita com Luísa Costa Gomes

A oficina de escrita realizada na Biblioteca com a escritora Luísa Costa Gomes teve como resultado vários contos ou esboços de contos para depois desenvolver. Aqui fica um deles. Quem quiser ver publicados os seus, envie para comentários.



A despedida

O relógio da Estação marcava oito horas e quarenta e seis. Estava uma manhã que prometia um dia de Sol, mas ainda assim uma brisa gelada…parecia que adivinhava o que se passava com aquelas duas pessoas. Muitos silêncios que diziam tudo nesta conversa…‘Tens a certeza?’ –perguntou ela. Era sempre assim, meio insegura…tentando por tudo que ele voltasse atrás também. Ele olha-lhe com todo o carinho e diz - ‘Desta vez não tenho certeza de nada...mas que posso fazer?’.
Ela baixa a cabeça. Não queria acreditar na dor que aí se aproximava. Oito e cinquenta. ‘Faltam dez minutos…tenho que entrar até lá. O comboio não espera por mim…’ diz o rapaz, fixado no cabelo da rapariga. Amara sempre o cabelo dela. Lembrava-lhe o dia ventoso que tinham passado uma vez na praia…em que ela só reclamava do vento e lhe dizia que ficava mais feia…ele sorria. Sorria sempre e dizia ‘ Meu amor, ficas linda de qualquer maneira…’ e calava-a com um beijo… e ela acreditava . E era a mais feliz com ele. Por que tinha tudo de ser diferente agora? Ela não entendia nada…a razão para o homem da sua vida se ir embora…dar por terminada a relação mais plena que ela alguma vez tinha sentido…e sabia que para ele também assim o era. Naquela estação, ela sabia-o, ela sentia-o de igual maneira. O seu olhar para ela continuava o mesmo. Até demonstrava já saudade… não entendia. Não queria entender. Ela amava-o. Ele também, apesar de lhe dizer que já não… cinco para as nove. O relógio desafiava o tempo que escasseava… a rapariga ainda tentava convencer o amado. ‘Esquece. Esquece-me. É melhor…vou para longe, tu sabes. Quero outra vida…desculpa alguma coisa…e obrigada.’, diz o rapaz a tentar por tudo disfarçar a pior dor que já tinha sentido. E estava a sentir. Um desculpa e um obrigada…palavras que significam muito…tudo isto… na sua voz… ‘ O que mudou afinal?’ pergunta ela já a chorar. ‘Tudo. Eu mudei, tu mudaste…quero outra coisa para a minha vida. Mas foste tudo na minha vida…’ ‘Que interessa se fui, se já não sou mais? ‘, o rapaz abraça-a. Com todo o respeito, com todo o mais verdadeiro amor. ‘ Meu amor, és tudo para mim. E por seres a minha vida tenho que partir. A minha vida vai acabar daqui a um mês como me disseram no hospital . Não quero que sofras. Aí é que eu morria. Deixa que me tenhas em mim com os momentos inesquecíveis que passámos…deixa eu partir e ser mais fácil…Não ver a tua dor…ficares com raiva de mim…talvez seja mais fácil para ti esqueceres-me’, pensou isto no último abraço… ‘Tenho que ir’ disse ele na sua voz meio arrastada e forte. Nove horas. O comboio preparava-se para partir. ‘Promete que dás notícias’- diz a rapariga intrigada, com raiva de amor, a chorar realmente… ‘Sempre que estiveres bem eu estou bem.’ diz o rapaz… olham-se num último olhar..ele sobe as escadas…ela segue-o.
Num último degrau…ele agarra-a e segreda-lhe ao ouvido… ‘Amo.-te para sempre’. A rapariga não teve tempo de retribuir a frase mais verdadeira. Chora, vê o comboio partir…era tarde. Nove e dois minutos. Continuava a ser tarde demais.

04 Junho, 2007
Daniela 11ºE Nº11

12 junho 2007

"À luz do sol, o intenso colorista"

11ºE e H
"Como destacam, vivas, certas cores,
Na vida externa cheia de alegrias
Horas, vozes, locais, fisionomias"
11º B

Como depois vimos em aula, Cesário Verde não escreveu só versos sombrios e preocupados. Também há muita luz e beleza nos seus poemas.
11º E e H
"As árvores despidas, sóbrias cores"

11º B
"Faz frio. Mas, depois de uns dias de aguaceiros,/Vibra uma imensa claridade crua."

Afinal, o desejo do poeta foi sempre de exigência e perfeição.


"Se eu não morresse nunca! E eternamente
Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas!"
11º E e H

Arrisquei escolher, das fotografias feitas pelas três turmas, as que traduzem este lado do poeta. O 11º B, embora não tenha estado na Oficina da biblioteca, também realizou actividades semelhantes. Estou muito contente pelo vosso trabalho. Pensar que em menos de 10 minutos conseguiram olhar de modo tão atento o vosso/nosso real quotidiano, a nossa escola e sua envolvente, significa que a lição e o exemplo de Cesário Verde são muito estimulantes.

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Versos de Cesário Verde retirados dos poemas: "Cristalizações", "Num Bairro Moderno" e "O Sentimento dum Ocidental".
Edição utilizada: Livros Horizonte (1999).
Fotografias instantâneas (tipo poloroid): 11º B, 11º E e 11º H.
Contexto de realização das fotografias (30, no total, nem todas reproduzidas): Oficina de Poesia, Biblioteca da E.S.Henriques Nogueira (11ºs E e H); sala de aula(11ºB).

09 junho 2007

Cesário Verde (1855-1886)

"Lavo, refresco, limpo os meus sentidos,
E tangem-me, excitados, sacudidos,
O tacto, a vista, o ouvido, o gosto, o ofacto!"

Na Oficina de Poesia depois do exercício dos sentidos, pegámos em três máquinas poloroid e partimos por breves minutos à descoberta do nosso "real quotidiano". À maneira de Cesário Verde, procurámos captar o que nos rodeia, que é o que nos preocupa.

Depois escolhemos versos do poeta ou frases criadas por nós e juntámos às fotografias tiradas pelas duas turmas, numa exposição na Biblioteca. Aqui fica uma pequena mostra desse trabalho.

"A mim, o que me rodeia é o que me preocupa" disse Cesário Verde numa carta, acrescentando"Eu sou frio, pausado, calculista". São duas afirmações estranhas para um poeta, ou melhor, para a nossa ideia feita de poeta.

Todos os temas, todas as palavras ganham direito à poesia com Cesário Verde: ruas, becos, profissões rudes, pobreza; luminosas ou duras as imagens do real inspiram e, às vezes, incomodam o poeta.


A civilização a céu aberto (Carlos)

"Embrenho-me, a cismar, por boqueirões, por becos"

"Mas se vivemos os emparedados,
Sem árvores, no vale escuro das muralhas"



(continua)

04 junho 2007

Oficina da Poesia


A poesia é para cheirar? É. E também para ver e ouvir e sentir e saborear.


Como prometido, aqui fica o registo do trabalho das turmas 11º E e H na Oficina de Poesia, na Biblioteca da escola, onde reflectimos sobre os nossos conceitos e preconceitos acerca da poesia e da palavra poética e espreitámos o universo mental e artístico de Cesário Verde.


Ana Carolina, 11º H, na prova do olfacto.


Depois das várias provas dirigidas aos sentidos, conhecemos um pouco do mundo em que se moveu o poeta. Deixo aqui algumas imagens (da colecção de postais ilustrados de Lisboa) que vimos e comentámos.

Leiteiro nas ruas da capital
A zona portuária e comercial do Cais do Sodré/Praça da Ribeira
Vendedeiras de peixe

Nas descargas, na zona portuária do Tejo

Esta oficina foi traduzida para língua gestual pela tradutora que acompanha o 11º H, Dra. Teresa Vasconcelos.

A próxima edição será para criar em aula e dará conta dos trabalhos produzidos.